O deserto de Atacama pelo caminho de retornoFoto: Irmgard Klix |
Na véspera de embarcar para outro continente bem longe comigo, a Irmgard terminou seu relato da viagem pela Amércia do Sul, em tom muito emocionado:
"Agora começa volta desta extensa viagem, que obviamente foi tão longa quanto a da ida, mas feita com menos paradas e menos atrativos turísticos. Não seguimos o mesmo caminho. O retorno aconteceu via Arequipa (Peru), em direção à costa do Pacífico, quando entramos no Chile e atravessamos o deserto de Atacama, para então ingressar na Argentina na altura de São Pedro de Alcântara (Chile) e atravessar o país rumo a Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina.
Ao atravessar a fronteira do Chile, constatamos que estávamos entrando num país com aparatos de segurança semelhantes aos dos países desenvolvidos: cão farejador para vistoria do ônibus e das bagagens, raio-x para visualizar as malas e controles informatizados, tudo com muita rapidez e gentileza, contrastando com todas as outras fronteiras que já havíamos passado e que ainda se apresentavam em instalações precárias, com mão de obra sem formação e uma burocracia sem sentido.
O deserto do Atacama localiza-se a 2440m. acima do mar, entre o Oceano Pacifico e a Cordilheira dos Andes, sendo o mais alto deserto do mundo, entremeado por pequenos oásis, cadeias de vulcões nevados (alguns ainda ativos), dunas imensas, lagoas salgadas. Ao avistar os enormes cactus próprios de paisagem de deserto, realmente concluí que valia a pena passar por este esquecido pedaço de terra.
Fizemos um pernoite na cidade de Iquique, que é um importante porto de exportação de sal, a maior zona franca da América do Sul e possui belas praias utilizadas principalmente para esportes náuticos. A zona franca acaba sendo um sonho de consumo de todo turista que está num ônibus e não tem limite de peso para suas compras, mesmo tendo que respeitar as cotas de importação.
Na Argentina, passamos pela Quebrada de Humahuaca, que é um vale do Rio Grande, cercado por montanhas multicoloridas, e fizemos mais um pernoite antes de chegar ao Brasil, na cidade de San Salvador de Jujuy.
De volta a minha casa, percebi que estava com a latinidade mais aguçada, me sentindo uma sul-americana com muito orgulho, por toda esta beleza da paisagem, mas principalmente por pertencer a um continente verdadeiramente miscigenado e de um sincretismo religioso ímpar".
Foto: Irmgard Klix |
A viagem de ida a Machu Picchu terminou e aqui temos o prazer de receber o relato sobre a visita da Irmgard Klix às ruínas:
"Bem, finalmente estaremos chegando às ruínas de Machu Picchu. No dia previsto para seguirmos até lá, houve uma queda de barreira sobre a via férrea, por onde trafegam os trens que nos conduziriam até a localidade de Águas Calientes, estação mais próxima a Machu Picchu. Com este contratempo ocasionado pela natureza, ganhamos mais um dia livre na cidade de Cusco, enquanto os trechos danificados foram recuperados, e pudemos então viajar até Águas Calientes, parcialmente de ônibus e parcialmente de trem, que segue ao longo do Rio Urubamba. Para os mais aventureiros e fisicamente preparados há a Trilha Inca, que dependendo do local onde se inicia a caminhada pode durar de dois a cinco dias.
Quando foi descoberto?
Os indígenas quéchuas que viviam na região andina referiam a existência de uma cidade escondida no meio da selva, quando o historiador americano Hiram Bingham, em 1911, acompanhado dos índios encontrou a cidade perdida dos incas, que estava completamente coberta pela vegetação. A partir daí diversas expedições foram organizadas com objetivo de desvendar as funções das ruínas e mapear a região. Os objetos e as múmias foram retirados do país, estando hoje em grande parte nos museus dos Estados Unidos.
História e mistério
O mistério em torno da Cidade Sagrada permanece, mas especula-se que teria sido um centro administrativo e sagrado dos Incas, com uma área agrícola e uma urbana. Terraços demonstram as avançadas técnicas de cultivo dos incas e na área urbana nota-se uma arrojada arquitetura com pedras milimetricamente encaixadas, onde se identificam praças, santuários, fontes, torres, tumbas, prisões.
Espiritualidade
O alto desenvolvimento espiritual do povo Inca com toda uma mitologia ainda muito presente na crença do povo peruano gerou uma religiosidade sincrética, em que se identifica o catolicismo e a crença anímica dos incas.
Águas Calientes
Povoado que fica ao pé do morro, há 8 quilômetros da cidade inca, Águas Calientes serve de apoio logístico e turístico aos milhares de viajantes que para lá se dirigem. Há banhos termais, subindo pela rua central do povoado, altamente relaxantes após a caminhada em Machu Picchu e todas as emoções vivenciadas no contato com uma civilização altamente espiritualizada e dizimada sem deixar escrita a sua história".
