Foto: Divulgação |
Os dois últimos meses aglutinaram uma série de bons shows internacionais em Porto Alegre. O ano inteiro foi de calendário cheio, na verdade, colocando a cidade entre as que mais recebem espetáculos deste tipo no Brasil. No entanto, o que parecia ser o sonho de qualquer amante da música se transformou em pesadelo neste final de ano. Alguns shows foram cancelados, entre eles o inigualável Nine Inch Nails e o tão esperado Duran Duran – este, aguardado por um público consideravelmente maior que o do NIN.
Entre os leitores de Volume, o descontentamento geral foi refletido na nossa área de comentários. No caso do no-show dos ingleses do Duran Duran, dos 63 comments que recebemos, 22 reclamavam do alto preço dos ingressos. Sobre o NIN, o inconformismo em geral sobre o cancelamento da apresentação foi o tema de 14 comentários (veja um levantamento sobre comments na tabela abaixo). Ambos os shows seriam realizados pela Opinião Produtora.
O produtor Gabriel Souza, diretor da Opinião, empresa responsável pelos shows das duas bandas, disse em entrevista ao blog que o valor dos ingressos depende de uma equação em que o custo do show tem um peso fundamental. Como comentou, as bandas praticam aqui os mesmos valores de cachê que cobram no exterior – mesmo que elas não estejam no ápice de suas carreiras, como é o caso do Duran Duran.
– As bandas podem não estar bombadas no Brasil ou em Porto Alegre, mas o mercado delas no exterior continua firme e forte, então eles trabalham com valores e cachês que estão acostumados a trabalhar no exterior. Temos que adaptar aqui no Brasil os valores que eles trabalham fora. A conta que temos que fazer é mais ou menos esta. Não é porque é uma banda que não está bombada em Porto Alegre, como Nine Inch Nails e Duran Duran, que o cachê deles será menor ou que eles farão alguma diferenciação para tocar aqui. A estrutura, o preço, as exigências são iguais a qualquer outro show que eles fariam em qualquer lugar do mundo - disse Gabriel.
>>>>> Ouça a entrevista completa com o Gabriel em mp3 aqui!
Gabriel disse também que se a produtora trabalhasse pensando em um lugar maior, como o Gigantinho, com uma estimativa de mais público, com certeza o valor do ticket diminuiria. Mas alegou que a Opinião teria que investir em uma estrutura que o ginásio não tem. Além disso, comentou que a diferença no valor do ingresso estaria em torno de R$ 30 – o que não compensaria muito, já que os fãs preferem ver seus ídolos bem de perto, como o Pepsi on Stage possibilita.
Sobre o acúmulo de shows em poucos meses, o produtor não encara isso como um problema. Para ele, o público não está preparado para tantos espetáculos.
– Acho que o público não tem cabeça ou cultura para ver tanto show ou para conhecer tantas bandas. Se for pensar nesses dois casos, dessas duas bandas que foram canceladas... Nine Inch Nails nos Estados Unidos é uma banda consagrada e na Europa também. Duran Duran nem se fala. Acho que o público de Porto Alegre é isso aí...
Gabriel disse que, para pagar o show dos ingleses (cancelado uma semana antes do dia marcado), a Opinião precisaria de, no mínimo, quatro mil pessoas.
– A gente tinha 300 pagantes. Então, faça a conta. Você verá que a diferença era o nosso prejuízo. Mesmo cancelando o show a gente tem uma multa rescisória que pagamos para a banda. Geralmente, é de 50% do valor do contrato. Então a banda continua recebendo e a gente continua tendo prejuízo.
Além disso, Gabriel comentou que a Opinião vem bancando sozinha todos os shows que realiza, especialmente os internacionais. Ele reclamou da total falta de apoio de empresas privadas em patrocínios de espetáculos de música no Rio Grande do Sul e destacou que a realidade é muito diferente em outras capitais.
– As empresas não estão preocupadas com Porto Alegre, mas sim com Rio e São Paulo. Todos esses shows que a gente fez foram sem nenhum patrocínio. Foi tudo com grana nossa, sem apoio de empresa, governo ou prefeitura. Não que esses patrocínios tenham que vir de governo ou prefeitura, mas de empresas privadas. E nenhuma manifestou interesse em patrocinar R.E.M. no Zequinha, que foi o maior evento do ano.
E as críticas ao empresariado seguem:
– Não sei se as empresas não enxergam isso como um bom negócio... Eu não acredito, porque no Rio e em São Paulo é um bom negócio. Acho que aqui em Porto Alegre é que não está sendo. Ou eles não estão interessados no público de Porto Alegre. Não sei.
