Defensor faz bom uso do 4-4-2 britânico, principalmente do sistema de marcação |
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Depois de anos restrito ao futebol britânico, onde surgiu e se consagrou, o 4-4-2 com duas linhas de quatro jogadores e marcação por zona enfim começa a render bons resultados no futebol Sul-Americano. Diversos exemplos esparsos pipocavam no continente desde a temporada passada, mas ontem o Defensor conseguiu - talvez - o melhor resultado recente do sistema, eliminando o Boca Juniors da Copa Libertadores da América.
O Defensor enfrentou o Boca se utilizando do 4-4-2 britânico. Como estratégia, adiantou a linha defensiva e recuou a linha de meio-campo, compactando a equipe e restringindo o espaço de movimentação no setor para Riquelme, Vargas e Chávez. E com a marcação por zona exercendo pressão sobre a bola, não sobre o adversário, o time uruguaio conseguiu ainda impedir os avanços pelos lados, com Morel na esquerda ou Palacio na direita.
Frente a um adversário compactado, desarticulando-se em função da escassez de recursos dentro de um 4-4-2 em losango que parece esgotado desde a saída de Dátolo, o Boca ficou distante da área. E, na Bombonera, simplificou a estratégia apelando à ligação direta (vulgo chuveirinho) para a área apostando no abafa, e torcendo para Palermo sacar um coelho da cartola, o que não aconteceu.
A principal virtude do Defensor para obter sucesso nesta partida foi a utilização inteligente do sistema de marcação do 4-4-2 britânico - além, claro, da obediência tática dos jogadores que sempre mantiveram as duas linhas compactas e estruturadas. Como funciona a marcação neste sistema tático? Ela é por zona, mas exercendo pressão sobre a bola, e sempre com cobertura. Vejamos:
Vou utilizar como exemplo o lado direito: quando Morel Rodríguez avançava aberto, ou em diagonais, era apenas "monitorado" pelos jogadores, que mantinham a posição. Somente quando Morel recebia a bola dentro do setor de Diego Ferreira, sofria a marcação do camisa 16 uruguaio. Quando Morel passava a bola, Diego Ferreira retomava a posição como meia-extremo na direita. Quem está sem a bola é monitorado na visão periférica. Somente quem tem a bola sofre pressão, do responsável pela zona onde o adversário entrou.
Ou seja: a pressão é sempre exercida quando a bola ingressa na zona delimitada para cada jogador. Ninguém acompanha, fazendo marcação individual (pressão no jogador), para não desfigurar as linhas, e abrir espaço. A cobertura é realizada pelo homem da zona consecutivamente atrás (no caso de Diego Ferreira, pelo lateral-direito Pablo Pintos.
Apenas os dois jogadores de frente não marcam por zona. A função, sem a bola, de Diego de Souza e Vera é fazer meia-pressão na saída de bola, a partir da linha de meio-campo para trás, combatendo o volante ou os apoiadores que faziam o primeiro passe. É exatamente este o sistema de marcação utilizado por Manchester United, Liverpool, ou qualquer time inglês que tenha o 4-4-2 britânico como sistema tático preferencial.
Com a posse, a ordem é avançar a linha de meio-campo em velocidade, abrindo a bola para os lados. Os volantes centralizados adiantam-se apenas para pegar a segunda bola. Na teoria, quem precisa encostar no ataque são os meias-extremos - no caso do Defensor, Marchant pela esquerda, e Diego Ferreira na direita. Mas ontem o técnico uruguaio fez uma variação tática interessante.
Na direita, quem apoiava era o lateral Pablo Pintos. Ao contrário de ser um defensor pelo lado (lateral-base, como fala o técnico Tite), ele teve comportamento absolutamente ofensivo, criando as melhores oportunidades. Quando ele passava, o "winger" Diego Ferreira recuava para a primeira linha. Na esquerda, nenhuma mudança: o lateral Cabrera fez a base, e Marchant apoiou com muita qualidade, aproximando-se do canhoto Diego de Souza para segurar a posse de bola.
Pablo Pintos foi o melhor em campo (fiquem de olho nesse lateral), mas Diego de Souza justificou o interesse reincidente do Grêmio em contratá-lo, sem sucesso. Diego tem qualidade e empenho para jogar por ele e pelo limitado Vera. E consegue cumprir diversas táticas individuais (apoio ao ataque, conclusão, posicionamento e comportamento defensivo, articulação...).
Nesta Libertadores, eu já tinha assistido a jogos do Defensor fora de casa contra São Paulo e Independiente Medellin. Em ambos, eles atuaram no 4-1-4-1, sem brilho. Foi a primeira vez que os vi no 4-4-2 britânico com marcação por zona e pressão sobre a bola (talvez tenham se utilizado deste sistema outras vezes). Na próxima fase, vão enfrentar com bastante moral o Estudiantes, que também joga em duas linhas, embora com diferenças de movimentação com a bola - confiram aqui a análise do time de La Plata. Será um belíssimo duelo.
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