Diagrama tático duplo simula os sistemas táticos e estratégias de Grêmio e Inter na estreia pelo Brasileirão |
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Acompanhei ontem os dois jogos da dupla Gre-Nal na rodada de estreia do Brasileirão 2009. E vou reunir o debate no mesmo post porque são conceitos que podem ser comparados - não apenas pelos resultados, mas também pelas atuações. Comecemos pelo vencedor da rodada, o Inter.
INTER: Tite manteve o sistema tático 4-4-2 com meio-campo em losango e dois atacantes de velocidade abertos pelos lados. Com sincronia quase perfeita de movimentos, em função da repetição, o Inter consegue aliar segurança defensiva com força ofensiva.
Mas o gol histórico de Nilmar marcado logo no início - fruto de uma combinação do sistema tático (Nilmar abrindo a defesa pela direita, D'Alessandro buscando o jogo para organizar a equipe e acionar os atacantes) com talento do jogador, fez com que Tite modificasse a estratégia preferencial do colorado. O Inter, que procura sempre valorizar a posse de bola e controlar a partida, optou por oferecer esta possibilidade ao Corinthians.
Conforme o próprio Tite explicou em entrevista coletiva ao final do jogo:
- Existem duas maneiras de ganhar. Uma com a posse de bola, trocando passes, com jogadas bonitas. E outra com muita marcação - resumiu Tite.
Deu certo, mas é arriscado. Há um exemplo recente dos perigos proporcionados pela estratégia adotada ontem por Tite. O Chelsea, um time extremamente ofensivo, marcou um gol cedo contra o Barcelona e cedeu a posse de bola ao adversário, marcando e puxando contra-ataques. Resultado? o Barça empatou aos 48min do 2º tempo no único chute a gol do time espanhol.
O Inter se dá melhor quando tem a posse de bola. É quando D'Alessandro consegue controlar a saída de jogo, e Magrão/Guiñazu/Kléber oferecem boas possibilidades de combinação. É também quando Taison e Nilmar abrem as defesas para as suas diagonais, ou para as infiltrações dos meio-campistas. A estratégia de esperar no próprio campo colocou à prova a segurança da linha colorada. Funcionou ontem, mas é um risco que me parece desnecessário em função da vocação colorada de jogar com a bola, e não sem ela.
Tite dá indícios que contra o Flamengo deve repetir a estratégia de ontem - posicionar Magrão e Guiñazu mais atrás, segurando a linha de quatro jogadores e apostando na ligação rápida de D'Alessandro à dupla de atacantes. É uma alternativa que tem chances de dar certo caso o Inter saia na frente. Mas vale lembrar que o Flamengo tem jogadores com boa conclusão de média distância (Ibson, Kléberson, Juan), apesar da má pontaria dos atacantes dentro da área.
Eu prefiro ver o Inter propondo-se a controlar a partida no Maracanã com a posse de bola, trocando passes, alternando o ritmo - ora dando velocidade, ora segurando o jogo - para que o talento dos jogadores seja melhor explorado.
GRÊMIO: como eu afirmei aqui no blog Preleção, Marcelo Rospide repete os erros do 3-5-2 de Celso Roth. Ontem, ele sublimou a semelhança com o antecessor, dando margem à criação do apelido "Rothspide", no desespero dos torcedores tricolores que assistiram às mesmas iniciativas do técnico demitido.
O principal defeito do 3-5-2 é o sistema de marcação escolhido. O Grêmio marca por função. Está errado. Muito errado. Principalmente, em um confronto que fica espelhado quando o adversário atua no 4-3-3. Ontem, Rospide entregou o meio-campo para o Santos. E o Grêmio voltou a correr riscos incompreensíveis. Explico:
Na marcação por função, ala pega lateral e zagueiro pega atacante. Mas no 3-5-2 brasileiro, utilizado pelo Grêmio, há uma obsessão pela sobra. Que já existia com Celso Roth, e se mantém com Rospide. Como três atacantes do Santos eliminariam a sobra dos três zagueiros do Grêmio, o técnico interino deslocou Adilson para marcar Neymar individualmente, com Ruy e Fábio Santos adiantando-se no combate aos laterais do Santos porque Pará e Luizinho não estavam apoiando.
O que aconteceu? Para manter a sobra, Rospide abriu a frente da própria área. Réver ficou com Mádson, Adilson com Neymar (arrastado para o lado do campo), Léo e Rafael revezando-se entre Kléber e a sobra, Tcheco e Souza presos aos dois volantes santistas, e o mesmo acontecendo com Ruy e Fábio Santos contra os laterais. Pergunto: e o Paulo Henrique? Quem marca? Foi assim que o Santos atacou durante boa parte do jogo, infiltrando-se à frente da área onde deveria estar Adilson, e para onde não adiantava-se a sobra fixa lá dentro da área (assim o próprio Paulo Henrique e Kléber Pereira perderam gols feitos).
Rospide "corrigiu" piorando a situação. Lembrando Roth, retirou Jonas para empatar o combate de meio-campo (que ele mesmo alugou para o Santos) e escalou o volante Túlio. Ouso fazer uma sugestão, para debate: porque Rospide não optou pela substituição de Rafael Marques por Túlio, trocando também o sistema de marcação?
Nesta hipótese - Túlio no lugar de Rafael - Ruy e Fábio Santos marcariam Neymar e Mádson, liberando Réver ou Léo para a sobra enquanto um pegaria Kléber Pereira. Túlio fecharia a entrada da área, bloqueando Paulo Henrique e liberando Tcheco e Souza para a armação, Adilson para a passagem, e mantendo dois atacantes de ofício. Um argumento favorável é o mau desempenho ofensivo dos alas, o que também derruba uma das principais justificativas do 3-5-2 brasileiro. Se os alas apoiam mal, que sejam laterais, marcando por setor, e não por função.
A obsessão pela sobra em um sistema de marcação equivocado dentro de um 3-5-2 engessado provocou ontem as primeiras - e justas - vaias a Rospide, ao lado do qual os torcedores identificaram o fantasma de Celso Roth assoprando em seu ouvido.
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