No 4-4-2 do Manchester, Anderson tem um grande campo de ação, e não joga como volante - esta é a escalação titular utilizada nesta terça contra o Celtic |
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O futebol inglês mais ortodoxo não pode ser analisado conforme parâmetros do futebol brasileiro. As duas culturas táticas são completamente diferentes. Quem se arrisca a formular teses sobre as equipes que jogam no 4-4-2 britânico se utilizando de conceitos do Brasil também se arrisca a errar. Para analisar o 4-4-2 britânico, tem que se familiarizar com as nomenclaturas, os conceitos táticos e as funções deste sistema. Guardadas as devidas proporções, é como um ocidental questionar o motivo que leva alguns coreanos a saborear carne de cachorro. Culturas diferentes.
O principal erro que eu percebo quando alguém olha os times da Inglaterra com "olhos brasileiros" é chamar o Anderson de volante. Logo no Manchester United, o clube mais ortodoxo deste sistema tático. Anderson não é volante. Pelo simples fato de que no 4-4-2 britânico não existem volantes - conforme o conceito do 4-4-2 "brasileiro" (aquele das formas geométricas - quadrado, losango...). Ou alguém ousaria chamar o Gerrard, do Liverpool, de volante? E ambos - Anderson e Gerrard - jogam na mesma função.
No 4-4-2 britânico, não existe o "volante" como nós conhecemos. A segunda linha de meio-campo tem dois jogadores abertos pelos lados (os Wingers) e dois centralizados (meio-campistas centrais). Os quatro têm funções defensivas e ofensivas. No ManU, por exemplo, Cristiano Ronaldo é visto com freqüência dando carrinho na bandeirinha de escanteio - isso porque o Winger, na marcação por zona, precisa acompanhar o lateral adversário, liberando o lateral de seu time para a marcação do Winger oponente. Hoje o ManU venceu o Celtic por 3 a 0, pela Liga dos Campeões, desta forma - e com Anderson no time titular, sem ser volante.
A principal diferença é esta: os meio-campistas centrais do 4-4-2 britânico não têm meias articuladores bloqueando a movimentação deles. Nesta função (a do Anderson), além das tarefas defensivas (proteger o zagueiro e cobrir o lado nas raras vezes em que laterais e wingers apóiam ao mesmo tempo), ele ajuda na armação das jogadas. Sem articuladores à brasileira pela frente, o meio-campista central está em contato direto com os atacantes.
E neste 4-4-2 britânico não há um articulador. O camisa 10. A linha de meio-campo avança em bloco. A bola gira, de pé em pé. Anderson é o distribuidor das jogadas. Toca para o Winger, a bola volta, vira o lado...com paciência, até que o time encontre um espaço para a diagonal dos atacantes ou dos próprios Wingers. Ninguém é a referência, ninguém diz "deixa que eu armo" como acontece por aqui. Abaixo, eu simulo um 4-4-2 brasileiro (com quadrado no meio) no próprio Manchester, para mostrar a diferença: aí sim um meia articulador bloquearia Anderson, e ele seria volante, sem contato com os atacantes (a escalação é a utilizada hoje no jogo contra o Celtic):
O que falta para o Anderson? Jogar com mais naturalidade. E chutar a gol. Quem joga nesta posição, no 4-4-2 britânico, toca muito na bola. E como a linha avança em bloco, ganha terreno e se aproxima demais da área. Gerrard no Liverpool, Lampard no Chelsea e até mesmo o Scholes no ManU marcam muitos gols de fora da área. E por quê? Porque não jogam como volantes. São meio-campistas centralizados, que defendem mas avançam junto com os Wingers, fazem muitas assistências nas diagonais para atacantes, e de frente para o gol - sem um articulador bloqueando a passagem - aproveitam as oportunidades para arriscar de fora da área.
Como a Seleção Brasileira não joga no 4-4-2 britânico, eu vejo um equívoco quando Dunga escala Anderson como volante. Ele não é volante. Aprendeu a marcar porque o meio-campista central na Inglaterra atua em uma zona bastante ampla de marcação. Mas distribui as jogadas, próximo dos Wingers, dos atacantes e da área. No esquema brasileiro, Anderson compete com Kaká, Robinho e Elano por um lugar na segunda linha de meio-campo - exatamente como ele joga no ManU.
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