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Foto: Irmgard Klix |
A viagem da Irmgard pela América do Sul está cada vez mais próxima do seu destino principal. Veja as impressões da viajante sobre Cusco:
"A partir de Puno começamos a nos dirigir para Cusco, pelo altiplano localizado entre as cordilheiras dos Andes. Cusco ou Cuzco, ou ainda Qosqo, no idioma quéchua, acredita-se que seja a cidade continuamente habitada mais antiga da América. Quando os espanhóis passaram a colonizar a região, a cidade já era capital do Império Inca. Atualmente, a metrópole que tem forma de um puma - animal representativo da vida terrena na mitologia Inca - é capital do departamento e da província de mesmo nome e tem aproximadamente 300 mil habitantes, a grande maioria deles de origem quéchua. Situada a 3.300 m de altitude, tem temperatura média anual de 11ºC: rola sempre um friozinho, chuvinha e sol quente, tudo no mesmo dia.
Visitada por pessoas do mundo inteiro, é muito receptiva com brasileiros. Os moradores nos adoram e fazem a maior festa quando ficam sabendo que somos do Brasil! É também uma cidade muito bonita, com igrejas e prédios construídos pelos espanhóis sobre os alicerces das construções dos Incas, além de museus e feiras de artasanato que já bastariam para uma visita, mas o que faz dela um grande atrativo são seus arredores, onde estão o Vale Sagrado dos Incas, o Parque Arqueológico de Pisaq e diversos outros sítios cujo ponto alto é Machu Picchu, a 112 quilômetros por via férrea. É de lá que vou escrever na próxima vez. Até breve".
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Chegou a terceira parte da viagem pela América do Sul, por Irmgard Klix. As fotos são da mesma viajante:
"Confesso que estou muito lenta para fazer os meus relatos, mas prometo me redimir. No post anterior, estava em La Paz, onde começamos a tomar contato com a altitude e as feiras de artesanato andino, com suas belas cores e infinitas maneiras de utilização da lã de lhama, alpaca. Mesmo sabendo da grande influência indígena na cultura dos países andinos, a nós brasileiros causa surpresa a efetiva participação dos índios no dia-a-dia da vida destes países, uma vez que os nossos índios, com raras exceções, estão restritos às aldeias e reservas. O city tour feito em La Paz foi guiado por um índio chamado Pablo, que nos relatou um pouco da cultura e da participação na sociedade tida como “civilizada”. Segundo ele, a divisão política feita pelos colonizadores espanhóis não coincide com a pátria dos índios Aymara, Quéchua e Guarani, que começa no sul do Chile e vai até a Venezuela. Na cidade de La Paz, uma cena chama a atenção: caminhões vendendo pequenos tubos de gás, guardados por policiais armados, e enormes filas de cidadãos aguardando a vez para adquiri-los, denotando a dificuldade de distribuição da matéria prima que lá existe em grande quantidade (a ponto de ser exportada ao Brasil por um gasoduto que vem até Florianópolis).
A partir de La Paz, seguimos até o sítio arqueológico Tiwanaku, já a caminho do Peru, que continua sendo escavado por arqueólogos e tem origem que remonta de 1500 A.C. até 1200 desta era. Tiwanaku, assim como o Império Inca, foi destruído e sacado em sua riqueza pelos colonizadores espanhóis. A posse festiva do atual presidente da Bolívia, Evo Morales, aconteceu nesse sítio, numa cerimônia indígena, objetivando o resgate e valorização da cultura local.
Às margens do belíssimo Lago Titicaca (o lago que fica em maior altitude do mundo), está Puno. A região é habitada por tribo indígena em ilhas flutuantes de Uros, formadas por uma espécie de junco, de nome totora. Nestas ilhas, toda a vida dos índios gira em torno deste material que pode servir de alimento, para construção de casas e barcos, material de confecção de artesanato etc, etc. As crianças lá são alfabetizadas em escola pública, que também está construída sobre o junco, onde aprendem a língua mãe (que pode ser o quechua ou aymara) e também em catelhano".
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Foto: Irmgard Klix |
O aviso é para viajantes e moradores em Cochabamba, na Bolívia, mas bem que poderia ser aplicado em outros lugares como a Cidade Baixa, em Porto Alegre, né?
Feira em Cochabamba, Praça Murillo em La Paz e paisagem bolivianaFoto: Irmgard Klix |
Em janeiro, a Irmgard Klix, minha mãe, começou a relatar aqui uma viagem que fez de ônibus pela América Latina e prometeu mais posts com suas aventuras. Demorou, mas o segundo capítulo apareceu: Aí:
"Bem, após ter prometido escrever sobre a minha viagem a Machu Picchu, muitas coisas imprevistas aconteceram neste verão que está chegando ao fim. Principalmente, nasceu a nossa netinha Marina, que no seu afã de vir ao mundo adiantou-se em sete semanas, dando-nos um susto – que não passou disto. Agora, está saudável e linda, sob o cuidado e carinho dos pais Fabíola e Renato, e vamos ao que interessa:
Quando entramos na Bolívia, saindo da Argentina, a paisagem se modifica muito, pois começamos a subir em direção ao altiplano – uma região plana entre as duas cordilheiras dos Andes, com uma paisagem bastante inóspita de coloração nos tons outonais. O capim é meio ocre, as casas são de barro marrom (o que as mantêm aquecidas) sem janelas (para não entrar o frio) e cobertas com palha de um capim local, as poucas árvores são de uma cor amarelada e a região é habitada pela população indígena. No local, o cuidado com os rebanhos de ovelhas, alpacas ou lhamas é tarefa das índias, que em contraste com o aspecto acromático da paisagem, vestem-se com roupas muito coloridas de tons vivos, o que, aliás, é a base do artesanato (muito lindo e acessível) dos países andinos.
