Estou adorando olhar o Jornal Nacional por esses dias pré-olímpicos. De toda a avalanche de conteúdo produzido na China, o que passa na tela da Globo em horário nobre é o que mais me agrada. É variado na apresentação dos temas esportivos e de curiosidades sobre o país e o povo chinês, é divertido sem ser preconceituoso e por vezes crítico em relação às polêmicas que envolvem os jogos, a China e o seu governo. Uma das questões apresentadas (não só pelo JN) está relacionada à poluição. O problema não é novo, pelo contrário, bem famoso em Pequim há algum tempo. Mesmo assim, antes de estar lá, não conseguia ter a dimensão que o ar infestado poderia atingir. Imaginei uma São Paulo, o que já seria uma baita dimensão. Mas que nada, em Pequim a gente sente a poluição na pele, nos olhos, no nariz, e termina o dia cansado dela - pobres atletas!
Para ilustrar, escolhi algumas das minhas fotos tiradas em abril e maio para postar aqui. São imagens de alguns dos principais pontos turísticos de Pequim, lindos, incríveis, mas um tanto ofuscados pela bendita poluição.
Templo do Céu, ou Tian Tan, onde o imperador fazia sacrifícios e orava durante o solstício de inverno.
Grande Hall do Povo, onde o Congresso Nacional do Povo se reúne UMA vez por ano.
Ao fundo, o Parque Jin Sahn, próximo à Cidade Proibida, era até a dinastia Quing para uso da imperial, de onde deveria vir a proteção contra influências malignas do norte, que traziam morte e destruição.
Palácio de Verão, nas próximidades de Pequim, usado na dinastia Qing para refúgio ao calor sufocante da Cidade Proibida.
Muralha da China, em Badaling, que dispensa apresentações.
Terceiro Anel Viário de Pequim
Vou me exibir. Ontem, o programa Camarote TVCOM teve um bloco sobre a China. Para falar do país que recebe todas as atenções do mundo por causa da Olimpíada foram convidados alguns chineses que moram em Porto Alegre e eu. Antes de entrar no ar - cercada de estudantes chineses que estão por aqui estudando português - deu uma saudade da China! No estúdio, só bateu ainda mais a vontade de estar por lá nesse momento olímpico.
O bate-papo com os apresentadores Kátia Suman e Rodrigo Lopes foi muito bacana. Ponto alto para o momento de perplexidade da Kátia, quando um dos participantes, o Saudade, disse que não se importava com a censura realizada à internet em seu país, porque acredita que o governo tem boas razões para isso. Difícil de entender, mas o Saudade não está sozinho. Na China, senti muito este sentimento de apoio total e irracional ao governo e também fiquei perplexa, como disse ontem na entrevista que você pode assistir aqui:
Mao imponente na Praça da Paz CelestialFoto: Tatiana Klix |
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A 14 dias da Olimpíada de Pequim, a China é assunto recorrente em tudo que é lugar. Aproveito a onda para continuar falando dela aqui no ida&volta também. Com algum conhecimento da história recente do país antes da viagem, fui com o interesse de observar (e quem sabe entender um pouco) como é a relação do povo com a figura do ex-presidente Mao Tsé-tung. Sem mandarim, óbvio que não consegui conversar profundamente com chineses sobre isso, mas quem não tem boca, tem olhos (e máquina fotográfica para registrar um pouco do que enxergam).
O que eles viram foi que o controverso ditador está, ainda, muito presente na vida e no imaginário da população. Além da emblemática e imponente foto (ou seria pintura?) na praça da Paz Celestial (aquela que todo mundo já viu um dia por foto), dos soldados que guardam sua tumba ali pertinho e das cédulas de dinheiro que levam seu rosto estampado, a imagem de Mao é figurinha repetida também fora do cenário oficial. Mao é ídolo, é pop. Está em chaveiros, souvenires, pingentes de carro, paredes de restaurantes etc. A cada nova imagem que flagrava, não me continha em fotografar, um pouco já pensando no blog, outro tanto como forma de registrar o que meus olhos observavam assustados, concluindo que ainda vai levar um bom tempo até que a China consiga fazer a crítica adequada sobre os atos irracionais da Revolução Cultural e tantos outros que ocorreram durante todo o regime de Mao.
