No confronto com o Boca, o meio-campo do San Lorenzo foi modificado, e não conseguiu nem jogar, nem segurar a dupla Riquelme-Dátolo |
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O triangular decisivo do Torneio Apertura do Campeonato Argentino nos permite debater algo bastante oportuno: os treinadores que sistematizam suas equipes de acordo com os adversários. São profissionais que, rotineiramente ou em circunstâncias de exceção, abdicam de ressaltar as virtudes do próprio time pensando apenas em conter o rival.
Isso aconteceu com o San Lorenzo contra o Boca Juniors. Não sei se o técnico Russo costuma fazer isso, mas nesta partida ele modificou completamente a estratégia. Russo vinha distribuindo o San Lorenzo em um 4-4-2 britânico. Na segunda linha de quatro jogadores, o winger esquerdo era o camisa 10 e craque do time, Barrientos, responsável por diagonais e aproximações com os atacantes. Ledesma, outro destaque, atuava como um meio-campista organizador. Uma estratégia simples e bem sucedida, que levou a equipe ao quase-título.
Mas contra o Boca, Russo mudou tudo. Desfez as duas linhas de quatro e inverteu Barrientos. O treinador passou o camisa 10 para o lado direito, e transformou o articulador da equipe em um mero marcador do lateral Morel Rodriguez. Barrientos, disciplinado, cumpriu a determinação. Mas não tocou na bola o jogo inteiro. Apenas acompanhou o lateral do Boca. Da mesma forma, ainda na direita, Ledesma foi um pouco recuado, transformando-se em um volante mais típico, e perdendo a característica de organizador.
Sem se preocupar com Barrientos e Ledesma, enroscados na marcação pelo setor, Dátolo pôde abrir confronto direto com o lateral González. E o camisa 23 do Boca soube aproveitar o espaço e a tranqüilidade, dominando o meio-campo e atraindo Riquelme para as tabelas pela esquerda ofensiva. O Boca dominou o jogo, criou as melhores chances, venceu por 3 a 1, e merecia até mesmo ter marcado mais gols.
Talvez - é só uma suposição, não acompanhei a imprensa argentina na semana passada - Russo tenha desarticulado o próprio time pensando em conter Riquelme. Ledesma recuado, Barrientos segurando Morel para liberar os volantes...tudo indica uma preocupação demasiada em segurar o Boca. Mas, para impedir o adversário de jogar, o San Lorenzo abdicou da posse de bola. E perdeu. Do contrário, o Boca Juniors foi exatamente o mesmo - 4-4-2 com meio-campo em losango, Battaglia centralizado, Vargas na direita (mais recuado), Dátolo na esquerda (mais adiantado) e Riquelme ligando o setor com o ataque, na intermediária ofensiva.
Aqui no Brasil existem treinadores que modificam com freqüência as escalações e não definem um sistema tático padrão - uma base para sustentar pequenas variações - preferindo escalar o time e montar a estratégia conforme a maneira do adversário atuar. Isso compromete o entrosamento e a mecânica de jogo.
O San Lorenzo foi vitimado pelo próprio treinador, e hoje assiste sem nenhuma chance a Boca Juniors e Tigre decidirem o Apertura. Uma pena, porque até então o San Lorenzo vinha repetindo boas atuações, com uma bela estrutura tática, e o diferencial de Barrientos.
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