Aí estão elas, as meninas de ouro, emolduradas pela comissão técnica dourada. Da esquerda para a direita, em pé: Thaíssa, Paula, Jaqueline, Sheilla, Fabiana, Mari, Walewska. Ajoelhadas, da esquerda para a direita: Valeskinha, Sassá, Fofão, Fabi e Carol Albuquerque.Foto: Divulgação, FIVB |
![]() |
O VÔLEI FEMININO VALE OURO!
Depois dos bronzes em Atlanta e Sydney e do quarto lugar em Atenas, o Brasil inteiro pode gritar!!! O vôlei feminino verde e amarelo é agora DOURADO! Vale ouro!!!! Não querendo puxar a sardinha para o "meu lado", mas ninguém merecia mais este ouro olímpico, em nenhuma modalidade, do que as meninas do Brasil no vôlei. E que argumente muito bem quem quiser discutir isto!
E Zé Roberto então? Nem se fala! Ele fez história! O único técnico que conquistou o ouro comandando o masculino (Barcelona, 1992) e, 16 anos depois, na China, recebe o ouro suado, adiado, sufocado, com as meninas. Exímio na tática, nas substituições e, principalmente, na segurança que ele dá às meninas. Aliás, valeu também para a psicóloga que deve estar comemorando muito esta medalha!
E a história? E o trauma de Atenas? E a coroação (pós-crucificação) da Mari? Ela, que fez 25 anos hoje, ganhou o ouro de presente e mostrou para o Brasil que é uma jogadora E-X-C-E-L-E-N-T-E. Adeus trauma grego! A loirinha "fria" marcou no ataque, no bloqueio, foi uma das melhores sacadoras da competição e permaneceu com o psicológico intacto.
E Fofão? Esta merecia uma estátua de ouro. Em um rali, ela mandou uma chutada na ponta, fez primeiro tempo e ainda chamou a saída da Sheilla, da linha dos três, tudo em seguida, deixando o bloqueio norte-americano (e os telespectadores) tontos. Ela já disse que se despede da seleção agora.
Mas se despede em alto estilo, assim como a Paula Pequeno, rainha das vibrações, que chegou a levar um puxão de orelha do árbitro por sua empolgação. Aff, este árbitro não tá com nada, vem passar uma temporada no Brasil, vem!
E a Sheilla? Incansável! Pula no bloqueio, volta para o ataque, defende no fundo e já arma o ataque de novo, pontua, pontua, pontua, inventa segurança na saída-de-rede, ataca até na ponta para confundir as rivais. Completa!
Fabiana estava pra lá de atenciosa na barreira nesta final. Mandou dois bloqueios fantásticos no último set, virou bolas de primeiro tempo muito bem ensaiadas com a Fofa, desempenhou seu papel com altivez.
Walewska, se não pontuou tanto no ataque, foi essencial no momento de arrumar recepções e defesas mais tortinhas. Puxou o levantamento três vezes que eu contei, todos ótimos. Dois deles resultaram em pontos pela entrada-de-rede. Jogadora que dá consistência ao time. Virou uma bola fantástica em uma china tão rápida que não deu tempo do bloqueio do lado de lá subir.
Fabi? Capítulo à parte. Fez defesas que muita gente duvidaria. Garantiu excelentes estatísticas do Brasil neste fundamento, assim como na recepção e o principal: garantiu os contra-ataques. Em algumas situações desta final ela mostrou porque é a melhor líbero do mundo e fez uma dupla impressionante com Fofão, deixando tudo facinho para as atacantes.
É claro que não posso desmerecer as meninas que ficaram a maior parte da Olimpíada no banco, porque é uma equipe e a equipe toda é ouro. Sassá entrou em momentos decisivos para sacar, demonstrando ter total confiança de Zé, Valeskinha aumentou a rede, Jaque foi fundamental em diversos momentos fazendo bem o fundo de quadra, Thaíssa também apareceu para deixar o bloqueio mais alto, Carol Albuquerque estava ali para sugar o que podia para defender um ouro em Londres. Joycinha e Carol Gattaz, que foram cortadas da Olimpíada porque Zé não podia levar duas a mais também merecem o ouro porque fazem parte desta equipe vencedora.
Todos que tiveram participação neste ouro provaram que foram quase perfeitos. Quase? Porque perderam um set? Que quase que nada! Quase não ganha ouro! Quase ouro é prata! E quer saber? Eles foram perfeitos!
Primeiro set: final?
Atropelamento. Tava até sem cara de final. No começo, duas bobeadas em golpes errados de vista e os EUA marcaram dois aces. Foi só. No mais, as meninas do Brasil jogaram soltas, defendendo muito bem. Chegamos a abrir 20 a 11, depois 23 a 13, e fechamos em 25 a 15, em 22 minutos. Foram quatro tocos perfeitos da muralha brasileira, fundamento em que Fabiana esteve muito bem, assim como no ataque. Fofão abusou de sua variedade de boas atacantes. Em um só rali, usou Walewska em bola de primeiro tempo, abriu uma chutada com Paula Pequeno e ainda chamou Sheilla na saída, da linha dos três.