Somente no último dia, consegui ter um contraponto. Em visita ao distrito Dashanzi em Pequim, também conhecido como 798, onde há várias galerias de arte, encontrei obras que ironizavam ou escancaradamente criticavam o passado do presidente comunista. Ao mesmo tempo, outras pinturas e esculturas humanizavam Mao e reproduções do ex-ditador eram vendidas banca sim, banca também, como souvenir, o que muito me confundiu. O que é crítica e o que é idolatria? No livro Um Brasileiro na China, do jornalista Gilberto Scofield Jr, encontrei uma resposta. Dono de uma das lojinhas, o senhor Wang explica que estas imagens não têm mais valor ideológico, e agora isto é arte.
Será? Continuo pouco convencida.
De cima para baixo, da esquerda para a direita:
1 - Botons decoram parede de bar na descolada rua Nanluoguxiang (a preferida da Jana) em Pequim
2 - Restaurante em Yangshuo
3 - Loja de quadros com reproduções de trabalhos de Andy Warhol em Macau
4 - Souvenires vendidos na Muralha da China
5 - Pingente no carro do guia de turismo em Guilin
6 - Reproduções de imagens antigas à venda no Distrito 798
Foto: Tatiana Klix |
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Ainda estava na China quando a Cacá chinesa e colaboradora do Cookies me pediu mais posts sobre comida. Demorou, mas resolvi relembrar o pato laqueado que provei logo no segundo dia em Pequim. O pato é o prato mais famoso (e também turístico) da cidade, e talvez até da China. Vi muitos restaurantes em todo o país com letreiros chamativos com letras que eu entendia oferecendo o tal pato, mas a Jana não deixou por pouco e me levou no mais famoso (e conhecido como o melhor) pato de Pequim. É o Quan Ju De Roast Duck (Hepingmen Dajie, Xuanwu District - Tel: 86-10-6552 3745), que têm seis filiais na cidade e, além de servir o prato tradicional, é um bom exemplo de um tipo de estabelecimento de comida, como traduziriam em Macau, bem comum na China. Grande, com vários salões (alguns reservados para grupos) distribuídos em diferentes andares onde há mesas redondas e também grandes, é cheio de ornamentos e enfeites misturando o dourado com cores fortes, que eu poderia chamar tranqüilamente de brega, mas que no contexto forma uma estética interessante e, digamos, bem chinesa.
E o pato? Veio laminado e laqueado para uma mesa auxiliar a que estávamos sentadas, inteiro, na companhia de um cozinheiro, que foi responsável por desfiar o bicho - tenro por dentro, mas com uma crosta brilhosa e crocante por fora - na nossa frente. Com a ajuda das garçonetes, aprendemos a fechar as panquecas bem fininhas e deliciosas que foram servidas junto e que devem ser dobradas com todo um jeito chinês, para então comê-las com o pato, um molhinho agridoce maravilhoso e cebolinha verde dentro.
A Jana, que já havia estado lá com colegas chineses, ainda pediu acompanhamentos que só quem mora na China conhece. Entre os que mais gostei estavam o coração de pato e um prato com cogumelos e amêndoas. Infelizmente, não saberia pedir novamente ou indicar por aqui como fazê-lo.
A brincadeira toda não é das mais baratas que a China oferece. Uma refeição - muito farta, é preciso dizer - sai por pelo menos 200 yuans (em torno de US$ 28). Não chega a ser um absurdo, mas é possível se comer muito bem por lá por pouco e a gente acaba se acostumando mal.
Prato imperial
- Pesquisando um pouco sobre o pato laqueado, descobri que é um prato de origem imperial. Ou seja, era a comida preferida dos nobres há pelo menos 700 anos e até a metade do século XIX só podia ser apreciada por eles.
- Tradicionalmente, o pato é preparado num fogão à lenha, com madeira de árvores frutíferas e coberto por uma camada de molho doce.
- O Quan Ju De começou a funcionar em 1864, na Dinastia Qing (1644-1911), perto de Qian Men, antiga entrada da cidade Proibida. Em 1993, tornou-se uma empresa e desde o ano passado abriu seu capital na Bolsa de Valores de Shenzen (sul da China). Atualmente, tem nove filiais na China e 61 franquias, incluindo cinco em países estrangeiros.
- Nos corredores do Quan Ju De é possível perceber que a tradição da comida de ligação com o poder se mantém no restaurante. Autógrafos e fotos das mais importantes autoridades da China e do mundo atuais e históricas estão expostas. Curiosamente, também a história brasileira está ligada ao pato de Pequim. A candidatura de Fernando Collor de Melo à presidência foi decidida em Pequim em dezembro de 1987, num jantar com pato. Infelizmente, não consegui confirmar se a refeição ocorreu neste mesmo restaurante.
