Foto: Charles Guerra |
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Cachorro é amarrado em carro e arrastado por idoso no bairro Nonoai, em Santa Maria (RS) Bruna Porciúncula - Diário de Santa Maria
Acomodado no pará-choque de seu Fusca, Alceu Pozzatti, 78 anos, parecia indiferente aos impropérios que ouvia de quem passava e dava de cara com a cena: um rastro de sangue pelo asfalto e um cachorro, provavelmente de rua, com partes do corpo em carne viva.
O idoso amarrou o animal no carro e o arrastou rua afora, pouco antes do meio-dia desta quinta-feira. Só não matou o bicho porque, por acaso, o representante comercial Júlio Cesar Vareiro, 51 anos, passava pela Rua Rigoberto Duarte, bairro Nonoai, em Santa Maria (RS) e presenciou a crueldade.
— Pedi que ele parasse na hora. Um outro rapaz chegou ali também. Nós tremíamos com a cena. O senhor disse que o cachorro havia brigado com o cão dele, e que o bicho teria tentado mordê-lo. Mas, então, como ele conseguiu amarrá-lo no carro? Para mim, é maldade pura — indignava-se Vareiro, que chamou a Brigada Militar.
O idoso, demonstrando dificuldade para escutar, disse que queria largar o cachorro em algum lugar, mas não soube explicar como conseguiu atá-lo ao pára-choque, já que alegava que o cão era feroz. Moradores e pessoas que passavam pelo local estavam indignadas com situação. Pozzatti só não foi alvo de agressões porque a idade lhe concedeu alguma consideração, algo que faltou ao pobre animal.
— Fiquei tão indignada que tive de sair dali. Até quando vamos assistir a esses atos de selvageria? — indagava a professora Eliana Hoffmeister.
Depois de tentarem, sem sucesso, conseguir atendimento imediato para o cachorro — o Hospital Veterinário da UFSM informou que só receberia o bicho às 13h30min —, as pessoas que socorreram o animal contaram com a ajuda da veterinária Marlene Nascimento, que também faz parte de um grupo de proteção dos animais. O cachorro, que deve ter cerca de 2 anos, recebeu antiinflamatórios e ficará internado até se recuperar dos ferimentos.
— Ele (o cão) deve ter corrido enquanto o carro andava, mas foi caindo e se machucando. Poderia ter morrido enforcado — disse Marlene.
Alceu Pozzatti se manteve quieto enquanto as pessoas se movimentavam para acudir o cachorro. Os policiais entregaram a ele um termo circunstanciado, que foi assinado sem resistência. Pelo documento, o idoso se compromete a comparecer no Juizado Especial Criminal e explicar porque maltratou o animal.
O comandante da 1º Companhia Ambiental da Brigada Militar de Santa Maria, capitão Paulo Antonio Flores de Oliveira, explica que o idoso não deve ser preso porque para crimes como esse, as penas previstas são de menos de dois anos de detenção, o que geralmente são convertidas em multas ou prestação de serviços à comunidade.
O cachorro, ainda que muito machucado, deixou que o pegassem no colo para medicá-lo. Tão logo fique bom, será colocado para adoção.
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