Uma das explicações para o sucesso do Orkut no país é cultural: o perfil brasileiro de povo afeito à amizade. Leia-se: uma inclinação a se expor na web. O resultado disso é uma certa ingenuidade, a ponto de muitas pessoas publicarem na rede bem mais do que deveriam.
Número de telefone e endereço, por exemplo, são dados perigosos para se estampar. Podem ser usados por pessoas mal-intencionadas. Fotos íntimas em álbuns virtuais também podem ser copiadas por terceiros e até usadas em montagens.
Claro que há uma tendência de as pessoas participarem mais ativamente da internet. Isso tem até nome: web 2.0, um segundo estágio no qual a rede ficou mais colaborativa. Mas a reboque vieram os embates sobre até onde é possível ter privacidade online.
Aventurar-se pelos caminhos cibernéticos requer bom senso. É preciso cuidado antes de preencher dados pessoais e participar de comunidades. Pense antes: será que eu quero que meu chefe saiba que "eu odeio acordar cedo" (nome de umas das comunidades mais populares do Orkut)? Lembre que há casos de empresas que não contratam um funcionário sem antes vasculhar seus dados na rede.
Criticado por ser um prato cheio para os bisbilhoteiros, o Orkut adotou - principalmente ao longo de 2007 - uma série de recursos de privacidade. O usuário pode fechar os álbuns de fotos para que só os amigos vejam, e os recados também - outra possibilidade é restringir quem pode lhe deixar uma mensagem. Só se expõe no Orkut quem quer.
Mas não pense que o Google está sendo bonzinho, preocupado com a privacidade dos usuários. Apesar de forte no Brasil (sete em cada 10 internautas residenciais têm página no portal, segundo pesquisa do Ibope/NetRatings), nos Estados Unidos, por exemplo, o Orkut é quase desconhecido. Os internautas norte-americanos preferem outras redes, principalmente MySpace e Facebook.
Em parte, foi o medo de perder usuários para outros sites (o MySpace ganhou versão brasileira no ano passado e, no Facebook, os dados sempre ficaram menos expostos) que levou o Google a tomar providências.
O Google, aliás, sempre teve uma postura arrogante em relação aos crimes praticados dentro do Orkut. E esses vão bem além da pedofilia. Há casos de racismo, discriminação sexual, difamação, sem falar na propagação de vírus. A subsidiária brasileira usava a justificativa de que os dados estão nos servidores da matriz, nos Estados Unidos - não era o Google Brasil e sim o Google Inc. o responsável. O discurso oficial continua o mesmo, a diferença é que agora veio manifestação de colaborar. O que provocou a mudança? Anunciantes não querem correr o risco de ter sua marca atrelada a uma comunidade de incitação a crimes no Orkut. Veio deles a pressão da forma mais efetiva: a que pesa no bolso.
* Texto publicado na ZH de hoje. Sobre o assunto, também leia os textos dos colegas Humberto Trezzi e Rodrigo Lopes, respectivamente, aqui e aqui.
Vanessa Nunes é colunista de tecnologia dos jornais Zero Hora, de Porto Alegre, e A Notícia, de Joinville (SC). Nasceu em Butiá (RS) há 26 anos e é jornalista formada pela Fabico/Ufrgs. Por que uma foto com um laptop sobre a cabeça? Descobre clicando aqui. E-mail: vanessa.nunes@zerohora.com.br Acompanhe o blog no Twitter @blogdavanessa Faça parte da comunidade do blog no Orkut, acessando AQUI
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