Pato em Porto Alegre
Não é preciso ir até a China para comer um pato laqueado que perde pouco para o de Pequim. Como bem a Cacá já tinha me avisado, o pato do restaurante You-yi, em Porto Alegre, tem o mesmo padrão. Só que já é servido cortado na mesa.
Lá bem no início da minha estada na China, postei sobre senhores que escreviam no chão nos arredores do Templo do Céu, em Pequim. A Maíra, que esteve por lá em fevereiro, comentou num post mais adiante que também tinha visto vários velhinhos fazendo coisas bem diferentes no mesmo lugar. E tem mesmo! No pátio do Templo do Céu e em outras praças e parques de Pequim é muito interessante observar como os chineses mais velhos, provavelmente aposentados, se divertem com atividades nem tão comuns por aqui em locais públicos: Tai Chi Chuan, dança, música. Para isso, é bom acordar cedo, porque o pessoal madruga, faça chuva ou faça sol.
Quando estive no Templo do Céu, gravei as imagens abaixo, de um grupo cantando e tocando. Tudo bem que em praças no mundo inteiro têm músicos se apresentando e tirando uma graninha. O que me surpreendeu e interessou - além da música chinesa - é que não se tratava de alguém ou alguéns passando o chapéu, mas de grupos de pessoas que se encontravam ali para tocar e cantar (e quem sabe os males espantar!).
Reparou como uma das cantantes viu que estava sendo filmada e fez toda uma pose exclusiva para o ida&volta?
Shows de minorias étnicas chinesas estão entre as atrações do parque Shangrila, em YangshuoFoto: Tatiana Klix |
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Voltando à China no ida&volta, finalmente me puxei para editar um vídeo com imagens que captei amadoramente por lá. São do parque Shangrilá, a 16 quilômetros de Yangshuo, no sudoeste da China. O complexo, que fica numa área rural com um cenário natural incrível, cercado por plantações de arroz e picos arredondados de carste (as formações rochosas típicas da região formadas de calcário), tem várias atrações dignas de um parque temático, montado para o turismo.
Na chegada, quando estive lá com a Jana e a minha mãe, fomos convidadas a fazer um passeio de barco em um lago. Tudo é típico, quase uma montagem cenográfica, começando pelo barco, passando pelos funcionários caracterizados, as construções de arquitetura local até as apresentações de minorias étnicas. Durante o passeio, na margem do lago, grupos de chineses com roupas que representam a cultura de povos asiáticos fazem apresentações de música e dança quando os turistas se aproximam. Depois, esquecem que são de minorias e esperam até a visita de um novo grupo. Chega a ser um pouco surreal, a ponto de termos nos perguntado se algumas mulheres que estavam lavando roupa no lago faziam parte da encenação ou realmente precisavam lavar ali.
Tirando o meu preconceito em relação a "shows para inglês ver", é preciso dizer que é tudo muito bem cuidado, das roupas dos atores às instalações, e portanto, também muito lindo! Infelizmente, a guia do barco que nos acompanhou - embora tenham nos dito que era a única bilíngue no local - tinha vergonha de falar. A menina, devidamente trajada como chinesa e com um chapéu de bambu em formato de cone, só sabia rir. Ficamos sem saber mais detalhes sobre as etnias, o que muito teria me interessado.
Depois da volta no lago, é a vez de apreciar o artesanato das tais minorias étnicas com novamente uma demonstração de como é feito. O trabalho é muito bonito e, obviamente, está para vender em várias lojinhas.
Melhor do que esta descrição toda, são as imagens. Confere aí!
PS: Minha visita ao Shangrila ocorreu no dia 12 de maio, quando um terrível terremoto atingiu a província de Sichuan. Num lugar tão lindo como esse, sem um tremorzinho para contar a história, era difícil de acreditar que não muito longe de lá estava acontecendo uma trabédia.
Como chegar ao parque Shangrila
Em Guilin e Yangshuo, agências de turismo locais organizam passeios guiados. Alguns deles, com orientação em inglês.
De Yangshuo, é muito perto. É possível optar por pegar um ônibus público na rodoviária da cidade e descer bem na frente do parque. Para isso, é claro, é bom pedir para alguém escrever o nome do local em mandarim para mostrar ao motorista.
