Foto: Genaro Joner, Banco de Dados |
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Reproduzo o que escreveu em Zero Hora, nesta quarta-feira, a jornalista e escritora gaúcha Martha Medeiros. Me sensibilizou a decepção da Martha ao descobrir o que já sei, faz muito tempo: que a rivalidade Gre-Nal, em alguns segmentos das torcidas, transformou estupidez, grosseria e falta de educação em enfermidade crônica.
Na verdade, uma única palavra desnuda esta desagradável realidade: fanatismo. Nada reduz a sociabilidade a ponto de mostrar as pessoas muito menos inteligentes do que na realidade são do que o sectarismo. Se fosse possível fotografar o fanático, ele se surpreenderia ao descobrir o comprimento das suas orelhas.
Mas vamos ao que escreveu a Martha:
"Gente fina, elegante e sincera
Entrei numa loja de discos — estava às moscas, só mesmo eu para comprar CDs — e tocava uma música do Lulu Santos. Aliás, a que mais gosto dele, Tempos Modernos, principalmente daquela parte que diz: "Eu vejo um novo começo de era/de gente fina, elegante e sincera/com habilidade/pra dizer mais sim do que não..."
Faz um tempão que euespero esta nova era começar, mas por enquanto ainda vejo por aí gente grossa e deselegante, que não dá a menor importância para a maneira como trata os outros.
Lembrei dessa música poprque semana passada publiquei no meu blog um texto de não mais de 10 linhas falando sobre minha satisfação com a conquista do Inter no Campeonato Gaúcho e me declarando uma colorada sincera, porém meia-boca, já que foi-se o tempo em que eu ia ao estádio e sabia a escalação de cor. Hoje acompanho o time de longe, mas ainda me emociono com grandes conquistas.
Audácia minha, declarar que sou colorada em público. Há quem considere isso um insulto, e xinga pra valer. Não importa que seja uma minoria: enquanto existir um único destemperado que parta pra ignorância por causa de algo tão saudável como o esporte, o risco de violência nos estádios continuará existindo. A rivalidade sempre fez parte do jogo e uma segunda-feira sem flauta não é uma segunda-feira. Mas há quem leve esta rivalidade a sério demais, e imagino que sejam essas as pessoas que vão aos estádios em busca de discussão e pancadaria.
Tem muita gente que ainda se sente ofendida pelas diferenças dos outros — qualquer diferença. Incapazes de levar a vida com leveza, eles espancam homossexuais, mendigos e prostitutas, discriminam os que têm tatuagens, revoltam-se com os que votam em partidos que não o deles, perseguem os que possuem outra religião e, claro, brigam feio com torcedores de outros times. Essa é a maior bandeira que o inseguro pode dar: SE HÁ PESSOAS QUE NÃO SÃO COMO ELE, TALVEZ SEJAM MELHORES DO QUE ELE, então só lhe resta atacá-las, agredi-las, destruí-las. Conviver em paz, nem pensar.
Sigo aguardando um novo começo de era, com gente fina (que não é sinônimo de riqueza), gente elegante (que não é sinônimo de grife) e gente sincera (que não é sinônimo de brutalidade), com habilidade para cuidar do planeta, não apenas no que diz respeito a ecologia, mas também em relação ao superaquecimento dos ânimos. Gente mais cool — não necessariamente gelada — torna o ar mais respirável."
A Martha, no seu desabafo cordial, ao dar um breve passeio no mundo real do futebol, atualmente, descobriu o que este blogueiro lamenta, há alguns anos: o sectarismo de parte das torcidas. Não foi sempre assim, não nos moldes de hoje.
Estas pessoas não acreditam, por exemplo, que possa existir alguém que não seja dominado pela paixão clubística. E até forjaram um frase de gosto duvidoso, para enquadrar estes "alienígenas": são filhos de chocadeira. Pobrezinha da dona Iracema, minha mãe.
O diabo é que, sequer, são informados. Devem ler muito pouco. Não fosse assim, saberiam que pesquisas recentes mostram que menos de 30% dos brasileiros são aficionados pelo futebol. É um universo gigantesco, cerca de 50 milhões de torcedores. Mas muito maior é o segmento que apenas se liga neste esporte durante a Copa do Mundo. Gostam de futebol, mas não atrelam sentimentos a clubes. Sequer freqüentam estádios. Estes são maioria entre os brasileiros, passam dos 100 milhões.
Mas, para os "antropólogos" do radicalismo, são todos filhos de chocadeiras. Aqui no RS amado, por exemplo, decretaram que é proibido gostar de futebol sem vestir azul ou vermelho. E, se alguém se atrever a dizer o contrário, são capazes de questionar a natureza e jurar que, quando nasceram, foram conduzidos pelo longo bico de uma cegonha.
Não liga para eles, Martha.
Eu sou apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no bolso, nascido em Três Passos (RS), na longínqua data de 16 de julho de 1949. Na minha carteira profissional está escrito: jornalista e radialista. Carregando...
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