Autuori utilizou o 4-4-2 no Botafogo e no Cruzeiro, e o 3-5-2 no São Paulo. |
Primeiro nome na lista de especulações do Grêmio - ora dando-se a certeza do acerto, ora desmentindo-se a informação - Paulo Autuori apresenta em sua carreira uma migração interessante de convicção tática. Quando ele se tornou vitorioso por Botafogo e Cruzeiro, tinha o 4-4-2 como predileto. E depois, tanto no Inter como no São Paulo, acabou seduzido pelo 3-5-2.
Campeão Brasileiro pelo Botafogo em 1995, Paulo Autuori se utilizou do mais legítimo 4-4-2 à brasileira: meio-campo em quadrado, com um primeiro volante marcador, um segundo volante com boa saída de jogo, dois meias articuladores - um pela direita, outro pela esquerda, um atacante de referência e outro de movimentação, e laterais revezando-se no apoio. O time-base tinha Wágner; Wilson Goiano, Wilson Gottardo, Gonçalves e André Silva; Jamir, Leandro, Beto e Sérgio Manoel; Donizete Pantera e Túlio.
Autuori repetiu o 4-4-2 à brasileira no Cruzeiro campeão da Libertadores de 1997. Novamente, meio-campo em quadrado, com primeiro volante marcador, segundo volante com saída, dois meias - um de cada lado - um atacante de movimentação, outro de referência, e laterais bons no ataque. A equipe formava costumeiramente com Dida; Vitor, Gélson Baresi, Wilson Gottardo e Nonato; Fabinho, Ricardinho, Donizeti e Palhinha; Marcelo Ramos e Elivélton. Taticamente, nenhuma mudança em dois anos. Convicção mantida.
A transição foi deflagrada no Inter em 1999. Com problemas, Autuori iniciou no 4-4-2 com três volantes (Dunga, Anderson e Claiton) - um princípio de mudança, mas acabou encaixando a equipe no 3-5-2, com Régis, Lúcio e Gonçalves na defesa; Enciso e Elivélton nas alas; e Lúcio Flávio de articulador. Ainda pelo Inter, Autuori também transitou pelo 4-5-1, a partir da saída de Christian, lançando o então jovem Diogo Rincón como o meia de chegada.
Pelo São Paulo, em 2005, Paulo Autuori definiu o 3-5-2. Vejam que interessante esta declaração que encontrei fazendo buscas em sites da época. Reproduzo abaixo um trecho da reportagem, com a explicação do próprio Autuori sobre o confronto com o Atlético-PR, pela decisão da Libertadores:
"Autuori não esconde que a sua preferência é o 4-4-2, mas reconhece que o São Paulo rende melhor atuando com três zagueiros.
- Uma coisa é o que eu gosto, a outra é a necessidade da equipe. Vamos jogar da forma como estamos acostumados. O modelo tático se encaixa bem com aquilo que faz o Atlético-PR - disse o treinador são-paulino, em entrevista à Rádio Globo".
Ou seja: Autuori declarava sua predileção pelo 4-4-2, mas admitia que no São Paulo o sistema tático que funcionava era o 3-5-2. E ele foi campeão Mundial com Rogério Ceni; Fabão, Lugano e Edcarlos; Cicinho, Josué, Mineiro, Danilo e Júnior; Amoroso e Aloísio. Ainda assim, tendo algumas figuras que lhe acompanhavam no 4-4-2: primeiro volante marcador, segundo volante com saída de jogo, atacante de movimentação, e centroavante de referência.
Confesso que fiz uma exaustiva pesquisa para descobrir qual sistema tático ele utiliza no Al-Rayyan. Não encontrei nenhuma referência precisa em sites de lá ou daqui. Sabe-se que ele tem de novo o centroavante de referência (Aloísio), o pensador no meio-campo (Ricardinho) e um segundo atacante de movimentação - um jogador que me escapa o nome agora.
Como será no Grêmio, caso seja confirmado Autuori? Afinal, o time e ele passarão por um dilema muito significativo. O treinador chegaria com duas competições em andamento - Brasileirão e Libertadores. Isso lhe tira tempo de treinamento para encontrar soluções e encaixar os jogadores na sua filosofia tática.
No Grêmio, Autuori teria duas alternativas: ou ele mantém o 3-5-2 de Roth e Rospide a contra-gosto mesmo que não o considere ideal, para não prejudicar o entrosamento durante as competições; ou ele altera o sistema tático e a escalação, sob risco de fazer a equipe perder ritmo e mecânica. Há ainda uma terceira hipótese: ele constatar que o grupo do Grêmio rende mais com o 3-5-2, encaixando convicção tática com o "embalo" da equipe, sem mexer em nada e satisfeito com isso.
Pelo histórico, Autuori prefere o 4-4-2 (ele mesmo admitiu isso há quatro anos, conforme a declaração reproduzida aqui) mas não se constrange em adotar outro sistema tático conforme as características do grupo. As questões principais que se colocariam para ele são: o 3-5-2 é mesmo o ideal para o Grêmio? Há no grupo alternativas para troca de sistema? É conveniente modificar a estrutura de uma equipe durante duas competições importantes? Pelo visto, as respostas tardarão a chegar.
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