>>> Veja no flickr do ida&volta: mais fotos da visita ao Parque Shangrila
Me chamou a atenção, quando estava na China, a quantidade de plástico desperdiçado em embalagens de produtos. Mais que aqui no Brasil. Tipo assim: em um saco de biscoitos, todos são novamente embalados individualmente. O mesmo vale para as fatias de queijo. Os potes de iogurte são acompanhados de colheres de plástico. E por aí vai.
Meu lado ecológico achou um exagero e ficou pensando em como produzimos lixo inutilmente. Hoje, encontrei no blog Shangailist o link para o vídeo Excessive packaging, da China's Green Beat. O vídeo alerta justamente para os problemas causados pelo excesso de pacotes desnecessários e como na China esta prática é disseminada. É quase engraçado, meio trash, meio caseiro, mas bem educativo. Resolvi dar minha contribuição à campanha do site e reproduzir o link do vídeo (com legendas em inglês!) aqui.
Cão fica preso a motoca enquanto espera pelo dono em MacauFoto: Tatiana Klix |
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Entre as perguntas clássicas que ouço desde que voltei da China está: Comeu cachorro? Não comi, não comeria e pretendo nunca comer. Não que eu seja uma militante da causa da proteção aos animais, tampouco acho que pessoas que o fazem são más e devem ir para o inferno ou algo assim. Nem poderia, pois sou bem carnívora e adoro um churrasco bem farto, com coração de galinha, de preferência. Entendo que esta é uma questão de cultura, mas neste caso, fico com a minha. Adoro cães e para mim eles são, sim, os melhores amigos do homem e da mulher. Terminado o discurso, relato algumas observações sobre o tão famoso hábito chinês:
# A carne de cachorro é menos comum nas mesas da China do que normalmente se imagina. Não é assim em cada esquina que se encontra um churrasquinho de cão, nem de gato. O hábito, cada vez mais em desuso, ainda é cultivado apenas em uma região específica no sul do país.
# Mesmo assim, vi listado no cardápio de um restaurante meu bicho preferido. Confirmando a tese, foi em Guilin, no sudoeste da China.
# O preço era bem salgado, perto de outras refeições. Isso comprova o que li nos guias que levei para a viagem. A comida atualmente é exótica e cara.
# O hábito de comer carne de cachorro é resultado da fome, ou melhor, de grandes fomes passadas pelo povo chinês. Foi na revolução cultural que os bichos deixaram definitivamente de serem animais de estimação para se tornarem comida. Com milhares de pratos vazios, alimentar um animal era considerado um atitude repreensível e burguesa.
# Vivos, observei alguns cachorros passeando com seus amigos humanos, principalmente em Pequim. Nada que se compare à quantidade que há na minha rua no bairro o Menino Deus, em Porto Alegre, onde invariavelmente sempre tem algum cão na calçada, mas em alguns locais já se encontram os bichinhos. Segundo a Jana me contou, os chineses precisam pagar uma taxa anual, relativamente alta para os salários locais, para terem um animal de estimação em casa. Mesmo assim, o número de famílias com cachorros aumenta a cada ano e o de petshops, também.
# Como disse lá no início, sou boba por cachorro e sempre que vejo um paro para olhar e às vezes até brincar. Em Macau, achei esse que tá na foto acima. Tão bonitinho, né? Mas fiquei com pena dele. O dono, que também é proprietário da motoca, o deixou preso no veículo estacionado, enquanto saiu para passear. O bicho não gostou, ficou todo inquieto, mas o chinês não se sensibilizou. Por esta passagem tive a impressão que, apesar de estarem comendo menos cachorros, os chineses ainda não têm os cuidados extremos e o carinho incondicional que cultivamos pelos cachorros por aqui. Será?
Em Macau, placa alerta para duas proibições: cuspe e fumoFoto: Tatiana Klix |
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É necessário proibir o cuspe? Quando o hábito é uma mania nacional, sim. Não é preciso de muito tempo na China para flagrar chineses escarrando, onde quer que estejam - caminhando na rua, de dentro do carro, no ônibus. Não basta botar a saliva para fora, parece que eles se sentem bem mesmo fazendo todo um movimento barulhento que começa no nariz, vai lá no fundo da garganta, passa pela boca até que o cuspe vai com toda força para o chão. Não cultivam o ato apenas as pessoas mais simples ou de pouca de educação. De alguma maneira milenar, aprendeu-se que o que é ruim tem que ser colocado para fora do corpo e mesmo pessoas mais abastadas (principalmente entre os mais velhos) em grandes cidades cospem.
