Na legião azul que levantou o Bi da América, Danrlei foi um dos poucos que não tomou um Boieng rumo ao estrangeiro. Na época, na primeira parte dos anos 90, goleiro brasileiro jogando na Europa era raridade. Taffarel era o único embarcado na Itália, mas em time pequeno, da metade da tabela para baixo.
Quando o polêmico e multicampeão Danrlei deixou o Grêmio, depois processando o clube, a goleira ficou órfã. A grama maldita da pequena área foi amaldiçoada duas vezes. O sucessor de Danrlei, explosivo, porém muralha, não aparecia na virada do terceiro milênio.
O Grêmio varreu o mercado. Foi do norte ao sul, bateu na Argentina e no Paraguai, revirou as suas categorias de base e não encontrou ninguém, nem sombra, uma mínima esperança. Todos lembravam goleiros de passagem, de uma temporada só, de pouca confiança, de altos e baixos, mais de baixos.
O desembarque de Víctor foi discreto. Foi um caipira do Interior paulista chegando numa outra grande cidade de outro Estado com nova cultura. Chegou desconfiado, olhando para os lados, precisando de um tempo para se adaptar, conhecer as pessoas, saber onde estava pisando, olhar nos olhos dos companheiros para saber quemera quem.
Ao contrário do sanguíneo Danrlei, Víctor é de uma calma só. Fala macio, coloca cada palavra em seu devido lugar, não dispara as frases com a força de uma falta de Rivellino. Não grita com a defesa, ao contrário do outro. Conversa. Aponta. Não abre os braços quando os zagueiros falham. Vai e injeta ânimo no companheiro. É positivo.
O Grêmio está na ponta da Libertadores pelo trabalho coletivos dos seus 11. Mas se alguém quiser apontar uma individualidade, guie o dedo para o peito de Víctor. É ele. É um dos melhores goleiros do Brasil.
Víctor não tem a coleção de títulos do gaúcho Danrlei, talvez nem os tenha num futuro próximo, mas é o único em um década capaz de fazer o torcedor esquecer o ex-número 1. Talvez comparar os dois. Ou dividir uma opinião comigo, que Víctor é mais completo, seja embaixo gol, seja nas saídas do gol.
O gremista mira hoje um dos melhores goleiros da sua história recente. Não é pouca coisa. Lara, o Imortal, seria um aplauso só.
Bola Dividida é a coluna dos repórteres da editoria de Esportes de Zero Hora, editada por Luiz Zini Pires. Informações, comentários e análises sobre o futebol e outros esportes.
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