Eu cansei de ser roubado. Faz umas três semanas entraram na garagem do meu prédio, arrombaram meu carro e levaram o rádio do meu carro. Duas semanas antes, fui abordado na esquina de casa e ameaçado de levar um tiro caso não parasse. Quase diariamente ouço o relato de um amigo que foi roubado. E o pior é que, assim como todo o brasileiro, pago muito imposto para que o governo me dê, no mínimo, segurança. E o que fazem os que me devem esta prestação de serviço? Agem da mesma forma. Hoje é mais um dia de choque para todos nós. E é preciso ir além do que acontece no Rio Grande do Sul. Vou começar por Brasília. É preciso lembrar que uma rede arquivou ontem no âmbito legislativo toda e qualquer investigação contra José Sarney. Um exemplo patético de como uma pessoa perde o seu lugar na história. Com todo o respeito, mas quem é o senador Paulo Duque? Precisa um indício mais óbvio do que a conversa entre Sarney e seu filho para que tenha certeza de que a coisa pública era tratada como uma propriedade familiar? E aqui? Que semana foi esta para a história do Rio Grande do Sul? Uma semana de perplexidade e de tristeza absoluta. Não há como ficar feliz um povo que tem seu governante como réu em uma ação de improbidade administrativa. É de uma angústia gritante não saber por que ele estar sendo processado, por mais que se imagine quais sejam os motivos que incluam a governadora Yeda Crusius nesta situação. E o pior é que na quarta-feira tinha gente soltando foguetes e deputados de oposição fazendo brinde em uma parilla aqui em Porto Alegre. Para eles era uma vitória. Para o Rio Grande do Sul é uma derrota, mesmo que os atuais ocupantes do Palácio Piratini não queiram ver como tal. As gravações que são divulgadas hoje por Zero Hora sozinhas pouco significam. São conversas, em data incerta, entre Lair Ferst e Marcelo Cavalcante. Os esquemas de arrecadação de recursos que envolvem a campanha da governadora são explicitados na voz de Cavalcante, morto em fevereiro e encontrado no Lago Paranoá, em Brasília. Ao menos uma vez, pouco depois da morte de Marcelo, conversei com a governadora sobre Cavalcante. Foi talvez uma semana após a entrevista coletiva do PSOL. Questionei a governadora sobre o ex-assessor. Foi num almoço no Palácio Piratini onde estavam eu, ela, o assessor Joabel Pereira e mais uma assessora, não lembro se a Ana Jung ou a Sandra Terra. Acho que a Ana. E a governadora falou bem de Marcelo. Não o tratou como traidor. Não o desqualificou. Parecia ter um bom conceito daquele que chamava de seu embaixador. E por que digo isto? Porque é a voz de Marcelo que aparece nas gravações. É a voz de Marcelo que descreve os esquemas de campanha e que fala sobre recursos arrecadados em caixa dois e que sumiram. Caixa dois na campanha que venceu as eleições! E isto ano depois de esgaçado o esquema do mensalão. Talvez por ter percebido que a população não está nem aí para isto, basta ver a facilidade com que o Governo Lula foi reeleito, a campanha tucana aqui repetiu o modelo. Modelo, aliás, criado em outra campanha tucana em Minas Gerais. Aos áudios agora divulgados por aqui faltam uma data e circunstâncias em que ocorreram. Não são áudios do momento em que os fatos ocorreram. Foram conversas posteriores rememorando fatos. Poderiam até ser combinadas. Poderiam, mas não é o que parece. Não sei o que virá? Temos uma CPI que começa em duas semana. Irá desnudar muita coisa. Só que, infelizmente, o estado ficará ingovernável. A justiça não afastará a governadora definitivamente. No máximo haverá uma liminar, rapidamente cassada. A hipótese do impeachment crescerá e a governabilidade ainda mais ameaçada. É hora de pensar na hipótese de mundança, mesmo que temporária, no comando do Palácio Piratini. A poeira precisa baixar. O Rio Grande do Sul é maior que todos os seus governantes.
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