O artigo de autoria do diretor teatral Luciano Alabarse, publicado na Zero Hora desta quinta-feira, cuja íntegra reproduzo, abaixo:
Chega!, por Luciano Alabarse*
"Não sei você, mas estou realmente farto desse clima de guerra civil que assola o Rio Grande do Sul. Parece que estamos divididos irremediavelmente em tribos inconciliáveis. Os últimos acontecimentos na esfera de nossa vida pública estão aí para provar o que eu desejaria fosse apenas uma afirmação exagerada. A irracionalidade humana parece ter encontrado no nosso Estado um campo propício para seu desenvolvimento incontrolável. Praticamente todos os dias, um governo politicamente inábil bate de frente com uma oposição intransigente; acusações sem provas contra nossas autoridades fazem parte do nosso cotidiano há meses; movimentos corporativos nos brindam com propagandas difamatórias, como recursos válidos de enfrentamento. Oscilamos, cansados de tantos escândalos, entre o tédio vacinado e o descrédito absoluto em relação às nossas lideranças políticas.
Não imagino viver em uma sociedade de anjos, nem quero. Mas, lendo os jornais do centro do país, me dou conta que essa situação já extrapolou nossos limites geográficos. Nossa incompetência e beligerância são motivos de artigos, reportagens e editoriais. A acreditar na imprensa nacional, temos o mais vergonhoso presídio do país, um governo especializado em arrumar confusões desnecessárias, uma oposição que insiste injustamente em culpar a atual governadora por todas as nossas mazelas e um passado de glórias que nos impede de pensar realisticamente nosso presente prejudicado. Isso sem falar no rendimento de nossa rede de ensino, abaixo de qualquer índice desejável de aprendizado.
O Rio Grande do Sul, hoje, me parece atrasado em quase tudo. Posso estar errado, mas sinto em muita gente um quase orgulho com essa situação. Estamos mais interessados em destruir o adversário político do que restaurar nossa dignidade estadual. Parece que nos dá prazer ver o circo pegar fogo, pelo simples gosto do incêndio. Não sou petista, pedetista, peemedebista, psolista, peessedebista; não sou filiado a nenhum partido, aliás. Nunca fui. Sou gaúcho, simplesmente. Amo minha terra e me interesso por política. Respeito os governantes eleitos e sofro ao ver o Rio Grande chegar em um nível onde gritaria e desrespeito parecem valer mais que bom-senso.
A sociedade gaúcha desenvolve seu jeito próprio de lidar com semelhante situação. O mais perigoso é, sem dúvida, a atual indiferença em relação aos nossos líderes. Como se todos fossem farinha do mesmo saco. Tenho certeza de que não são. Se até os índios americanos fumam o cachimbo da paz, por que não esperar que governo e oposição gaúchos pensem mais no bem do nosso Estado do que no umbigo que a natureza lhes deu? É possível acreditar que os homens e as mulheres de bem do Rio Grande do Sul coloquem suas diferenças pessoais em segundo plano para pensar nos interesses reais do Estado? Ainda acredito que sim. Esse artigo é para isso: dizer que precisamos de todos os Fogaças, Ponts, Yedas, Manuelas, Rigottos e Simons, quaisquer que sejam os nomes que tenham, para tentar reverter esse momento de crise. Do contrário, perderemos ainda mais. Todos nós."