Segundo set: o primeiro perdido
Foi neste set que, pela primeira vez, um adversário anotou 25 pontos para fechar em cima do Brasil, em toda a competição. As norte-americanas sacavam na Mari, enquanto as brasileiras procuravam Glass, teoricamente, duas das menos "experientes" em quadra. Os EUA forçaram muito o saque, já que o time estava na posição de franco-atirador, e Lang Ping colocou a levantadora Berg em quadra. Baixinha poderosa esta. Incomodou pra caramba, no saque e também na variação de bolas. Nossa defesa e nossa recepção caíram muito. Muito mesmo. Erramos saques, uma nuvem de nervosismo passou por ali. No 18 a 13 para os EUA, Zé chegou a tirar Mari para a entrada de Jaque, no intuito de melhorar a defesa e os contra-ataques. Mas a diferença foi abrindo e os EUA conseguiram fechar com um ataque eficiente em 25 a 18.
Terceiro set: nenhum erro
Quase perfeitas? Quase perfeitas não anotam 25 a 13! Neste set, nenhum erro! Nenhum erro de saque, nenhum avião para fora, nenhum toque na rede, nenhuma pisada na linha dos três, nenhuma cortada que não passou. Nada! Elas foram impecáveis. E ainda por cima, anotaram quatro pontos de bloqueio. Com a muralha bem estabelecida, deu para forçar o saque e receber a bola limpa para um contra-ataque fatal. Zé colocou Sassá para sacar e aumentou o bloqueio no finalzinho com Valesquinha em substituiçao a Fofão.
Neste set, Paula Pequeno levou um puxão do árbitro. O motivo? Ela deu um toco no pé da norte-americana e vibrou M-U-I-TO. Aí ele veio com o papo: Calma, menos, contenha-se. Ah, me poupe né? Vibra Paula, vibra que é assim que a gente gosta. Quer ser árbitro de tênis te manda pro U.S. Open que logo logo vai começar!
Quarto set: block nelas!
Alucinante! Este set foi a demonstração, na quadra, do que é valer ouro. Do que é ter um técnico que vale ouro, um grupo que vale ouro, e ainda jogadoras específicas que sobram em quadra. O jogo estava equilibradíssimo, com oscilação na liderança de pontos a todo o tempo. Era troca de pontos. Um time fazia um contra-ataque, abria vantagem de dois pontos, o outro devolvia a mesma coisa, passava na frente. De roer as unhas, puxar os cabelos, tensionar a testa, ficar ligadona! No começo, o Brasil deu uma cambaleada no ataque, teve dificuldade de encarar e explorar o bloqueio, mandou para fora. Também bobeou em algumas recepções, deixando a bola de graça para a festa das americanas, comandadas por Tom (que jogadora fantástica esta, aliás). Os EUA estavam novamente forçando o saque, e o Brasil se recuperou em tempo, já nos primeiros dez pontos, para brigar de igual para igual até o vigésimo ponto.
Aí entrou a tática. Zé aumentou a rede, mandou Sassá para o saque. Ela errou, mas na seqüência defendeu uma bola fantástica para compensar. Fabi marcou dois pontos de bloqueio, o Brasil conseguiu a vantagem necessária e até Fofão barrou as norte-americanas na rede! Sensacional. O time cresceu tanto, que as adversárias encolheram o braço. Resultado? No último ataque mandaram uma bola para a China, ops, para o ocidente, e o Brasil só teve o trabalho de comemorar! É ouro! O primeiro e inesquecível destas meninas impecáveis!
E agora?
Comemorem!!! O Brasil inteiro! Ouvi fogos aqui de casa. Que maravilha! E se tudo der certo amanhã também, eu lanço a campanha:
Futebol? O Brasil é o país do vôlei!
Blogueiros: Luciano Smanioto e Bruna Bernardes Das quadras para a redação. Luciano Smanioto foi ponteiro e jogou vôlei até os 24 anos. Foi parar no jornalismo e neste blog comenta as partidas e as equipes da Superliga Nacional, Liga Mundial, entre outras competições que envolvem o esporte.
Bruna Bernardes jogou profissionalmente como oposta. Largou as quadras em 2006, depois de ter atuado em clubes do Brasil e da Espanha. Foi parar no jornalismo e agora passa a escrever sobre o esporte que acompanha bem de perto desde os 10 anos, quando começou a jogar.
Dúvidas Frequentes | Fale conosco | Anuncie - © 2009 RBS Internet e Inovação - Todos os direitos reservados.