Bem, hábitos são hábitos, e é preciso respeitá-los, mas este é um costume que pode ser prejudicial à saúde da população. O governo da China já se convenceu disso e faz esforços para eliminar o vício. Segundo eu li no livro Um brasileiro na China, do correspondente do jornal O Globo em Pequim Gilberto Scofield Jr., durante a epidemia da SARS, em 2003, os cuspes diminuíram, por conta de campanhas que alertavam para a contaminação a partir das salivas nas ruas. Mas a epidemia se foi, e os escarros voltaram. Este ano, com a proximidade da Olimpíada, a medida adotada em Pequim foi mais radical: uma lei proíbe o cuspe e multa o infrator em 50 yuans (em torno de US$ 7). O objetivo é eliminar o hábito para fazer bonito durante os jogos. Pelo que vi no mês passado na sede dos jogos, acho pouco provável.
Remando, vendedores ambulantes alcançam barcos com turistasFoto: Tatiana Klix |
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Não canso de falar por aqui das grandes e surpreendentes diferenças culturais e sociais que encontrei na China. Mas nesse mundão que às vezes é pequeno nem tudo é assim tããão diferente. Logo no início do cruzeiro pelo Rio Li ali do último post, me chamaram a atenção dois barquinhos pequenos de bambu que se aproximavam muito rapidamente, apesar de serem conduzidos por remos, do nosso barco grande cheio de turistas. Assim que nos alcançaram, os fortes chineses que estavam nas pequenas canoas logo mostraram a que vieram: vender bugigangas supostamente típicas. Tudo acontece muito rápido - os barquinhos deslizam pelas águas até chegar à embarcação maior, seus condutores os amarram e pegam carona no motor do navio, para então oferecer produtos enquanto ficam meio pendurados no lado de fora. Como todos os bons negociantes chineses, mesmo nesta posição, realizam o ritual da pechincha completo.
Enquanto admirava a destreza dos vendedores/barqueiros chineses e duvidava de que poderiam ter sucesso nas vendas, minha mãe lembrou de uma viagem que fez pelo Rio Amazonas. Lá, no canal de Breves, segundo ela me contou, também índios em pequenas canoas vivem de oferecer produtos típicos, como palmito e camarão seco, para turistas que passam em cruzeiros.
Barcos turísticos viajam em fila no mesmo horário pelo Rio LiFoto: Tatiana Klix |
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Já fiz minha declaração de amor por Yangshuo, no sudoeste na China, cinco posts atrás. Agora vou fazer campanha pelo cruzeiro no Rio Li que faz o deslocamento de Guilin até lá. O guia John, que me levou na companhia da minha mãe e da Jana no primeiro dia em Guilin a uma série de lugares, bem que tentou convencer que a melhor maneira de viajar até a cidade seria de carro, porque também é a mais rápida. Assim, ainda segundo o John, chegaríamos mais cedo e teríamos mais tempo para aproveitar o dia. De fato, a viagem de barco leva cerca de cinco horas e de carro, uma. Mas o passeio é daqueles em que não se perde tempo, se ganha em prazer. Para que pressa se é possível desfrutar confortavelmente de uma vista linda? A bordo do barco pode-se observar a paisagem formada por picos de carste (formações rochosas de calcário) para todos os gostos, além de vilas típicas de pescadores e barquinhos de bambu ao longo do rio.
O passeio parte às 8h da manhã do porto em Guilin. É possível comprar os tíquetes no próprio local, mas acabamos reservando no hotel - o que é bem comum - e cedinho uma Van nos buscou para ir até o barco. Por razões que o meu chinês não entendeu, todas as embarcações saem no mesmo horário. E são várias bem parecidas, cheias de turistas - muitos reunidos em grupos com guias de bandeirinhas na mão. O embarque chega a ser um pouco confuso, mas uma vez que nos instalamos no barco, tudo foi bem. O cruzeiro, por 500 yuans, inclui almoço a bordo e guias que falam um pouco de inglês. Se a idéia for economizar, dá para encarar barcos mais simples destinados preferencialmente a chineses. Mas para isso é preciso se esforçar, não só para se comunicar e entender o que se passa, mas para conseguir lugar num desses. Nos locais onde perguntamos com nossos olhos não puxados, só nos ofereceram o com preço para estrangeiro.
