Desde Danrlei, o Grêmio não tem um goleiro confiável, mas isto parece estar acabando com a afirmação indiscutível do arqueiro Victor. Hoje mesmo, dois colunistas da RBS, Wianey Carlet e Nando Gross, citaram a afirmação do goleiro, o melhor em campo na goleada de 3x0 sobre o Goiás que quebrou 12 anos sem vitórias no Serra Dourada.
Danrlei foi a síntese do Grêmio no período áureo de títulos entre 1994 e 2001. Mas mesmo o ídolo máximo dos gremistas no final da década de 90 e início do século XXI alternou fases ruins como o período entre 97 e 99 e ainda o ano de 2003, seu último em dez anos como titular do Tricolor.
Eu, como sempre fui admirador da posição e tenho um bom conhecimento do assunto, considero que Danrlei sempre teve ótimos momentos quando teve um bom ou ótimo preparador de goleiros. Isto aliado a um talento natural poderia ter feito o arqueiro tricolor, de ótimos reflexos, boa saída de gol e agilidade, se tornar um goleiro de nível internacional.
Porém sua eventual displicência nos treinamentos, algo quase inconcebível no mundo dos goleiros (o primeiro a chegar, o último a sair), somado ao seu irascível temperamento (veja abaixo a lista de confusões nas quais Danrlei se envolveu), deixaram o arqueiro gremista com a fama de polêmico, temperamental e imprevisível.
O primeiro treinador de goleiros de Danrlei no profissional como titular foi Mazaroppi, que ficou até 1996. Para mim esta foi a melhor fase do goleiro gremista, diversas vezes convocado para a Seleção Principal, vice-campeão da Copa América 1995 e medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996.
Em 1997, assumiu Ademir Maria e de lá até 1999 Danrlei passou por um péssimo momento. Em certo ponto de 1998 e 1999, a torcida pediu a volta de Émerson, que vinha de passagens muito boas em Bragantino, América-RN e Juventude, o que não foi possível por questões pessoais. Muito contestado, Danrlei só não foi barrado oficialmente porque o reserva Murilo também tinha problemas técnicos e não conseguiu se firmar nas oportunidades que teve.
Em 2000, Danrlei passou a ser treinado por Pedro Santilli, preparador de goleiros de confiança do treinador Émerson Leão. Este foi embora rapidamente, mas Santili ficou por muito tempo, só saindo no início de 2003. Novamente Danrlei passou por um grande momento com um dos três melhores preparadores de goleiros do Brasil, na minha opinião.
Coincidência ou não, o goleiro tricolor voltou a ter momentos bem ruins após a saída de Santilli, com o ápice ocorrendo contra o Independiente de Medellín, quando o ícone tricolor falhou nos dois gols que selaram a eliminação gremista na Libertadores do seu Centenário. A máxima de que "Danrlei nunca falha em momentos decisivos" já não tinha mais sentido.
Nos meses finais daquela temporada, Danrlei entrou em atrito com o então técnico Adílson Batista, capitão dentro de campo do time multicampeão dos tempos de Felipão. Desgastado, o goleiro saiu do clube após mais de 600 jogos e se criou uma espécie de "maldição", já que nenhum dos sete goleiros seguintes se firmaram no Olímpico. Naquele ano, Danrlei foi substituído pelos prata-da-casa Eduardo Martini e Marcelo Pitol, com resultados altamente insatisfatórios.
Claramente insuficientes para o Tricolor, eles foram substituídos em 2004 pelo paraguaio Tavarelli, campeão da América pelo Olímpia e titular do Paraguai, e pelo desconhecido Márcio, então com passe do São Paulo mas que veio do Paulista de Jundiaí. Revoltado com a falta de chances, a promessa gremista Andrey foi embora do clube. Tavarelli foi um dos maiores desastres documentados no Olímpico naquele trágico ano. Já Márcio acabou se saindo melhor que o provocativo paraguaio, sendo um dos poucos a se salvar.
Em 2005, Márcio ficou e dividiu a titularidade com o recém-contratado Eduardo. Este pediu para sair, por não aguentar a pressão da torcida na Série B, enquanto o primeiro falhou muitas vezes e perdeu espaço. Na reta final da Série B, o então técnico Mano Menezes promoveu os então garotos Galatto e Marcelo Grohe.
