Toshio com sua futura esposa em Porto AlegreFoto: Arquivo Pessoal |
O que faltava para que sua vida fosse completa, Toshio ainda não sabia. Até que um certo dia conheceu um estudante de medicina, filho de um açougueiro de Porto Alegre, que estava veraneando em Canela. Conversa vai, conversa vem, o futuro médico convida Toshio para voltar à capital.
E o coração ficou dividido: na Serra Gaúcha Toshio tinha emprego, amigos, estudava português (que tanto queria), praticava esportes, freqüentava bailes. Porto Alegre representava o desconhecido. O que fazer?
Pensando em dar uma reviravolta à sua vida, Toshio, como se pode imaginar, aceitou o convite.
De volta à cidade grande, começa a trabalhar em uma fábrica de chapéus que ficava em frente ao açougue do pai do estudante. “Era a fábrica do senhor Contieri. Ali eu trabalhava abrigado, com mais conforto. Eu falava pouco o português, mas meu trabalho era atender as pessoas no escritório. Aí fui aprendendo também a fazer os chapéus”.
E foi produzindo chapéus que Toshio conheceu uma moça chamada Jessy, na época com cerca de 18 ou 20 anos, e descobriu o que tinha ido buscar em Porto Alegre: “Eu tinha que dar um jeito na minha vida, quando a vi, logo pensei em casar”.
E por algum tempo só pensou, pois a intenção de namorar a Jessy existia, mas a coragem não chegava. A sorte de Toshio é que o sentimento era recíproco e a própria moça deu o empurrãozinho que faltava, atraindo o jovem japonês para provar das ‘bergamota’ que ela tinha em casa. E entre um gomo e outro, o namoro finalmente deslanchou.
Toshio e Jessy com os dois filhos mais velhos, Ivan e Ione
Casaram-se em 1942. Num período de 18 anos, tiveram seis filhos: Ivan, Ione, Irio, Irene, Ícaro e Ives (que foi quem nos escreveu contando sobre o Seu Toshio).
Mas, voltando ao comecinho do casamento, foi nos primeiros anos da década de 40 que Toshio-san teve a idéia de trabalhar por conta própria. “Meus patrícios também chegavam aqui sem conhecimento e sem dinheiro e conseguiam viver indo para as lavanderias, lavando roupas. Então, me inspirei em outros japoneses”.
Foi assim que Toshio abriu sua própria lavanderia, na rua Independência, no centro de Porto Alegre. “Chamava-se Lavanderia Metrópole, lavava roupas e vendia revistas”.
Os primeiros anos do casamento foram também os últimos da Segunda Guerra Mundial, época difícil para os japoneses fora de seu país. Os filhos de Toshio-san lembram de a mãe, dona Jessy, contar que o casal viveu dias de medo e insegurança. Tanto que refugiaram-se na casa do sogro de Toshio, o estofador Acelyno Borges.
Felizmente a guerra acabou, a vida voltou ao normal, mas a lavanderia não durou muito tempo e Toshio resolveu aprender a profissão de Acelyno. Por alguns anos, dedicou-se à reforma de móveis ao lado do sogro. “Mas depois eu tive a minha própria loja, a Estofaria Toshio”.
Toshio e Jessy entre cinco dos seis filhos. Um deles estava batendo a foto
Com os resultados da estofaria, Toshio conseguiu firmar-se em Porto Alegre, manter a família, criar os filhos.
Sabia que não sairia mais desta cidade, embora não esquecesse suas raízes no Japão. “Uma vez uma senhora me disse: vou lhe mandar pro Japão! Mas eu não quis, achava que se fosse para o Japão poderia morrer lá e não voltar mais”.
O medo de Seu Toshio era fruto de experiência parecida. Um antigo chefe e amigo dos tempos de Canela foi visitar a Alemanha, sua Terra Natal, e faleceu.
E assim, 34 anos se passaram sem que Toshio reencontrasse seus pais ou seus irmãos. Até que veio a notícia de uma VISITA INESPERADA...
(Não perca amanhã o último capítulo da HISTÓRIA DE TOSHIO...)
As irmãs Suzuki, jornalistas e netas de japoneses, apresentam aqui o que há de mais bacana, inusitado e relevante na cultura japonesa. Com muita informação e interatividade, mostram como os costumes nipônicos vieram se entremeando aos brasileiros em cem anos de imigração.
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