Maria Augusta Ramos é diretora e roteirista do documentário JuízoFoto: Rogério Reis, divulgação |
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Brasiliense de sotaque carioca, musicista que gosta de silêncio, brasileira cidadã do mundo. Maria Augusta Ramos é uma mulher-paradoxo, até na hora de filmar. Prova disso é o seu mais novo longa, Juízo, documentário que se utiliza da ficção para chocar o espectador. A respeito do filme, que mostra adolescentes infratores frente a frente com agentes do judiciário, resume: “Eles (julgados e julgadores) falam a mesma língua, mas não se entendem. É um mundo partido ao meio”.
Nascida em 1964, Maria Augusta é formada em Música pela Universidade de Brasília (UNB). Depois da graduação, foi para a Europa em busca de especialização, passando, inicialmente, por Londres e Paris. Em 1990, mudou-se para a Holanda, onde estudou direção e edição de cinema. Apesar de já ter dez filmes no currículo, tornou-se mais conhecida apenas em 2004, com o documentário Justiça, primeiro da trilogia que aborda o sistema judiciário brasileiro, que recebeu nove prêmios internacionais. Juízo é o segundo da série.
Sobre o assunto que enfoca em seus projetos, Maria Augusta reconhece que pouco entendia do tema até começar a pré-produção. “Eu tinha uma visão daqueles tribunais americanos. Mas fui fazer a pesquisa e me encantei com o teatro que são os rituais da justiça”, explica. “Faço um cinema de observação. Estou interessada em como as pessoas se relacionam”. Daí a prerrogativa para a opção de utilizar a câmera estática e distante nas filmagens, em detrimento da “câmera na mão” preferida pelos documentaristas em geral. “Esse distanciamento gera uma reflexão. Convido o espectador a concluir por si só.”
Dentre os tantos comentários gerados por Juízo, há a grande polêmica em torno do comportamento da juíza Luciana Fiala, que trata os adolescentes com pulso forte, exageradamente, segundo alguns. Mas a diretora não reprova Luciana, considerando que apenas a atitude de se deixar filmar é um grande ato de coragem."Todos eles tiveram grande coragem, porque o que vemos ali é a justiça se colocando em juízo.”, defende. “Existe a consciência de que a situação está incontrolável, há uma sensação de impotência. A juíza também é uma aprisionada.”
Outra questão que movimenta as discussões sobre o filme é a substituição dos garotos reais registrados nas audiências por outros meninos, não-infratores (e não-atores), mas com a mesma realidade dos verdadeiros julgados. A cineasta foi buscar em favelas cariocas, uma delas a famosa Cidade de Deus, jovens para dar vida aos depoimentos. E foi um golpe de mestre. “Quem são esses adolescentes? Eles têm consciência da miséria, da falta de futuro, e por isso são apáticos. Isso é o Brasil”. E tem gente que não vê...
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