Num país como o Brasil, onde a ética não tem fronteiras, é preciso muito esforço para dizer que o futebol vive num solitário e honesto mundo a parte. Como não vive, como trafega no Planeta real, é fácil dizer que a mala branca e a mala preta andam pra lá e pra cá sem pagar passagem, nem pedágio.
São irmãs siamesas na sacanagem e na contravenção. Sabem os caminhos. Conhecem atalhos. Descobriram a cor das portas onde devem bater, as que podem entrar sem olhar para os lados, para trás.
O dinheiro sem origem comprovada serve para motivar e desmotivar, para ganhar, para entregar o jogo. O pecado é o mesmo.
Quem aceita uma pilha de reais para jogar a sua vida em 90 minutos, jogar mais do que sabe e pode, normalmente, é o mesmo que ganha para fazer as suas pernas mais fracas, mais bambas, menos velozes em outra uma hora e meia. Por outro lado, como acreditar em jogadores movidos pelo tilintar das moedas? Quem de sã consciência contrata um jogador com tal perfil? Se ele só joga mais, talvez melhor, movido pelo dinheiro extra, como confiar em gente assim? Como não desconfiar?
Um pacote de dinheiro ilegal leva naturalmente ao outro. São produtos das mesmas cabeças, mas que agem em momentos diversos. Um dia precisa vencer, no outro final de tarde deve perder.
No escândalo do ano no futebol da Espanha, um dos mais ricos, vitrina do mundo da bola, país campeão europeu de seleções, dias atrás, um jogador local disse que aceitou dinheiro para perder um jogo.
Seu nome? Jesuli. Seu preço? US$ 7 mil. Seu clube? Tenerife. Seu raio de ação? A segunda divisão espanhola.
Jesuli recordou numa conversa telefônica, devidamente grampeada, que o Málaga comprou cada um dos jogadores do Tenerife para ganhar a partida entre ambos e assim colocar os pés outra vez na Primeira Divisão. O Málaga venceu por 2 a 1.
A discussão é boa, é real, porque o dinheiro extra está no centro da decisão na última rodada do Brasileirão. Goiás e Atlético-MG não querem mais nada na competição, ao contrário de São Paulo e Grêmio, que desejam o máximo. É só preciso saber se o dinheiro está mesmo solto, quem soltou, em que porta está entrando e com que missão.
Duas perguntas se faz:
1) Ganhar de qualquer jeito, correndo mais do que o vento de primavera?
2) Perder de qualquer maneira desde que não dê muuuuito na vista?
Bola Dividida é a coluna dos repórteres da editoria de Esportes de Zero Hora, editada por Luiz Zini Pires. Informações, comentários e análises sobre o futebol e outros esportes.
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