Na análise do blogueiro Erich Beting, do portal UOL, que dissecou a sequência de eventos que levaram o Finasa (vinculado ao Bradesco, que foi quem tomou a decisão de cortar o patrocínio de R$ 12 milhões ao ano) a extinguir a equipe de vôlei em Osasco, e em outras informações obtidas pelo blog, existem alguns pontos que não me surpreendem. Acho até que demorou para alguém se mexer nesse sentido e é uma pena que seja de forma velada, e não aberta, e mais triste ainda que seja por um time que está dando adeus, e não por um time que está gritando pra ficar.
Explico!
Oficialmente, o Finasa saiu porque prefere investir apenas em projetos sociais (investimento que é subvencionado por leis de incentivo). Mas as razões seriam outras. Uma delas é tacanha, o medo da associação da marca a um time perdedor, já que foi derrotado pelo Rexona nas últimas finais de Superliga. Um absurdo, já que em 20 anos de esporte, o projeto é mais do que vitorioso, mas parece que os homens do marketing não entendem assim. Se bem que o projeto terminaria mesmo com o título na Superliga deste ano. Outra mesquinharia seria um ciúme com relação ao Banco do Brasil, o grande patrocinador da CBV e concorrente do Bradesco.
Aí vêm as duas razões "não-declaradas" que realmente me interessam: o pudor de muitos veículos de comunicação em divulgar os nomes dos patrocinadores e a fórmula do campeonato atendendo aos interesses exclusivos da televisão. É realmente ridículo que os clubes sejam chamados somente pelos nomes das cidades de origem. Eu não vejo mal nenhum em usar o nome do patrocinador, que afinal, está abraçando uma boa causa, que é o investimento no esporte. E daí que o motivo é a exposição da marca? São negócios, e todo mundo quer uma contrapartida: eu invisto aqui, tenho o retorno lá, é a lei do mercado. E o que custa chamar de Finasa, ou Rexona-Ades, ou Cimed, ou Brasil Telecom, ou Tigre/Unisul?
E a fórmula do campeonato é interessante até as finais. Aí é um nonsense inacreditável. Final em um jogo só é uma barbaridade: prejudica tremendamente as torcidas, que incentivaram seus times durante todo o campeonato e justamente na hora de repartir o bolo são excluídas da festa; é injusta do ponto de vista técnico, porque tira a coisa mais linda do esporte, que é a possibilidade de reação, e porque pode jogar pelo ralo todo um trabalho consistente realizado durante competição. Já pensaram se a Cimed tem algum problema, um jogador com piriri, nervosismo, um "dia ruim", sei lá, e perde a final pro Vivo/Minas? Isso depois de uma campanha fabulosa, em que liderou o campeonato de ponta a ponta, vencendo 29 dos 32 jogos disputados, 21 deles por 3 sets a 0! Ou então, visto de outro ângulo, as vitórias da Cimed nos dois anos de final em jogo único tiraram do valente time mineiro a oportunidade de reagir! Para fechar o absurdo da final única, ela é disputada no Rio de Janeiro, casa do Rexona-Ades, ou seja, dos quatro finalistas no masculino e feminino, um deles joga em casa a decisão, isso é até irresponsável!
Isso que os clubes, se não estou enganado, não ganham um tostão pela transmissão dos jogos, é diferente do futebol, em que a TV paga uma fortuna pelos direitos de transmissão. Portanto, os patrocinadores acabam ganhando apenas com a exposição da marca e se a TV não a expõe, não há vantagem alguma em patrocinar uma equipe.
Agora, por que os times não reclamam? Por medo da punição. Só que a situação chegou a um ponto insustentável. Sem Finasa, sem Brasil Telecom e talvez sem Banespa, que já teve um problema financeiro durante a competição e praticamente desmanchou o time com o campeonato rolando, a situação fica feia demais para manter a venda nos olhos.
Ainda acho que vai haver apenas um rearranjo no mapa do vôlei no país, com novas cidades investindo e novos patrocínios. Já aconteceu antes, com o fim de alguns clubes dominantes e a criação de outros. É cíclico! Só que é preciso fomentar, criar boas condições, enfim, é hora de fazer barulho, de reorganizar a casa do ouro olímpico. A CBV acenou com a possibilidade de redefinição do ranqueamento, já é um passo, mas tem muitos outros para dar. Em época de crise, a criatividade é moeda.
Blogueiros: Luciano Smanioto e Bruna Bernardes Das quadras para a redação. Luciano Smanioto foi ponteiro e jogou vôlei até os 24 anos. Foi parar no jornalismo e neste blog comenta as partidas e as equipes da Superliga Nacional, Liga Mundial, entre outras competições que envolvem o esporte.
Bruna Bernardes jogou profissionalmente como oposta. Largou as quadras em 2006, depois de ter atuado em clubes do Brasil e da Espanha. Foi parar no jornalismo e agora passa a escrever sobre o esporte que acompanha bem de perto desde os 10 anos, quando começou a jogar.
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