Chegando em Yangshuo, muita gente aproveita para conhecer rapidinho a região e volta no mesmo dia para Guilin, só que de ônibus. Há vários pacotes que organizam todo o dia dos viajantes, mas como eu já falei, não recomendo. É muito bom ficar em Yangshuo, pelo menos uma noite.
Xícara com design e funcionalidade made in ChinaFoto: Tatiana Klix |
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Eu sou uma boa tomadora de chá, principalmente quando está frio, como hoje. Quando voltei para casa do meu plantão domingueiro, pelas 23h, o termômetro da capa do clic marcava 8 graus em Porto Alegre e a primeira coisa que fiz foi esquentar água para fazer um chazinho e, quem sabe, me esquentar também. O hábito, que eu já tinha em outros invernos, este ano ganhou alguns requintes chineses. A começar pelo chá, que trouxe da terra onde é a bebida preferida há cinco mil anos. Diferente dos que normalmente compro no Brasil, em saquinhos, o dos chineses é vendido a granel, e as ervas ou flores secas vão direto na água quente. É assim que preparei o meu hoje, numa xícara também made in china (presente da Jana e da Maíra), que além de muito bonitinha, é prática. Para que não seja preciso coar, ela tem um recipiente com furos na base que se encaixa no topo, onde vai o chá. Aí serve-se a água e cobre-se a xícara, para guardar o calor. Quando a água ganha cor e sabor, é só tirar de novo o recipiente com o chá! O que fiz hoje era de uma mistura de flores, bem bom, mas no meu estoque de viagem também vieram os tradicionais verde e de jasmim.
Os chineses e o chá o tempo todo
O meu hábito, que normalmente está relacionado ao inverno, não chega a ter muito a ver com o dos chineses. Por lá, o chá é uma constante nas mais diversas ocasiões, em muitas das quais não estamos acostumados a bebê-lo. Toma-se chá no café da manhã, durante o almoço, na janta, sempre quente. E o verão não diminui a sede de chá, não! Não é preciso pedir, ele sempre vem e, melhor, de graça. Nos restaurantes, por exemplo, antes de qualquer coisa, serve-se o chá. Nos quartos de hotéis sempre tinha uma maneira de esquentar água, xícaras parecidas com a minha e chá, naturalmente. Durante a massagem, de novo, ganhamos chá.
Quase gelado para refrescar
Uma descoberta interessante foi a dos chás gelados, ou pelo menos frios, já que bebida gelada não é o forte da China (nem a cerveja tem essa característica!). Vendidos em cada esquina em garrafinhas plásticas, também em vários sabores, substituem o refrigerante na função matar a sede e refrescar. Eu, que não sou muito da Coca-cola, adorei e fiquei viciada neles. Muitos chineses, no entanto, não costumam comprar o chá pronto na rua. Eles trazem de casa, numa garrafinha portátil (e às vezes já de aspecto meio velho e com a cor de dias e dias de chá pegando) para todas as horas.
Água quente
E quem disse que água se toma gelada? Na China, também se toma quente, sem chá dentro. Sim! Só a água quente, bem quente. Bem, disso eu não gostei, mas provei. Tem gosto de.... água quente.
Chá x Te
No museu de Macau, onde tudo estava escrito em português, aprendi uma lição bem bacaninha sobre a origem da palavra chá. O caractere chinês para a bebida tem duas formas de se pronunciar: uma parecida com chá e outra que soa como te. A primeira é de origem cantonesa, do sul da China, e a outra vem do dialeto Amoy, da província de Fujian. Destas duas pronúncias surgiram em todas as línguas a palavra que designa chá. Em português, usamos a expressão cantonesa, por causa da presença de colonizadores de Portugal em Macau no século XVII. Mas reparem ali na foto que nas outras línguas latinas ou anglo-saxônicas prevaleceu a outra origem, que foi levada pelos holandeses. Pelo menos nesta palavra, estamos bem mais próximos dos orientais!
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Enquete: Será que os rapazes ali parados estão esperando uma consulta ou são dentistas aguardando pacientes? Não sei, nunca saberei, só deu tempo para tirar a foto de dentro do ônibus, numa estrada perto de Yangshuo.
Quem arrisca um palpite?
Histórias, dicas, lembranças e planos de viagens para quem adora passear por aí (e depois voltar para casa). Por Tatiana Klix
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