No 3-5-2 do Pelotas, o líbero Matheus atua na defesa, na ala e no meio-campo |
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Quem apressadamente conclui que no futebol do interior gaúcho a precariedade estrutural também se transfere à parte tática está enganado. Neste segundo semestre, o Pelotas conquistou a Copa FGF (chamada em 2008 de Lupi Martins) apresentando um sistema de jogo muito interessante, inovador e ousado.
O técnico Gilmar Dal Pozzo, ex-goleiro do Caxias campeão do Gauchão de 2000, distribui o Pelotas no sistema tático 3-5-2. Mas o diferencial da estratégia da equipe é a presença de um lateral-líbero pelo lado direito. Para quem assistiu aos jogos decisivos da competição, ficou evidente o sucesso deste posicionamento inusitado.
O Pelotas joga com dois laterais-direitos. Matheus, que usa a camisa 2, é zagueiro pela direita, completando o setor com a dupla Rudi (zagueiro da sobra) e Aládio (zagueiro pela esquerda). Cleiton, que veste a número 8, é o ala-direito, bastante recuado.
Sem a bola, Cleiton marca o lado do campo e Matheus exerce pressão sobre o segundo atacante da equipe adversária, como um legítimo zagueiro. Mas com a bola quem parte para o avanço é Matheus, enquanto Cleiton fecha o setor se tornando o zagueiro pela direita. Em algumas situações - muito raras - não se faz a inversão, permanecendo Matheus e subindo Cleiton. E em outras, a dupla apóia simultaneamente.
Estes movimentos são executados com muita sincronia, organização e responsabilidade. A dupla Matheus-Cleiton é orientada durante o jogo todo por Gilmar Dal Pozzo, que permanece na área técnica indicando quem vai, quem fica, e quando as passagens devem ocorrer.
Por isso, o 3-5-2 do Pelotas não é um "3-5-2 à brasileira - onde os três zagueiros são fixos e rígidos", como temos analisado aqui no blog Preleção. Matheus é líbero. A única diferença dele para o líbero original é o posicionamento defensivo porque ele marca o segundo atacante, deixando a sobra para Rudi. Mas com a bola Matheus está livre para apoiar pela direita, realizar diagonais em direção à área, permanecer atrás ou até mesmo se juntar ao meio-campo - diversas vezes Matheus se torna um segundo volante.
Quando o lateral-líbero Matheus entra no meio-campo, o segundo volante Cléber se libera como armador, auxiliando Anderson Ijuí na articulação. Na outra ala, pela esquerda, Xaro é quase um ponteiro, guarnecido na cobertura pelo volante Escobar e pelo zagueiro Aládio. E na frente, a dupla Duarte-Sotilli inverte posições constantemente - quando um vai para qualquer dos lados, o outro entra na área.
O mérito de Gilmar Dal Pozzo foi montar um sistema tático adeqüado às características de seus jogadores, aproveitando-se do vigor físico e do preparo de Matheus para lhe atribuir esta tática individual complexa e muito importante para o funcionamento da estratégia. Deu certo, e valeu o título da Copa FGF. Parabéns ao treinador. O bom desempenho do Pelotas sob este sistema tático valoriza o futebol do interior e demonstra que profissionais qualificados não se encontram apenas nos grandes centros.
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