Benítez propôs um encaixe no meio-campo, combatendo a principal virtude do Chelsea - a proximidade dos seus meio-campistas centralizados |
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Sem Gerrard, o técnico Rafa Benítez resolveu alterar a estrutura tática do Liverpool no confronto com o Chelsea. E quase deu certo. A equipe esteve próxima da classificação, mas o fabuloso empate em 4 a 4 leva os londrinos às semifinais da Liga dos Campeões da Europa. As circunstâncias do jogo quase inviabilizam uma análise tática - fatores alheios, como aguerrimento, bravura, comprometimento e vibração foram fundamentais para ambos - mas ainda assim podemos debater sobre a proposta de Benítez.
O treinador do Liverpool armou seu meio-campo em função do Chelsea. A equipe iniciou a partida no 4-4-1-1. Lucas foi colocado entre a linha de meio-campo e o atacante Fernando Torres, mas em uma tática individual diferente da exercida por Gerrard. Finalmente, Lucas foi aquele meio-campista de combate e ligação que eu pedi em post recente no Preleção, mas que ainda não tínhamos visto pelo Liverpool.
O que pretendia Benítez? Parece um contrasenso, precisando marcar três gols e começar o jogo com um atacante. Mas a proposta do técnico do Liverpool se justifica pelo resultado na prática. Com o trio Mascherano-Xabi Alonso-Lucas, ele buscava anular o trio centralizado do Chelsea, formado por Essien-Lampard-Ballack - confiram o "encaixe" no diagrama tático que ilustra o post.
Desde a chegada de Guus Hiddink, o Chelsea atua no 4-3-3. Essien é o vértice, Ballack sai para a direita e Lampard pela esquerda. Mas os três jogadores de meio-campo atuam extremamente próximos, e centralizados. As jogadas pelos lados ficam a critério dos atacantes abertos (Kalou/Anelka pela direita, Malouda pela esquerda) e os laterais - principalmente Ashley Cole.
Com Lucas no lugar de Gerrard, Benítez encaixou a marcação nos três apoiadores do Chelsea. E venceu a disputa numérica do meio-campo trazendo os extremos Kuyt (na direita) e Benayoun (na esquerda) para as diagonais. No 1º tempo, com esta estratégia, o Liverpool alcançou uma posse de bola de 63%, marcando dois gols - em bola parada, é verdade - e indo para o intervalo na iminência da classificação.
No 2º tempo, Guus aplicou um contra-veneno bastante lógico. Descentralizou mais as jogadas, fugindo ao encaixe. No primeiro gol, Anelka foi um legítimo ponta-direita, às costas de Fábio Aurélio. Ainda assim, outros dois gols (Alex fez um de falta) surgiram de infiltrações pelo meio. Se na etapa inicial a estratégia de Rafa Benítez deu certo, a urgência por mais um gol não manteve a estrutura coesa no final.
Mas a saída de Mascherano foi decisiva. Quando ele deixou o campo, para a entrada de Riera, Benítez realinhou o 4-4-2. E Lampard perdeu seu marcador - era o argentino quem acompanhava o capitão londrino. Duas vezes, Lampard tabelou em infiltrações pelo meio, entrando na área livre de marcação, e marcando dois gols. Ballack também começou a dominar a articulação. O Chelsea retomava a superioridade numérica do setor, com seus três apoiadores centralizados contra Lucas e Xabi Alonso.
Nada, entretanto, que condene Benítez. Afinal, Riera fez a jogada do gol de Kuyt, como um winger pela esquerda - novamente, o espanhol teve boa atuação. Lucas ainda fez o dele, chutando de fora da área - atitude que eu pedi aqui no post sobre o Liverpool. Lucas chutou, e fez.
A parte as variações táticas e estratégias alternativas, foi um dos maiores e mais emocionantes jogos da história recente do futebol. Que loucura este jogo!
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