O vestiário do Inter sacode, treme. Passa por um terremoto. O descontentamento é geral, de alguns jogadores com o técnico, do treinador com outros jogadores, dos dirigentes com muitos profissionais. O resultado da insatisfação geral está moldado nos resultados recentes. O espelho da crise é a 11º posição na tabela do Brasileirão, lugar que não é o real do Inter. Seu grande trunfo para dizer que tudo esta bem (e você, eu, a nação colorada e todos, sabemos que não está), é a classificação para discutida e maltratada Copa Sul-americana.
O Inter não se entende direito. A recente mão de ferro que baixou no Beira-Rio é mais uma tentativa de colocar tudo no seu devido lugar. Seus primeiros sinais serão visíveis sábado, mas a Portuguesa é sofrível. Pode enganar os mais eufóricos. Não os mais atentos, que seguramente gostariam de aguardar mais uns jogos, uma viagem, uma partida fora, para unma opinião mais analítica.
O desconforto está presente na declaração de Wellington Monteiro ao ser substituído no jogo com o Vasco, reclamando de Tite em todos os microfones que notou ao alcance da sua voz indignada. Jogador de futebol só reclama assim, alto, quando sabe que o comando está vacilando.
Está vivo nas atitudes de Alex, numa semana Gre-Nal (excelente, por sinal), atacando os médicos e o próprio Fernando Carvalho. Está batendo na cabeça de Nilmar, que lamentou em público não ter sido vendido aos italianos, interrompendo um sonho de atuar no Calcio.
Jogadores que ganha menos reclamam dos que ganha mais, como se dinheiro em excesso ganhasse jogo. Ao substituir seus campeões por outros bom jogadores, o Inter inflacionou a sua folha de pagamento. Paga muito para bons jogadores e algumas apostas que talvez não joguem tanto quanto os que foram embora. Mas é o preço que se paga para tenta substituir um grupo campeão por outro com competência semelhante, segundo que os contrata. O tempo desta troca de atletas, deste revezamento, é outra questão atravessada, discutida, polemizada.
Fernando Carvalho, o presidente favorito da maioria dos colorados, seu dirigente histórico, foi chamado com a pressa das derrotas para ajustar o time, controlar a realidade, tarefa que Vitorio Piffero e Giovani Luigi, em dupla, não conseguiram.
Carvalho, que confia em Tite, sentiu que o trabalho é pesado e que o vestiário precisa de outra reforma, nova fotografia, cara boa. Só que não é tarefa para semana. É trabalho de meses, mas o ano está acabando, os meses de bola correndo são apenas três – e como correm. Há um sentimento geral que Carvalho chegou um pouco tarde demais. Que o Inter de 2008 não sai do lugar. Que o trabalho precisa olhar o centenário. Mas torcida odeia trabalhos de longo curso.
A crise do Inter é gigante porque o clube paga ainda hoje pelo título planetário conquistado em dezembro de 2006. Depois de 21 meses do paraíso japonês, o time campeão sumiu, vive apenas na doce memória do fã. O novo não consegue chegar perto do mais glorioso, o torcedor apaixonado sente. Reclama porque se acostumou com o melhor.
O que está acontecendo com o Inter é rotina observada em todos os clubes que tocam o topo do mundo. É uma queda temporária. O São Paulo bicampeão brasileiro sente agora os feitos do esgotamento de um período de férteis vitórias. Uns demoram mais, outros menos.
O futebol é cíclico e o revezamento na parte de cima é feérico. Ganhar é o máximo, sustentar-se entre os melhores durante longo tempo é tarefa quase impossível.
A conquista mundial colocou o Inter num novo patamar de qualidade e exigência. Ele não será mais o mesmo se não repetir o Mundial Inter-Clubes. Será uma busca constante, diária e eterna e se o time não estive lá perto será pior ainda. Um 11º lugar no Brasileirão é uma faca na alma colorada. O Taça Fifa recuperou o orgulho colorado, mas, ao mesmo tempo, o fez três vez mais exigente do que foi em toda a vida. Bons jogadores não servem mais. É preciso contratar os ótimos.
O Inter está pagando um alto preço para formar um novo time vencedor. O ruim é que não está conseguindo com a velocidade que a torcida quer. O bom é que tem dinheiro, conta com alguns jogadores de alta qualidade e que está tentando.
Bola Dividida é a coluna dos repórteres da editoria de Esportes de Zero Hora, editada por Luiz Zini Pires. Informações, comentários e análises sobre o futebol e outros esportes.
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