Desde que o 3-5-2 do Celso Roth foi descoberto pelos adversários do Grêmio neste Brasileirão, e o técnico tricolor passou a testar alternativas ao esquema original que tanto sucesso fez no 1º turno, o sistema tático adotado por ele se tornou pauta diária de debate. Jornalistas, torcedores, e até mesmo outros treinadores participam com suas análises. O blog Prancheta se junta a esta troca de idéias, sempre com a intenção de proporcionar aos leitores um fórum para conversar sobre táticas de futebol - tendo neste post o Grêmio como enfoque.
O dilema vivido por Roth apimenta duas vertentes: os defensores do 3-5-2, e os adeptos do 4-4-2. Conversando com o editor de Esportes do clicRBS - o Márcio Gomes, que também escreve aqui no Prancheta - surgiu a idéia de analisarmos dois sistemas táticos diferentes dentro deste debate, mas ambos de extremo sucesso no Grêmio: um 3-5-2 (campeão da Copa do Brasil com Tite), e um 4-4-2 (o multicampeão da década de 90 com Felipão).
Não se quer com isso propôr a Roth que se inspire em um destes dois sistemas. Em cada caso, tanto Felipão como também Tite adotaram táticas adeqüadas ao grupo de jogadores que eles comandavam. Assim como fez o próprio Roth quando elaborou o 3-5-2 atual. Felipão e Tite foram felizes nas escolhas, e com inteligência criaram movimentações defensivas e ofensivas responsáveis por títulos e grandes momentos do clube - tudo aliado à qualidade dos atletas nas duas épocas.
Comecemos pelo 4-4-2 do Felipão. Ao contrário do que se diz, o lateral Roger não era um "terceiro zagueiro". Ele era um lateral-esquerdo que priorizava a defesa, mas muitas vezes buscava a linha de fundo para cruzar no ataque. Ele se posicionava pouco atrás da linha dos volantes Dinho e Goiano quando Arce se tornava um ponta-direita. Era um lateral mais defensivo, sem ser um zagueiro legítimo.
Eu presumo que Felipão adotou este sistema quando perdeu Emerson, por lesão, e precisou escalar dois articuladores canhotos: Arilson e Carlos Miguel. Dessa forma, Felipão centralizou Arilson, abrindo o corredor direito para Arce e Paulo Nunes. E abriu Carlos Miguel mais à esquerda, o que permitia a Roger ser um lateral mais posicionado. Às vezes Felipão invertia os "pontas", passando Paulo Nunes para a esquerda e Miguel para a direita, jogando nas diagonais.
O desafogo era a bola na área para Jardel, tanto com Miguel e Roger cruzando da esquerda, como também com Paulo Nunes e Arce pela direita. Dinho e Goiano apareciam pouco no ataque, dando segurança à dupla de zaga. Um sistema inteligente, bem coordenado, com domínio do meio-campo e boas saídas pelos lados.
Já em 2001, Tite passava por muitos problemas. Começou em um 4-4-2 com dois volantes "detestados" pela torcida: Eduardo Costa e Anderson Polga. Nada dava certo. E então, como contava com laterais muito ofensivos (Rubens Cardoso e Anderson Lima), Tite optou por uma improvisação que seria no futuro a chave de seu sucesso: Anderson Polga foi transformado em líbero.
Polga não se resumiu ao simples "zagueiro da sobra" do 3-5-2 à brasileira. Enturmava-se com o meio-campo, passando à frente da linha de zagueiros ou cobrindo os alas. E Tite contava ainda com o onipresente Tinga, um jogador que preenche bem o setor marcando e atacando com vivacidade. Ao lado dele, Zinho articulando e também marcando, a exemplo de Tcheco neste ano.
No ataque, sem referência. Warley não deu certo, e Tite optou por jogadores de velocidade - Luiz Mário e Paraíba. Ambos entravam na área e chamavam os alas para as tabelas e as diagonais. Zinho e Tinga cuidavam da segunda bola. Enquanto isso, Eduardo Costa era um verdadeiro portão à frente da área, com cadeado batido e corrente. Ali, ele bloqueava as jogadas centrais junto com Polga, liberando os zagueiros para cobrir os lados quando necessário. Outro sistema bem planejado.
Está aberto o debate. Conto com os comentários de vocês.
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