O Inter venceu o clássico. Era a previsão (ao menos a minha), o colorado chegava fogoso de três vitórias consecutivas. O Grêmio patinava, atravessava o pior setembro da sua rica vida, três jogos sem vencer. O que ninguém esperava (imaginar, tudo bem, ok, o sonho é livre) era uma goleada e o Inter enfiou quatro gols no Grêmio ainda no primeiro tempo de um dos clássicos mais fantásticos da história do futebol gaúcho. Será difícil encontrar outro igual com um primeiro tempo assim. Diferentes, com goleadas de uma ou outra cor, devem chegar. Igual,
não creio.
Consulto os mais antigos, pergunto, corro ao telefone, ninguém lembra de algo tão extraordinário nos últimos anos em apenas 45 minutos. O clássico 373 foi atípico, encontrou um resultado improvável, um escore que acontece de década em década. Treze rodadas depois, o Grêmio perdeu a liderança, levou um tranco do seu grande inimigo regional, desabou numa goleada histórica. O resultado do amplo escore pode ter os mais diferentes reflexos. O pior seria uma queda vertiginosa de Celso Roth e dos seus.
O Inter concluiu cinco vezes nos primeiros 45 minutos. Marcou quatro vezes. Incrível! D'Alessandro foi o maestro. Fez o seu, um golaço de pé esquerdo da meia lua da grande área, ajudou na construção de dois e foi o melhor em campo. Seu coadjuvante foi Guiñazu. A noite foi dos argentinos.
O jogo foi também o da consagração do zagueiro Índio, três gols nos quatro Gre-Nais da temporada. Alex flutuou em campo. O Inter inteiro, somado, foi um bloco só. Ganhou com justiça, com tranqüilidade, não fosse a expulsão justa de Tcheco e Edinho, o resultado seria mais elástico ainda.
Acho que Evandro Roman não influenciou no resultado final, mas a cobrança da falta que originou o segundo gol do Inter pareceu apressada demais. O juiz ainda estava formando a barreira quando Guiñazu, usando o pé esquerdo e todos os seus neurônios a serviço do bom futebol, colocou a bola docemente no pé esquerdo de Alex na frente de Victor.
Nos seus raros momentos de lucidez, o Grêmio conseguia chegar perto da área, mas a bola morria na falta de qualidade de seus atacantes. Marcel lembrava um poste, tamanha a sua imobilidade. Perea não conseguia nem o drible. O ataque continua mudo em gols. Dos dois gols marcados em setembro, Léo, o zagueiro, fez um, Tcheco, homem de meio-campo, anotou o segundo.
O que se vê a cada jogo, desde a queda no Maracanã (Flamengo, 2 a 1), é um time em desconstrução, sem energia, determinação, isento da pegada que o caracterizava. Roth se repete, diz que tudo vai melhorar a partir do próximo jogo. Roth sempre começa bem, perde o fôlego na virada dos turnos e depois cai, tropeça, beija a lona como um boxeador atarantado pelos golpes.
O Grêmio é outro time, 11 irreconhecíveis jogadores. Perdeu o pique, a certeza, a tranqüilidade e o caminho dos gols do primeiro turno. Ninguém sabe onde vai parar, ninguém aposta mais que o G-4 possa segurar o ex-líder, hoje um segundo colocado em queda. Goleada em Gre-Nal, você sabe, pode ter efeitos destruidores.
O Inter que emerge do clássico, dos 4 a 1 históricos, é um novo time e que enche de fé e esperança os fãs colorados. Uma equipe mais encorpada, determinada e qualificada. O preparo físico melhorou. O Inter corre mais. Ao marcar mais, pode plantar em campo fértil as idéias de Tite. Criticado, quase sacrificado no mês passado, Tite dá ao Inter a cara de um time poderoso. Capaz de avançar rumo ao G-4. O futuro do Inter se abre com um poder que o time não tinha algumas horas atrás. A goleada vitaminou o time.
Bola Dividida é a coluna dos repórteres da editoria de Esportes de Zero Hora, editada por Luiz Zini Pires. Informações, comentários e análises sobre o futebol e outros esportes.
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