Com a bandeira erguida, deletado do Gauchão, mas acenando com a liderança do Grupo 7 da Libertadores, 10 pontos ganhos em 12 possíveis (seis fora do Olímpico), o Grêmio atravessa um nebuloso oceano em busca de um novo técnico. A direção errou, sabe que falhou, ao manter o treinador demitido, R$ 220 mil de salário mensal. Quer um outro, superior em tudo ao superado modelo antigo, e R$ 200 mil podem superar bem os R$ 300 mil no contrato mensal. É salário de técnico campeão do mundo.
O carioca Paulo Autuori de Melo, 53 anos, se engaja em projetos. Não assume mandatos tampões. Não precisa. A direção, que patina, errou muito, demais, nos seus primeiros e longuíssimos 100 dias. Não pode falhar ao nomear o novo técnico. Se errar, condena o clube na Libertadores, joga fora o Brasileirão, volta o terror de anos recentes.
O Grêmio deseja o Tri, sonha, respira, vibra Libertadores, mas nem técnico tem no meio da primeira fase. Por melhor que seja o escolhido, ele seguramente não trabalha com magia. Precisa conhecer o grupo, treinar e treinar e treinar e se adaptar ao novo que o cerca. Time se faz com repetição, embora a direção gremista acenou recentemente com outros imprevisíveis conceitos. Ele precisa de tempo e tempo o Grêmio não tem.
O presidente e seu homem forte do futebol vetaram Renato Portaluppi, 47 anos, por uma série de motivos. Mas subiram em outra colina, olharam o futuro, pesquisaram e decidiram por Autuori. Sábia decisão. Ele é um grande e respeitado profissional, três décadas de carreira, campeão nacional, continental e mundial. É qualificado, se vai dar certo ou não é outro problema.
Roth caiu por absoluta falta de capacidade, mas a direção é também um gigantesco ponto de interrogação. O que falta, antes de tudo, é comando no vestiário, voz única, decisão. Os jogadores sentem a fraqueza, as brechas no cimento e falam. Lembra das reclamações de Souza na véspera do Gre-Nal? É exemplo claro de ausência de comando e de comandante. É preciso buscar um idéia de futebol e abraçá-la.
Se fechar com Autuori, o Grêmio não poderia ter encontrado tático melhor. Ele está fácil entre os cinco melhores do pais, talvez entre os três. Eu não seria surpreendido se o chamassem para comandar a Seleção Brasileira caso Dunga bata no poste.
Autuori é um técnico brasileiro "europeizado", no bom sentido da palavra. Gosta do 3-5-2, prefere zagueiros fortes aos de boa saída de bola, reza com a cartilha de dois volantes marcadores, carregadores de bola, homens de choque. Aposta em alas da melhor estirpe, os que tratam bem a bola, os que sabem jogar na lateral e buscar o ataque, caras ofensivos.
Ele olha com carinho o jogador habilidoso ((lembra de Danilo, no São Paulo?) que faz a ligação entre um meio-campo brigador e um ataque com dois homens de movimentação, nada de ficar rodopiando na grande área. O 4-4-2 e suas variações também o deixam satisfeito em determinadas partidas. "Vá por você, não pelo adversário. Mas o respeite, o conheça, tente entendê-lo antes dos 90 minutos", diz até hoje o majestoso Cruyff, com o coração arrebentado de tanto cigarro.
Autuori preza a tática. Muito. A técnica entra depois. A segunda jamais deve superar a primeira. O coletivo manda. A individualidade tem lugar, mas não pode prejudicar o conjunto. É insubstituível, mas deve trafegar em nome dos 11, não de uma estrela cadente.
Se Paulo Autuori for eleito marechal-de-campo do Olímpico, o Grêmio recomeça de verdade. Pode ir além, pode atolar os mais pessimistas.
Bola Dividida é a coluna dos repórteres da editoria de Esportes de Zero Hora, editada por Luiz Zini Pires. Informações, comentários e análises sobre o futebol e outros esportes.
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