Hugo, Hernanes e Jorge Wagner se revezam na articulação com a bola. Na frente, Dagoberto atua pelos dois lados. É um time que funciona taticamente como um relógio |
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Antes do início do Brasileirão, havia apenas um time que certamente terminaria o campeonato com o mesmo sistema tático, e a mesma escalação: o São Paulo. Salvo exceções de mercado - contratações e vendas - o São Paulo do Muricy Ramalho não muda há três anos. E vence sempre o Brasileirão. Agora, está bem próximo do tricampeonato consecutivo. Jogando da mesma maneira que ano passado, e retrasado.
Isso pode sugerir que o São Paulo é um time taticamente previsível. Não é este o adjetivo mais fiel. Acredito que seja um time conhecido. Todos sabem como o São Paulo joga, e dificilmente a equipe apresenta surpresas ou variações gritantes. Mesmo assim, o São Paulo está sempre brigando por títulos. Qual o segredo, então?
Nem vou entrar no mérito do poder financeiro e na inteligência do departamento de futebol. O São Paulo tem uma estrutura de ponta, revela muitos jogadores, está sempre de olho no mercado com dinheiro no bolso e ainda contrata bem, na maioria das vezes. Mas este não é assunto para o blog Preleção.
Taticamente, o 3-5-2 do São Paulo tem como grande diferencial a presença do melhor (se não for o único de ofício) ala do Brasil: Jorge Wagner. Ele tem aquela responsabilidade quase irresponsável do Sorín, por exemplo. Não guarda posição, mas está sempre no setor quando preciso. Traduzindo: marca pelo lado esquerdo, mas quando o time pega a bola ele simplesmente flutua por uma imensa faixa de gramado entre as duas laterais. É visto na ponta direita, na esquerda, no meio, na área.
Somada a esta movimentação, aparecem também as táticas individuais de Jean, Hernanes, Hugo e Dagoberto. Jean e Hernanes são meio-campistas que defendem e passam da linha da bola para receber. Na Inglaterra, seriam chamados de "box-to-box" - termo que descreve os jogadores que atuam de uma área à outra. Hugo também tem uma área imensa para percorrer. Marca, articula o time centralizado, cobra a esquerda quando Jorge Wagner se solta, e ainda vai para a conclusão dentro da área, fazendo muitos gols.
Dagoberto é um atacante que se movimenta pelos dois lados, preferindo receber a bola aberto na ponta, para avançar em diagonal. E tem ainda o Borges, o legítimo pivô chamando essa tropa de meias para tabela. Todos guarnecidos por um paredão de três zagueiros rigidamente posicionados, e sem vergonha de ir para o combate físico.
As maiores virtudes do São Paulo - além desta movimentação coordenada - são a eficiência e a precisão. Como bem diz o próprio Muricy, o São Paulo é um time que erra pouco. É frio, quase maquiavélico. Nunca abdica da segurança defensiva, e com a bola se movimenta como um relógio suíço. Procura acertar passes, há obediência tática e aplicação de todos. Não é coincidência, por tudo isso, que a maioria dos gols surja também de bolas paradas ensaiadas. Treinamento.
É um time pragmático, e até certo ponto previsível sim. Mas se todo mundo já sabia de véspera como o São Paulo iria jogar o Brasileirão, como ninguém conseguiu pará-lo? Competência, frieza e precisão também são atributos do trabalho do treinador.
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