Foto: Divulgação |
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Não faço nada ao chegar no jornal antes da coluna a não ser ler as correspondências. A prioridade absoluta sempre foi a coluna. Depois de fazê-la, aí sim dedico-me a outras funções. Mas hoje estou quebrando essa tradição. Nunca é tarde, brother!
Marco Cezar, o melhor fotógrafo com que Cacau trabalhou em todos os tempos, me intima a escrever qualquer coisa sobre Beto Stodieck, para sua revista Mural. O prazo final é hoje. Agora!
Sem problemas, patrão, falar de Beto Stodieck é função tão prazerosa como escrever minha coluna, tomar um chope ou fazer um gol. Não vou comparar com o orgasmo porque nada se iguala a uma boa gozada, mas falar de Beto é gozar de muitas e delirantes épocas e histórias da minha vida, da vida da minha cidade e da vida de muitos amigos, falsos, espertos, loucos, caretas, ricos ou metidos, feios e bonitos, todos esses que um dia foram personagens de Beto Stodieck nas suas imperdíveis colunas diárias na imprensa catarinense: Jornal de Santa Catarina, jornal O Estado, Jornal do Beto e revista Quem.
Beto não era apenas um colunista. Era o guru da Ilha. Influenciava seu séquito a ser ousado nas roupas e no comportamento. Odiava caretas. Ninguém teve maior importância na quebra de preconceitos como esse cara, gordinho e careca, porém bonito e muito, mas muito inteligente e perspicaz. Sacava tudo, por todos os lados. E não abria mão de dizer com quem queria andar, com quem queria namorar, com quem queria sair ou viajar.
Elitista assumido, oriundo de família nobre, sempre cultivou o bom gosto, tanto à mesa como no guarda-roupa. Era chique e ao mesmo tempo jovem e relaxado, podendo chegar nas festas com calça jeans e camiseta Hering, ou com um Armani ou Gaultier. Gostava de grifes, de bons restaurantes, de gente bonita por perto e casa grande. Era mesmo classe A e não fazia nenhum esforço para ser popular. O ibope era certo com a coluna, o resto era lucro.
Beto namorou muito das meninas e meninos da sua coluna e os pais nem sabiam. Fumava maconha como todos nós, gostava de praia, shows, festas e de um bom vinho. E de Gil e Caetano também. E de Nova York e Laurita Mourão também.
Arrisco até a dizer que alguns amigos viraram gays por causa dele. E outros deixaram de odiar gays também por causa dele. Pais, inclusive, passaram a aceitar os filhos gays por causa dele, que virou referência. Mas, no entanto, apesar de claro na defesa de suas bandeiras, Beto sempre foi muito discreto no tocante a seu comportamento sexual em público. Era gentleman que nunca perdia a linha. E pela influência que exerceu, claro, teve muitos opositores, que embora agressivos, nunca venceram nenhum round contra ele. Beto só perdeu para a doença, Aids. Todas as outras batalhas, foi vencedor! Venceu a ignorância da cidade, venceu os preconceituosos, venceu os radicais, venceu o delegado Eloy, venceu a burrice e a mediocridade.
Foi perseguido pela direita e pela esquerda, pelos brutos e pela polícia e por muitos outros caretas que não aceitavam sua moderna liderança sobre a juventude numa cidade até então altamente provinciana. Sabia que eles existiam, e em grande escala, mas ignorava os inimigos solenemente. Simplesmente não os conhecia. Não os citava. Ignorava-os por completo. Dava-lhe o desprezo total.
Beto gostava era de mim, do Rômulo, da Denise, da Cláudia Pop, do Ito e da Maiú, do Pereira, do Uri, do Julinho Duarte, do Peixoto, da Dete Piazza, do Nelson Nunes, do Chanico do Valle Pereira, da doutora Tânia, do Mick Jagger, da Magali Heinze, da Witti, dos Lenzi, da Joaca, do Felipe e do Pedroca, dos amigos cariocas; dos seus irmãos, da sua mãe, do Fúlvio Vieira, da Rose Buendgens, do Nezinho e da Juci; do Max, do Tuca, do Studio A 2, do Waldir Agostinho, da Dulcinha, da Lúcia Prazeres, da cidade de Florianópolis, para ele sempre Floripa. Foi quem primeiro trocou na mídia o nome de Florianópolis para Floripa e de Esperidião Amin para Dão, com quem gostava de implicar. Com a cidade e com o político!
Fusquinha verde, careca com peito cabeludo, roupas chiques, óculos loucos, empresário e amigo de artistas famosos, ninguém foi mais poderoso em Florianópolis do que Beto Stodieck, a quem devo muito, muito, muito da minha esperteza, se é que ela existe na proporção que alguns gostam de comentar. Com ele viajei pela primeira vez para os Estados Unidos, com ele fumei muitos baseados dando volta de carro à noite pela cidade quase deserta, fazendo do Kioski nosso ponto de partida e chegada. Ali a tropa revezava.
Com o Beto aprendi a gostar do que é bom, com ele fui para a televisão e quando morreu, me deixou como seu sucessor. Que responsabilidade, hein brother! Não vou esquecê-lo nunca. Junto com meu pai e com meu filho, Beto Stodieck foi um dos homens da minha vida.
Agora sim, dito isso, posso começar a fazer a coluna que um dia Beto Stodieck também me ensinou. Afinal, Beto, mesmo à distância, continua sendo prioridade.
A irreverência de Cacau Menezes agora está também em blog.
cacau.menezes@diario.com.br
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