O Bayern de Klinsmann atua com dois centroavantes fixos na área, sendo municiados por meias velocistas que jogam abertos pelos lados, e bastante adiantados. |
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Se no Brasil a corrente de defensivismo parece não ser apenas uma moda de estação, ou uma paixão de carnaval - e deve permanecer por mais tempo sobre o Rio Grande do Sul, principalmente - é bom ver que na Europa existem movimentos da resgate das figuras ofensivas. É como a Renascença em meio à Idade das Trevas.
Hoje, tivemos dois exemplos de sistemas táticos e estratégias ofensivos com sucesso na Liga dos Campeões. O Chelsea, de Guus Hiddink - analisado na semana passada pelo blog Preleção - e o Bayern de Munique do Jurgen Klinsmann. Jogando em casa, com três atacantes, o time inglês venceu a forte Juventus; e em Portugal, os alemães atropelaram o Sporting, goleando por 5 a 0.
Talvez por ter sido um dos maiores centroavantes da história recente do futebol, Jurgen Klinsmann valoriza demais esta função. A camisa 9. O Bayern atua com dois centroavantes centralizados na área. A convicção é tão grande que ele venceu a queda de braço com o velocista Podolski, negociado com o Colonia porque não tinha espaço dentro desta estratégia.
O Bayern joga em um 4-4-2 que se aproxima das duas linhas de quatro britânicas. Os laterais cumprem funções defensivas, apoiando pouco - Oddo, principalmente, pela direita; Lahm sobe mais, na esquerda. Os dois zagueiros são protegidos por volantes desalinhados: na direita, Van Bommel fica mais recuado, cumprindo a primeira função; e o brasileiro Zé Roberto é o segundo volante, mais adiantado, marcando no campo adversário e participando da articulação.
Mas a principal diferença deste 4-4-2 para o sistema britânico, além dos volantes desalinhados, é o posicionamento dos meias ofensivos. Mais do que wingers, Ribéry na esquerda e Schweinsteiger na direita atuam praticamente como atacantes. São ponteiros, extremamente abertos e adiantados, protegidos pelo comportamento defensivo dos laterais. E dali partem as principais jogadas.
Da esquerda, Ribéry comanda a equipe, com diagonais incisivas - assim ele marcou o primeiro gol - aproximando-se da dupla de ataque e de Zé Roberto pelo meio. Quando apoia, quem vai à linha de fundo é o lateral Lahm. E na direita, Schweinsteiger procura mais os cruzamentos para a área. A dupla de meias velocistas compensa a presença de dois centroavantes com pouca mobilidade.
Dessa forma, o Bayern é todo vocacionado a jogar em função dos centroavantes. Klose e Toni saem pouco da área - a não ser para tabelar no pivô. Eles não atrapalham um ao outro, não se sobrepõem nem ocupam os espaços alheios. A delimitação é bem clara: Klose fica do pênalti para a esquerda, e Toni do pênalti para a direita. Virem-se os zagueiros para obstruir dois jogadores de imposição física, impulsão, talento na bola aérea e capacidade de conclusão com os dois pés.
Toni marcou duas vezes (um de cabeça), Klose fez o dele (em assistência do italiano, de cabeça) e Ribéry fez outro, de pênalti cometido por Fabio Rochemback sobre o lateral Lahm. No total, o Bayern criou 17 oportunidades de gol, sendo que 8 chegaram à meta. Ou seja, um aproveitamento impressionante - 8 chutes, 5 gols. Não é coincidência alcançar este número e ter dois centroavantes em campo. É consequencia.
Outro aspecto interessante da partida é a posse de bola: o Bayern teve 52%. Não jogou, portanto, apenas se defendendo e especulando contra-ataques com os meias velocistas. O Bayern jogou, com Zé Roberto comandando a saída de bola, Ribéry centralizando as jogadas mais incisivas, e a dupla Klose-Toni sendo extremamente acionada, pelo chão ou pelo alto. O Bayern gosta de jogar, e gosta de jogar dentro da área adversária.
O Bayern de Klinsmann pode inspirar quem se obstina em convicções táticas rígidas. Dá para jogar com dois centroavantes, desde que a equipe consiga sincronizar na estratégia conceitos de defesa e ataque que sustentem esta maneira de jogar. Com uma linha defensiva de quatro jogadores, e meias ofensivos abertos, adiantados e velozes, o Bayern encontrou uma boa fórmula.
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