...que o zagueiro Régis viu sua história no futebol desabar junto com ele no gramado. Não vou relatar o corrido porque isso todo mundo já conhece, nem me referir ao agressor porque isso cabe mais a Deus e a justiça do que a cada um de nós. Vou relatar o que vi e ouvi quando visitei a casa de Régis essa semana em Gravataí, para uma matéria. A avó dele saiu dos fundos da casa, do nada, com os olhos marejados dizendo: "eu preferia dormir todos os dias em um albergue, durante dois anos e dois meses, do que passar o que a gente passou com o Régis!". Aquilo me emocionou sabe?!?!? Os pais de Régis saíram em direção ao hospital onde estava o filho logo depois do incidente, sem ter a verdadeira noção sobre o que estava acontecendo. Chegando lá, ouviram do médico que cada minuto a mais de vida era um minuto a menos de vida, e que ele não resistiria por mais muito tempo. Ao invés de se abraçarem, cada um saiu para o um lado, aos prantos, inconsoláveis. O pessimista médico não contava com a vontade de viver que o menino de, então, 21 anos tinha. Ele ficou 28 dias no hospital, 11 deles em coma profunda, e mesmo fora do coma só foi abrir os olhos no 18º dia. Ainda assim, não esboçou nenhum tipo de reação durante 3 meses. Era o que chamamos de pessoa que vive de modo vegetativo. Com seus 1m91 de altura, emagreceu 25 quilos, e teve que recomeçar sua vida do zero, como se fosse uma criança. Dona Marion, sua mãe, ficava sem dormir ao lado da cama, onde ele estava amarrado para não tirar os aparelhos que o mantinham vivo. Como ele não tinha noção do que estava acontecendo com ele, agitado, a primeira coisa que fazia era tentar tirar o que estava lhe incomodando. Régis Tadeu da Rosa Junior, antes do soco que levou no jogo, era uma pessoa distante, tinha dificuldades de abraçar alguém, dedicar um carinho. Hoje seus pais o vêem como uma pessoa bem mais afetiva, carinhosa. Depois do incidente, que lhe causou traumatismo craniano, fratura no maxilar e a perda do campo de visão do lado direito do olho (em função de um desvio do nervo ótico)... o jogador precisou fazer natação, terapia com cavalo, hidroginástica, ballet e três anos de fisioterapia. Teve que reaprender tudo...a falar, caminhar, tudo tudo. Sem falar que até hoje toma anticonvulsivos. No meio da entrevista, tive que repetir as perguntas várias vezes, porque ele esquecia o que eu tinha perguntado. Sua memória recente se apaga e ele ainda tem muita dificuldade com o lado direito do corpo. às vezes fica com o lado direito todo tremelico. Régis não toca no nome de Darzone. Diz que não quer pensar nele. Que lembrar dele só o faz voltar ao passado e a sua vida é o presente e o futuro. Não quer pensar no que poderia ter sido ou que poderia ser hoje na vida se a agressão não tivesse ocorrido, quer pensar no que é hoje... e no que poderá ser amanhã. Há alguns anos, seu irmão, Rafael, hoje goleiro do Esportivo de Bento, foi jogar no São Gabriel e, quando chegou lá, descobriu que Darzone jogava lá. Não queria ficar. Pois Régis pai e Régis filho foram até lá pra convencer Rafael a ficar. Pouco tempo depois, foi Darzone que deixou o São Gabriel. Régis está apaixonado, noivo... vai casar com a sua querida Juliana, que ele conheceu ha 4 meses. E não fica muito tempo sem um sorriso no rosto. Adora jogar vídeo game e segue sendo colorado, time que deu seus primeiros passos antes de ir jogar no Caxias. No Play 2 o seu time é o Inter, ainda com Tinga, Fabiano Eller e Sóbis, embora hoje ele admire Ronaldinho Gaúcho, Pato e Nilmar. Estudante de Educação Física, ele leva um gravador pra aula, pra não esquecer das coisas quando estiver em casa. É assim que tem feito para não sair derrotado diante da sua memória atingida. Como recebe pelo INSS, por acidente de trabalho, não pode trabalhar, e vive com um salário de menos da metade do que ele recebia quando estava jogando. Ele mesmo diz que não dá pra sobreviver e que tem vergonha de ser sustentado pelo pai, já que se considera um homem feito já, aos 28 anos. Para isso aguarda que alguma universidade disponibilize uma bolsa de estudo para ele levar seu sonho adiante. Além disso, ele junta a meninada e dá aulas de futebol para a garotada do bairro, como voluntário... Ta aí uma história triste e feliz ao mesmo tempo. A cada dia Régis mostra que é um vencedor. É exemplo nas faculdades, nas famílias de pacientes que tiveram traumatismo craniano. E como não tem lembranças de nada do que aconteceu na hora do jogo, prefere ser lembrado como um exemplo de superação na vida, do que por ter sido vítima de um dos episódios mais violentos já registrados no futebol gaúcho.
Nome: Débora de Oliveira Gostaria de dividir com vocês minhas opiniões e aventuras nesse mundo da bola e nesse mundo do jornalismo.
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