Para chegarmos até La Paz, que está a 3.650m acima do nível do mar e tem 2 milhões de habitantes, passamos por Santa Cruz de La Sierra (1,2 milhão de habitantes) – onde jantamos e fizemos uma caminhada pelo centro da cidade – e por Cochabamba (2.700m de altitude e 400 mil habitantes) – onde almoçamos e também pudemos fazer uma caminhada por uma feira que me lembra as nossas enormes feiras do nordeste com produtos artesanais, manufaturados, frutas, verduras, carnes, pães e muita comida típica.
Preparação para a altitude
Daí em diante a viagem entra no período de adaptação dos passageiros à altitude que iríamos enfrentar em todo percurso. Devo dizer que eu subestimava tal mal-estar quando ouvia viajantes se referirem ao problema, mas efetivamente há toda uma preparação necessária para a situação. Segundo o guia nos informou, nosso pulmão brasileiro teria quase a metade do tamanho do que o dos que lá vivem. Para quem tem mais dificuldade na respiração, o ônibus oferece um tubo de oxigênio, e o guia comprou folhas e chá de coca para tomar e mascar, estimulantes utilizado há milênios pela população indígena (não confundir estes produtos “in natura” com a cocaína industrializada, flagelo da drogadição!).
Ao chegarmos em La Paz, à tardinha, o centro da cidade, onde ficamos hospedados, era algo muito confuso, com um trânsito caótico e muitas buzinas. O hotel onde ficamos tem comprimidos para oferecer aos hóspedes com mal estar e até médico de plantão para ser chamado, caso necessário. O guia nos informou que nunca precisou retornar algum passageiro, todos acabam se acostumando com o ar mais rarefeito da altitude."
Mais: Ida & Volta a Machu Picchu - Parte 1
Andes pela janelaFoto: Irmgard Klix |
Desde que comecei a escrever por aqui, tenho a pretensão de contar - além das minhas - experiências de outras pessoas também. Conheço uma turma bem viajada por aí e, neste grupo, está a minha mãe. A Irmgard Klix é daquelas viajantes de mão cheia, como se diz, e estou há um tempinho tentando convencê-la a colaborar. Pois neste domingo, ela se animou e começou a escrever sobre a viagem que fez pela América Latina, em 2006.
Confere e aguarde outros posts que ainda virão nos próximos dias!
"Há dois anos viajei de ônibus, em excursão pela América do Sul, passando por regiões de cinco países: Brasil (Santa Catarina), Argentina (Corrientes) Bolívia (Santa Cruz, La Paz, Tiahuanaco), Peru (Puno, Lago Titicaca, Cusco, Machu Picchu, Arequipa) e Chile (Deserto de Atacama, Iquique). Numa viagem rodoviária de aproximadamente 8 mil quilômetros (ida & volta) sobra bastante tempo para conversar com os demais excursionistas (de Santa Catarina e Paraná), ler, olhar a paisagem, observar as mudanças regionais, localizar-se geograficamente nos mapas locais, assistir a filmes já vistos anteriormente, tirar fotos, filmar – para os mais habilidosos e pacientes, nos quais não me incluo – e principalmente refletir sobre os liames das culturas e tradições que encontramos por esta América tida como pobre, pouco desenvolvida, suja, perigosa e com uma lista de defeitos que continua e iguala-se em quantidade à lista de qualidades idolatradas por nós, turistas brasileiros, na outra América ou mesmo na Europa Ocidental de onde herdamos o nosso eterno olhar para além mar.
Dei-me conta de que já conhecia boa parcela de países inseridos no universo dos ditos desenvolvidos e o próprio Brasil, mas na América do Sul havia estado somente no Uruguai, na Argentina e nas zonas de fronteira do Paraguai e Chile. Enquanto brasileiros estamos com os olhos voltados para o Leste e Hemisfério Norte, de costas para o nosso próprio continente, temos pouca ou nenhuma identidade sul-americana ou sentimento de pertencimento a este maravilhoso continente.
Mas enfim, para me redimir fiz 8 mil quilômetros em ônibus de excursão, quando este não é o meu hábito de viajar, que teve além de visitas a sítios arqueológicos, a algumas cidades, compras em zona franca, noites mal dormidas em trânsito, surpresas agradáveis e muitas histórias para contar. Histórias essas que pretendo ir relatando aos poucos neste blog da minha filha, que deve ter adquirido o gene dos viajantes a partir dos meus ancestrais que vieram para este continente para viver, criar e procriar, mas em última análise por serem, além de missionários luteranos, também aventureiros".
Histórias, dicas, lembranças e planos de viagens para quem adora passear por aí (e depois voltar para casa). Por Tatiana Klix
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