A posição sobre os patrocinadores, no entanto, não é compartilhada por Vitor Lucas, dono da Beco 203 Produtora, que realizou a sexta edição do GIG ROCK final de semana de 15 e 16 de novembro.
- O que temos aqui não é um problema com patrocínios, que existem. Tem que ser feito um trabalho dentro do público que os patrocinadores querem. A GIG já fez cinco edições com patrocínio e somente uma sem. Acho que existe interesse de empresas privadas, mas não das empresas públicas, principalmente no Rio Grande do Sul. No resto do Brasil, vemos festivais com apoio da Prefeitura, do governo de Estado e até federal. Aqui no RS não temos brechas para fazer festivais com apoio público. Agora, foi a primeira vez que a Prefeitura nos apoiou. Espero que ano que vem o apoio seja até maior. Já se fala em colocar o GIG no calendário da cidade. É preciso que olhem esses eventos como fomento de economia da cultura. A participação da cultura no PIB é baixa no Brasil, em torno de 4%, diferentemente de países como Estados Unidos e europeus - declarou Vitor.
GIG ROCK também teve pouco público
Realizado há poucos dias, o GIG ROCK, festival focado em bandas independentes, sofreu com um primeiro dia de pouquíssimo público e um segundo com média abaixo da expectativa. Nem mesmo o preço irrisório dos ingressos (R$ 15,00 na sexta, R$ 20,00 no sábado e R$ 30,00 pelo passaporte) foi suficiente para atrair o público da cidade tida como uma das mais roqueiras do Brasil.
Para Vitor, o maior problema é a falta de costume da galera:
– As pessoas esperam do festival independe algo que não temos. Festival independente não é para bandas estouradas. Colocamos nele só o que está acontecendo de novo e bom. É festival de amostragem de bandas, apesar de termos trazido a Mallu Magalhães. O GIG é um festival para se assistir agora bandas que só daqui a um tempo serão conhecidas.
Agenda lotada
Conforme nosso agendão de shows (publicado meses antes do novo calendário Volume), a partir do início de setembro Porto Alegre teve mais de 35 shows de bandas e DJs renomados no rock e na eletrônica (nacional e do exterior), além de dois festivais de metal. Se contarmos os espetáculos de indie rock, independentes de outros segmentos da música e também os espetáculos de MPB, esse número mais que dobra.
Seja pelo alto valor do ingresso, pelas dificuldades de atrair público em períodos de alta oferta de shows, ou mesmo pela falta de estratégias mais realistas por parte das produtoras, Porto Alegre passa por um final de ano não muito agradável e vê 2009 com um certo temor, ampliado pela crise financeira internacional, que jogou a cotação do dólar e do euro novamente nas alturas.
De qualquer forma, uma coisa é certa: o público sempre sente-se traído quando o show de sua banda favorita é anunciado e, pouco tempo antes da realização do mesmo, é cancelado. E pior – o mal-estar fica gravado na cabeça e no coração da galera por um bom tempo.
Duran Duran: 63 comentários |
* Preço do ingresso considerado alto: 22 |
* Concorrência de shows de artistas considerados ruins e/ou comentários de leitores que reclamam da "falta de cultura do povo", que prefere axé, pagode, emo e semelhantes: 12 |
* Preço do ingresso considerado OK: 5 |
* Falta de divulgação adequada: 4 comments |
* Demais comentários: variavam entre temas diversos, como o acúmulo de shows em poucos meses, crise financeira internacional e a estratégia das produtoras de uma forma geral |
NIN: 31 comentários |
* Descontentamento em geral: 14 |
* Reclamações da estratégia da produtora: 4 |
* Apoio à produtora devido ao risco: 3 |
* Reclamações sobre outros artistas e estilos musicais: 3 |
* Falta de divulgação: 3 |
* Demais comentários: a maior parte deles falava sobre a realidade de NIN não atrair público suficiente |
ENQUETE: Na sua opinião, qual o principal motivo de cancelamentos de show em POA?
Leia sobre cancelamentos em POA:
>>>>> Duran Duran
>>>>> Nightwish
>>>>> NIN
>>>>> NIN explica cancelamento
>>>>> T.S.O.L.
Outros cancelamentos no Brasil:
>>>>> Paul Weller
>>>>> Gossip
>>>>> Funeral For a Friend
>>>>> Justin Timberlake e Shakira
>>>>> Lenny Kravitz
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