Amiga, inimiga, companheira, desafeta, a bola não passa por um bom momento nas mãos de Clemer, o jogador mais contestado do Beira-Rio dos nossos diasFoto: Arquivo |
O colorado se martiriza com Clemer. Ele nunca foi o goleiro dos sonhos, mas é o número 1 do melhor sonho vermelho. Ele é amado e odiado. É personagem, jamais será o maior do Inter, mas é eterno enquanto Yokohama florescer como estrela dourada no peito do fã.
Detestado pelos gols recentes que sofreu, em falhas incríveis, amado por defesas espetaculares, como as que praticou em dezembro de 2006 na histórica decisão com o Barcelona, entrou outras, Clemer sobrevive do seu passado recente. O futuro não é dele, ao menos entre os vermelhos da grama verde.
Clemer é herói, é anti-herói. Foi senhor do gol, hoje é inimigo passageiro da própria goleira. Podia ter deixado o Beira-Rio no começo de 2007 como uma referência do arco, laureado, adorado, reverenciado. Ficou, correu riscos, hoje é um bancário com os direitos de titular quase cassados. Clemer é, antes de tudo, um atleta corajoso. Aos 39 anos não acredita mais em limites.
Clemer pecou por achar que era imortal com as chuteiras nos pés. Queria jogar até os 40, talvez depois das quatro décadas de vida, enxergar recordes no seu horizonte de grande área. Imaginou que a idade não cobraria seu preço imediatamente e com a força que rouba de outros jogadores. Errou. Os seus reflexos se mostram um pouco atrasados, algo desorientados desde o ano passado.
O Inter errou ao lado de Clemer, sem trocar o sorriso, ao imaginar que Renan faria a sucessão natural do veterano companheiro. Estava fazendo e Clemer mantinha-se aquecido no banco, quase esquecido, quase memória.
Com Renan, o Inter imaginou a segurança de um novo goleiro por mais meia década, tempo mais do que suficiente para ele se firmar no cenário nacional, continental, e ser vendido. Mas as boas atuações do jovem Renan atrairam a cobiça européia e o jovem goleiro foi embora rapidamente e surpreendentemente, sem novela, sem vai-e-vem, por quase 4 milhões de euros. Bom dinheiro, olhando o valor de um goleiro, péssimo dinheiro, observando o significado de Ranan para o futuro próximo do clube.
Sem Renan, assim de uma hora para a outra, o Inter voltou a depender de Clemer. Imaginou que ele seria o mesmo, mas não é mais. São as suas atuações que dizem que o goleiro é outro. Ao se ver dependente de Clemer, o Inter ficou sabendo que, quem tem dois goleiros, não tem nenhum. É sempre necessário contar com um terceiro. E não havia terceiro.
Foi preciso sair às compras com a pressa dos afogados e, quem tem pressa, sempre compra errado ou o que não quer ou ainda o que tem disponível no momento no mercado. Lauro e Ricardo chegaram, mas ainda precisam contar o que realmente pegam.
Ao sacar Clemer depois de uma nova e bizarra falha, o Inter jogou na grama o diploma do goleiro. Avisou da maneira mais óbvia e escancarada possível que ele não pode mais falhar. Se ele não entendeu foi porque não quis.
Clemer pode ter um pedaço considerável da liderança do vestiário, mas não tem mais a força de outros dias menos recentes e mais gloriosos. Hoje ele é quase mais um entre todos, não pelo passado, pelo presente, o que soma e o que conta no futebol. O quase é porque o Inter ainda depende dele na Copa Sul-americana. A vida de Clemer no Beira-Rio perdeu o rumo do futuro.
Bola Dividida é a coluna dos repórteres da editoria de Esportes de Zero Hora, editada por Luiz Zini Pires. Informações, comentários e análises sobre o futebol e outros esportes.
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