Buenos Aires faz bem. Empresta pilha nova, alcalina. Oferece excelentes livrarias, shows, assados tenros e ao ponto do tamanho de um prato, Malbecs de todas as idades, morenas de aplaudir de pé, confeitarias civilizadas e preços bem camaradas, com o cambio de hoje. Minha ausência está explicada por uma merecida (creia) semana de Argentina, que passou com a rapidez de um 737. Buenos Aires pertence a um país que deu certo no passado, mas perdeu o rumo.
O argentino continua alheio ao Brasil em quase tudo, talvez só o Rio das malditas novelas, o ausente da violência, o fascine. O nosso futebol interessa pouco, quase nada. O dia-a-dia do Brasileirão, por exemplo, é nota curta e simples na imprensa diária. A TV o ignora. Fora dos seus clubes, que têm todo o espaço do mundo, os argentinos que atuam no Exterior chegam em segundo lugar na preferência popular, capitaneado por Messi.
Os vizinhos não oferecem a mínima atenção para o que fazem, pensam e decidem os nossos times mais poderosos. Claro, se tem um argentino usando camisa de cores brasileiras, a atenção ganha novo ritmo. Assim, o Inter de Porto Alegre (como é citado) entrou no noticiário normal depois da ousada contratação de D’Alessandro. E ficou por enquanto.
Encontrei várias pessoas ligadas ao futebol de alguma maneira, jornalistas, amigos, amigos de amigos, garçons, motoristas de táxi, recepcionistas de hotel, gente de todas as cores e gritos, do Boca ao Racing, do River ao Estudiantes, do San Lorenzo ao Rosario Central. Todos, sem exceção, queriam falar de D’Alessandro, apresentar uma definição do abusado jogador canhoto, dar o seu palpite. Sentiam prazer em discutir o jogador.
Num primeiro momento surpreendeu o time brasileiro que mostrou capital abundante para contratar um jogador do primeiro time dos jogadores argentinos. O caminho natural de D’Alessandro seria uma volta ao futebol europeu. Ele é benquisto pelos fãs do River, onde foi revelado. Se mudou de país com bom nome entre os torcedores do San Lorenzo. É acompanhado com interesse por todos os encantados com uma bola no pé.
D’Alessandro surgiu no River como craque com C maiúsculo. Uma comprovação está nas quatro capas que a revista El Gráfico, uma Placar turbinada, concedeu ao jogador. Ele ganhou o mesmo número destinada ao 10 celestial Maradona, já longe da bola, lógico, uma a menos do que "El Apache" Tevez, mas empatado com Palermo, um dos centroavantes da América. Considerando as 74 edições mensais da El Gráfico editadas até o momento, quatro capas é um ótimo número e exibe a realimportância do jogador no cenário argentino.
Todos, com raras exceções, consideram D’Alessandro um meia atacante de grande qualidade técnica (dribles espetaculares), de bom chute, de assistência, de grande coragem, mas de raros e esquálidos gols. A maioria, no entanto, esperava mais, mas muito mais, do jogador nos últimos cinco anos.
No Exterior, em três clubes periféricos, fora do River, ele nunca mais foi o mesmo. Perdeu nome, importância, lugar cativo na seleção, porta aberta nos grandes clubes da Europa. Perdeu dinheiro (ou deixou de ganhar), encurtou o salário.
Na reta final da sua segunda década de vida, Andrés D’Alessandro encontra no Colorado uma bela (e urgente) oportunidade para tentar recuperar o seu melhor futebol. Que ele joga, todos sabem, lembram do que já viram e podem jurar. O quanto é que ele pode jogar, agora em Porto Alegre, é o que todos gostariam de saber.
D’Alessandro chega ao Inter com a torcida, órfã de Fernandão, aos seus pés, imaginando o desembarque de um jogador fora de série. Ele era assim no começo dos seus 20 anos. Se perdeu depois por uma série de razões. Resta saber se no Estádio Beira-Rio ele vai reencontrar a chave do sucesso. Os argentinos com quem falei não duvidam da volta do melhor D’Alessandro. Mas querem ver para crer. A curiosidade deles é do tamanho das dos gaúchos.
Bola Dividida é a coluna dos repórteres da editoria de Esportes de Zero Hora, editada por Luiz Zini Pires. Informações, comentários e análises sobre o futebol e outros esportes.
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