Thom York no início do show do RadioheadFoto: Marcos Hermes, Divulgação |
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Um rito de fé se deu em São Paulo na noite de 22 de março, data do segundo show do mítico Radiohead em solo brasileiro (o primeiro foi no Rio, dia 20), em um festival que também reuniu os igualmente messiânicos Kraftwerk e Los Hermanos em um mesmo altar. As bandas atraíram 30 mil devotos, conforme suas crenças e costumes.
Desde a chegada, em que hordas subiram o monte da Chácara do Jockey para chegar ao palco do Just a Fest - em uma espécie de romaria bíblica -, até os espetáculos em si, tudo parecia ter aura litúrgica.
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Os ingleses do Radiohead, muito esperados no Brasil nos últimos 15 anos, realizaram uma apresentação quase religiosa, segundo seu próprio evangelho. Entoaram hinos, salmos e orações contemporâneas desesperadas de um tom quase agnóstico.
Essa contradição de visões de mundo, no entanto, esteve bem de acordo com a história de músicos que renegaram a louvação pop provocada há anos entre seus seguidores para dar início a uma nova fase criativa, na qual o rock inglês tradicional do início da banda foi corroído por novos parâmetros sonoros e ímpetos criativos. Thom York já revelou que não se sente confortável tocando guitarra desde Kid A, e que prefere o piano para compor. Mais que isso, o Radiohead se lançou aos limites da Intelligent Dance Music (IDM) de artistas como Aphex Twin e Autechre para vislumbrar novos tempos para seu próprio som – alcançando, ironicamente, um caráter profético irremediavelmente maior entre seus fãs.
No palco, os músicos emanam carisma sonoro baseada no apuro vocal de Thom e na técnica cármica do grupo. Se o semblante é fechado e o contato com o público é contido, foi pela música que a catarse coletiva se deu. Eles visitaram boa parte da carreira em um set nada óbvio, no qual clássicos instantâneos eram permeados por composições mais obscuras, sempre ampliando condições para que a banda pudesse se superar.
Tanto nas músicas mais agitadas e roqueiras quanto nas canções mais intrincadas e desestruturadas, os britânicos demonstram domínio absoluto sobre seus fiéis. Em performances viscerais e mediúnicas, o Radiohead foi capaz de exorcismos constantes, provocando ondas de êxtase entre os mais fanáticos. Demonstrações efusivas de adoração e um certo descontrole emocional de fãs ardorosos eram comuns. Algumas vezes, a música acabava, mas o bonito coro dos seguidores continuava.
Alguns entre vários momentos inesquecíveis do show que teve 3 bis: a lindíssima House of Cards, a hipnótica Karma Police, Paranoid Android épica (com coro do público ao final), o concretismo kraftwerkiano de Idioteque e a catarse final, em Creep, com banda e público tomados por uma emoção indescritível em explosões de cores e som de detonar o coração (veja vídeos abaixo).
Já o Kraftwerk voltou ao Brasil para mais uma celebração robótica da era da informação. A ópera midiática eletrônica foi praticamente a mesma apresentada em 2004, no Tim Festival (eles também tocaram no Brasil no Free Jaz Festival de 1998). A repetição do espetáculo não chegou a ser um problema (era bem esperada, na verdade, ainda mais depois que Florian Schneider deixou a banda), mas foi uma pena os alemães não terem apresentado algo novo.
Apesar de ser sempre impactante acompanhar as doutrinas do Kraftwerk ao vivo, faltou Electric Café, Elektro Kardiogramm e Vitamin – e isso, pra mim, é heresia.
E Los Hermanos arrastou milhares de fãs para perto do palco no primeiro show desde o hiato anunciado em 2007. A irmandade da banda é ampla, com milhares de seguidores – todos com os dogmas elaborados pelos cariocas na ponta da língua, como de costume. O show foi longo, recheado por alguns dos rocks de alma nacional mais místicos da atualidade.
Ao fim da noite, a certeza inexorável de que a música é uma instituição sagrada, uma espécie de divindade sônica que se faz mais poderosa quando semideuses como os citados fazem aparições com hora e data marcada.
Passado o transe coletivo, a romaria fez o caminho de volta na Chácara do Jockey, monte abaixo, para, então, espalhar a palavra.
Vídeos:
Creep - Radiohead - São Paulo
Radiohead - Creep Live in São Paulo 2009 - Just a Fest Chácara do Jóckey - Incomplete
Radiohead - Creep (Live in São Paulo 2009)
Radiohead - Fake Plastic Trees - Live in São Paulo 2009 - Just a Fest Chácara do Jockey
Radiohead - Karma Police - São Paulo (22/03/09)
Radiohead - Paranoid Android - Just A Fest - Chácara Jockey São Paulo Brasil 22/03/09
Radiohead - Idioteque - São Paulo (22/03/09)
Radiohead - Pyramid Song (Live In Sao Paulo, 22/03/2009)
Kraftwerk - The Man-Machine @ São Paulo 2009
Kraftwerk - The Robots (2009/3/22, São Paulo, Brazil)
Kraftwerk - Music Non Stop @ Just a Fest / SP (22.03.2009)
Kraftwerk - Radioactivity @ just a fest /SP (22.03.2009)
Los Hermanos - Todo carnaval tem seu fim Just a Fest SÃO PAULO
Los Hermanos - Sentimental Just A Fest (São Paulo 22-03-09)
Los Hermanos - Cher Antoine - Just A Fest - São Paulo - 22/03/2009
Los Hermanos - A Flor - Just A Fest - São Paulo - 22/03/2009
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