Nesta semana, o técnico Celso Roth se disse ao mesmo tempo feliz e surpreso com o sucesso do sistema tático 3-5-2 no Brasileirão 2008. Para o comandante tricolor, a moda foi lançada por ele no Estádio Olímpico, e a boa campanha do Grêmio teria influenciado treinadores de outras equipes a adotar o mesmo esquema.
Roth chegou a citar, em entrevista coletiva, o exemplo do Palmeiras de Wanderley Luxemburgo – que iniciou o campeonato no 4-4-2, mas acabou aderindo ao 3-5-2 no 2º turno. Mas, apesar do sistema tático de Grêmio e Palmeiras ser o mesmo – o 3-5-2 – as táticas de grupo e as táticas individuais (que levam em consideração a movimentação coordenada e as funções dos jogadores) são completamente diferentes.
Proponho agora uma comparação tática entre Grêmio e Palmeiras. E deixo claro que não estou levando em consideração a qualidade dos jogadores, mas sim as funções que eles desempenham.
Começo pelo Grêmio. Celso Roth adotou um 3-5-2 à brasileira. O tricolor não tem líbero. O sistema defensivo gremista conta com três zagueiros específicos da função: Léo pela direita e Rever pela esquerda, mais o Pereira – que é o “homem da sobra”. O Grêmio joga exclusivamente com três zagueiros, e como os alas têm comportamento de laterais (jogam muito pelos lados), o meio-campo do tricolor tem apenas três homens.
As transições do Grêmio são feitas pelos lados do campo, com Léo transformando-se em um auxiliar do Mattioni (ou do Paulo Sérgio) e Réver fazendo o mesmo na esquerda, com Hélder (ou Pico). Pereira não ultrapassa a linha e se mantém como homem da sobra. Com dois volantes, na prática o Grêmio tem apenas um articulador: Tcheco. E passa dificuldades na criação quando enfrenta equipes que dominam numericamente o meio-campo.
É um 3-5-2 rígido, e para variar o esquema durante a partida, Celso Roth precisa fazer substituições – como ele mesmo testou esta semana, retirando Hélder e escalando Souza, para armar um 4-4-2 com duas linhas de quatro jogadores. A formação original praticamente não permite alternativas táticas.
Já o Palmeiras joga no 3-5-2 à italiana, conforme o esquema foi idealizado. "Líbero", em italiano, quer dizer "livre". O líbero não é um “homem da sobra”, ou um “terceiro zagueiro”, mas é um jogador que tem liberdade tática para se posicionar atrás ou à frente da linha de zagueiros. Luxemburgo faz isso no Palmeiras.
Seu líbero no Verdão não é um zagueiro. É o ex-colorado Martinez, que já foi armador no Inter, e se consagrou como segundo volante de qualidade técnica no Cruzeiro. Conforme a equipe necessita, ele ultrapassa a linha de zagueiros e se torna um meio-campista, o que ameniza problemas contra adversários que povoam o setor.
Dessa forma, Luxemburgo não precisa fazer substituições para mudar o sistema tático. Ele pode reconstituir o 4-4-2 com o simples avanço de Martinez, por exemplo. E voltar ao 3-5-2 com seu recuo. Esta é a essência do 3-5-2 que imortalizou a figura de Baresi na Itália. A Alemanha de 1994 também jogava assim, com o antes meia-ofensivo Mathaus como líbero.
Na teoria, eu prefiro o sistema adotado pelo Luxemburgo, que preserva a idéia do líbero como um jogador tecnicamente qualificado, e livre para se agrupar a qualquer setor do campo. O 3-5-2 gremista pode levar a equipe a “perder o meio-campo”, precisando trocar peças e queimar substituições para corrigir. Mas é inegável que, em campo – na prática – foi o esquema do Grêmio que chegou à liderança.
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