Com atuações bastante seguras, Galatto virou o titular do time. Na última partida da Segunda Divisão, ele entrou para a história gremista ao se tornar personagem-chave da "Batalha dos Aflitos", pegando a penalidade de Ademar quando o Grêmio só tinha sete jogadores em campo.
No ano seguinte, o arqueiro sofreu várias lesões e perdeu a posição para Marcelo, que foi campeão gaúcho como titular em 2006. Até o final da temporada, ambos os goleiros já eram contestados dentro do clube, com muitas falhas ao longo daquele Brasileirão no qual o Grêmio foi muito bem e ficou em 3º lugar.
Sem opções, a diretoria comandada por Paulo Odone buscou um novo nome no mercado, e o escolhido foi o goleiro argentino Diego Sebastian Saja. Este começou muito bem, mas aos poucos foi perdendo a confiança da torcida. No final do ano, uma lesão no braço e um valor razoável para sua permanência em definitivo selaram o destino de Saja, que acabou devolvido ao San Lorenzo.
No início deste ano, o então técnico Vágner Mancini indicou um goleiro para ser seu titular: Victor, que assim como Márcio veio do Paulista de Jundiaí. Ele chegou sem destaque em nenhuma competição anterior. Quase todos, e eu inclusive, achamos que a indicação foi uma espécie de "bruxismo", com Mancini indicando um atleta que já tinha sido comandado por ele.
Victor começou a Pré-Temporada disputando posição com Marcelo Grohe, e com uma lesão deste, virou titular. Aos poucos foi mostrando muita segurança e qualidade técnica nas primeiras rodadas do Gauchão, se desinibindo no comando da defesa gremista. Contra o Caxias e contra o Esportivo, salvou o Grêmio de ser derrotado.
Porém o goleiro sofreu uma inusitada lesão nos rins e ficou dois meses fora. Mas Marcelo Grohe, de atuações apenas razoáveis, voltou a se machucar, fornecendo espaço para Victor reassumir a camisa número 1. Ele novamente mostrou as mesmas qualidade do início da temporada 2008, só que desta vez contra times mais qualificados do Campeonato Brasileiro.
Ainda é cedo para dizer que a "Maldição Danrlei" foi enfim quebrada. Porém não vejo melhor oportunidade que esta para este ciclo, enfim, ser quebrado.
Anexo I - As confusões de Danrlei, salvo esquecimento:
1995 - Agressão pelas costas a Válber, do Palmeiras, no Olímpico, pela Libertadores
1996 - Agressão ao árbitro Sílvio Oliveira em jogo beneficente
1998 - Em um treino, briga a socos com o goleiro reserva Sílvio 2000 - Tem a carteira de motorista cassada por excesso de infrações
2001 - Bate-boca com o árbitro Carlos Simon, que é acusado de declarações sobre sua ex-mulher Michelle, então casada com o ex-gremista Palhinha.
2001 - Agride o diretor Dênis Abrahão com um soco flagrado pela TV em jogo da Copa Conmebol em Córdoba.
2002 - Acusado de agredir bandeirinha Walter Rial e é suspenso por um ano pela Conmebol
2002 - Briga a socos em treino com o goleiro Eduardo Martini, então seu reserva
2002 - Adverte Robinho e Diego, do Santos: se continuassem irreverentes, poderiam ter uma perna quebrada
2002 - Bate com o carro em acidente violento. Acusado de estar sem carteira, alega que era carona
2003 - Indiciado por tentativa de agressão a um árbitro reserva de um Gre-Nal. Foi absolvido no julgamento
Anexo II - Todos os títulos de Danrlei:
Gauchão (1993, 95, 96 e 2001), Copa do Brasil (1994, 97 e 2001), Brasileirão (1996), Libertadores (1995), Recopa (1996), Copa Sul (1999), Pré-Olímpico (1995, pela Seleção), Copa Renner (1995), Troféu Colombino (Espanha, 1997), Troféu Sanwa Bank (1995), Taça Cidade de Porto Alegre (1995)
Nome: Alexandre Perin Analista de Suporte de T.I. da área Online do grupo RBS, também um apaixonado e profundo estudioso dos esportes.
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