Autuori já começa a pensar no 4-4-2, adiantando Tcheco e Souza, e tentando fazer o time do Grêmio ter, enfim, uma articulação consistente no meio-campo. |
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Hoje assisti à entrevista de Paulo Autuori ao programa Arena, da Sportv. Ao vivo, o novo treinador do Grêmio deu uma verdadeira aula de teoria tática. Seria interessante reproduzir o discurso do técnico gremista a alguns treinadores brasileiros contaminados pela epidemia do 3-5-2 com zagueiros fixos, alas lateralizados e marcação por função. Pode ser que na prática ele não consiga confirmar todos os conceitos que defende, mas o pensamento de Autuori sobre o futebol é absolutamente correto.
Autuori atribui à utilização do 3-5-2 à brasileira a carência de bons laterais e de meias ofensivos no Brasil. Como ele apropriadamente exemplifica, no 3-5-2 brasileiro os alas marcam "lá em cima", e obrigam os meias a recuar demais (para cobertura e para buscar jogo). Mas vou parar de falar. Leiam o que ele disse exatamente:
– É uma descaracterização do futebol brasileiro. Nada contra o 3-5-2, mas hoje se vê a carência de bons laterais e de meias ofensivos. Hoje os meias voltam aqui atrás para buscar a bola, os alas já estão lá na frente, e isso compromete a articulação. Não existem mais os triângulos que sempre caracterizaram o futebol brasileiro, e que no futebol espanhol são chamados de pequenas parcerias – completa.
Aplausos. Isso é o óbvio de teoria tática inteligente, ignorado - por exemplo - por Celso Roth e Marcelo Rospide no Grêmio. Afinal, com a marcação por função que eu venho criticando há meses aqui no Preleção, os alas mantêm-se presos aos laterais adversários, pelos lados, alugando o próprio meio-campo, que fica apenas com três jogadores. E, quando um time aluga o seu meio, obriga os seus articuladores a recuar demais, tanto para marcar, como também para buscar jogo.
É fácil recorrer a imagens próximas. No último Gre-Nal, por exemplo. Marcando por função, o Grêmio obrigou Ruy e Fábio Santos a "encaixar" com Kléber e Bolívar, que apoiam pouco, ficando lá em cima. Tcheco precisava voltar até a área do Grêmio, e carregar a bola até a área do Inter. Sozinho. Meio-campo dominado pelo Inter, atacantes gremistas isolados na frente, total desarticulação no Tricolor, e super-exposição de Tcheco ao insucesso do sistema.
Autuori ainda apresenta um conceito absolutamente contrário ao de Marcelo Rospide. E eu saúdo, novamente, o discurso do novo treinador. É sempre bom reiterar, entretanto - como ele mesmo diz - pode ser que na prática ele não consiga aplicar estes conceitos. Autuori utiliza a seleção da Espanha e o Barcelona como exemplos de equipes bem articuladas - aliando busca pela vitória e competitividade (alcançando resultados sem apelar ao defensivismo) - e crava um conceito fundamental, que já ouvimos de Tite aqui em Porto Alegre:
– É perfeitamente possível aliar qualidade de jogo com resultado - afirma.
COMO ISSO SE APLICA AO GRÊMIO: A Zero Hora flagrou em fotografia uma prancheta de Autuori simulando o Grêmio no 4-4-2 (reproduzida no diagrama tático que ilustra o post). Ele mesmo afirma que deve demorar a adotar este sistema para não romper drasticamente com o hábito com o 3-5-2 à brasileira, mesmo que ele tenha inúmeras falhas na marcação, alugue o meio-campo ao adversário e se desarticule em nome da obsessão pela defesa excessiva.
Nesta simulação, Autuori vê o Grêmio com Adilson de primeiro volante, Túlio mais à frente, e Tcheco-Souza absolutamente próximos dos atacantes. Para que esta dupla seja realmente de articulação, e não de marcação. A defesa tem uma linha de quatro. Na entrevista, Autuori disse que Tcheco e Souza precisam jogar próximos à área adversária.
Na escalação, três nomes certos: Léo, Tcheco e Túlio. Os outros sete de linha contam com opções - Réver ou Rafael, Ruy ou Joílson, Fábio Santos ou Jadílson, Adilson ou Maylson, Souza ou Douglas, Maxi ou Herrera, e Jonas ou Alex Mineiro.
São conceitos para fazer vibrar os torcedores gremistas. Agora, resta saber se ele conseguirá colocar em prática, e como o próprio Autuori diz, conciliar qualidade com resultados.
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