Já que comecei a falar na Iugoslávia por aqui, vou puxar mais algumas lembranças da minha estada em Novi Sad. Fiquei hospedada em um dormitório estudantil e, basicamente, me relacionava com estudantes estrangeiros e sérvios. Formávamos uma espécie de comunidade de Babel, em que todos se comunicavam nos mais diferentes sotaques do inglês. Pois bem, nesse clima, não preciso dizer que foi um tempo de muita festa. Saíamos quase todas as noites, e o que é melhor: voltávamos a pé. Tranqüilos.
O dormitório ficava em frente a uma grande praça, bem arborizada, e – para cortar caminho – cruzávamos esta área verde em qualquer horário sem que ninguém achasse aquilo anormal. Ninguém, menos eu, a brasileira. No início, não escondia meu estranhamento (para não dizer: medo) e cheguei a perguntar várias vezes se realmente não estávamos agindo de modo inconseqüente.
– Como assim? Vocês tem certeza que ninguém vai nos assaltar? Ou estuprar? Ou matar? – exagerando um pouco.
As respostas eram só risadas. Caminhar à noite sem preocupação não era nenhum "big deal" para sérvios, americanos, europeus, muçulmanos, mesmo dentro de uma praça. Acabei me acostumando (e como é fácil se acostumar com coisa boa!) e repetindo o trajeto até sozinha. Mesmo assim, nunca chegou a ser uma ação natural. Depois que aprendi a não ter medo, passei a considerar aquela caminhada algo especial, feliz (sempre lembrando da Redenção) e quase me beliscava para me certificar de que estava acordada. Não sentir medo da violência não tem preço! Ou melhor, custa no mínimo uma passagem aérea para outro continente.
Dez anos depois, esta sensação só se renova. A cada viagem que faço a países onde a violência urbana não é um problema, relembro o sentimento das caminhadas na praça de Novi Sad e fico ainda mais triste com a realidade à qual nos acostumamos e até mesmo tomamos uma postura indiferente no Brasil.
Insegurança por bombas
Estive na Sérvia em 1997. Em 1999, acompanhei de longe as notícias sobre a Guerra do Kosovo, quando Novi Sad foi um dos locais atingidos por bombardeios da OTAN. As bombas caíram muito perto do dormitório onde fiquei hospedada e destruíram um ponte que era parte da vista da minha ex-janela. Foi muito sinistro imaginar a insegurança – muito diferente da que estou acostumada – que pessoas que conheci e me aproximei estavam vivendo.
Eta mundinho difícil esse nosso, não?
Histórias, dicas, lembranças e planos de viagens para quem adora passear por aí (e depois voltar para casa). Por Tatiana Klix
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