Que cor é essa? A do mar em Capri!Foto: Tatiana Klix |
A Elisa Ferraz, de Teresina, visita regularmente (eu acho!) este blog e pediu, em um comentário dia desses, mais sobre a Costa Amalfitana. Pensando em atender a sugestão, estou há dias me enrolando para postar sobre Capri, que é uma ilha, mas se chega até ela a partir da costieira. Normalmente, quem está na costa, não deixa de atravessar o Mar Tirrento até Capri.
E eu estou me enrolando porque fico tentando entender o que realmente achei de Capri. A verdade é que não consigo expressar ou explicar muito bem. A ilha é linda, sem dúvida. É podre de chique também. E cheia de turistas que vão passar o dia lá (conhecidos como "day trippers", que pegam um barco pela manhã, desembarcam na Marina Grande, passam o dia e retornam em outro barco no fim da tarde). É justamente a relação entre este lugar glamouroso – com lojas de grife e descoladas, restaurantes badalados, ateliês, galerias - e turistas fotografando tudo isso que me causou um certo estranhamento.
Marina Grande, o porto de chegada de barcos na ilha/Tatiana Klix
Fico me perguntando se é algum tipo de preconceito: afinal qual o problema das distintas classes sociais conviverem harmoniosamente em um mesmo lugar? Acontece o tempo todo, em proporções muito piores, em todo o mundo. Logo, excluo essa hipótese e chego em outra que me convence mais – o fato de todo o glamour das lojas de grifes, dos condomínios, palácios e hotéis luxuosos me parecerem de algum modo "fakes", como uma vitrine que está lá para ser olhada (e invejada) pelos day trippers. No meio disso tudo, não me achei em nenhum dos tipos de visitantes da ilha, ou pelo menos não me senti genuinamente à vontade entre os dois grupos. Não estou nem perto dos ricos e famosos que tem grana e requinte para consumir de verdade em Capri, mas também não curto fazer o tipo de turismo rapidinho, só para tirar fotos e comprar souvenirs. Ou seja, não achei a minha turma!
Será essa a explicação para o sentimento confuso que tenho a respeito de Capri? Tomara que a Denise, que está programando uma viagem à Itália para uma hora dessas, consiga ter uma visão mais clara que a minha sobre a ilha.
Grota Azurra
Uma das principais atrações naturais de Capri é a Grotta Azzurra (Gruta Azul). Dizem que é linda, que a cor da água é fantástica. Dizem... Mas eu não tive a oportunidade de conhecê-la. Nos dois dias que fiquei na ilha (tá bom, só um a mais que os day trippers!) ventava e o mar estava alto, o que impede os passeios de barco e a entrada na gruta. Pena, será que eu vou ter que voltar lá?
Praias não são o principal atrativo
Não faltam belas paisagens na ilha, o mar é de uma cor entre o azul cristalino e o verde-esmeralda, maravilhoso, mas faltam praias, pelo menos da maneira como se entende praia no Brasil. As duas pequenas áreas na beira do mar são bem pequenas (com pedrinhas) e devem ficar lotadas no verão (fui para lá em abril). O bacana mesmo são as caminhadas, os penhascos e as rochas à beira-mar.
Pouca praia e muita pedra/ Tatiana Klix
Penne com molho de limão
Se come muito bem em Capri, por alguns euros a mais, é claro. Experimentei no restaurante La Pergola uma receita que não conhecia: Penne com molho de limão. Recomendo muito o restaurante e o prato.
Reprodução Google Maps |
Ao planejar a viagem para a Costa Amalfitana, precisava decidir qual o meio de transporte usaria para conhecer a região. As opções eram três: carro alugado, ônibus ou barco (já descartando o táxi e a motocicleta). A primeira vontade era de alugar um carro. Poder decidir os trajetos, onde parar e onde ficar mais tempo, sem depender de transporte público, era uma boa pedida, pensei. Ao consultar guias e sites de turismo, no entanto, algumas indicações desaconselhavam dirigir nas sinuosas estradas da região. E elas estavam certas. Ainda bem que eu segui as dicas.
As estradas que percorrem a costa são MUITO estreitas e têm muitas curvas, e é preciso prestar toda a atenção do mundo para pegar no volante. Tanta atenção que não é possível olhar para a paisagem, o que há de melhor a ser feito. Nem mesmo os motoristas locais conseguem prestar a atenção necessária, a contar pelos carros, que são quase todos batidos. Sim! Arranhados, amassados, em pelo menos um ponto.
Restava ainda escolher entre ônibus e barco. Com o primeiro, as opções de horários e itinerários são mais variadas, mas a viagem é pela mesma estrada sinuosa. Para trechos pequenos, entre praias (como de Positano a Sorrento, Positano a Amalfi) é um passeio deslumbrante, com certeza – a combinação de mar azul, penhascos e casas coloridas é imbatível –, mas depois de uma hora, as curvas são cansativas e podem até causar mal-estar. Já os barcos são ideais para percorrer trajetos longos (Sorrento a Salerno, nos lados opostos da costa, por exemplo). A bordo, é só curtição e ainda é possível admirar a paisagem de outra perspectiva.
Como chegar até a costa
De avião - O aeroporto mais próximo fica em Nápoles (a 60 quilômetros da costa). Depois é preciso optar entre carro, trem ou ônibus
De trem - As linhas chegam até Salerno e Sorrento
De ônibus - Há linhas partindo de Nápoles até Sorrento e Salerno
De carro - É possível alugar veículos em Nápoles, ou em Roma e seguir em frente
De helicóptero - A chegada triunfal parte de Nápoles
Limões sicilianos perfumam a costa amalfitanaFoto: Tatiana Klix |
A bebida típica da Costa Amalfitana é o lemoncello, feito com rapas de limão siciliano – este mais típico ainda na região –, calda de açúcar e álcool, é claro. O limão usado para fazer o licor digestivo não é o que tem no Brasil. É aquele grande, de um verde mais claro e vibrante – o legítimo verde-limão – cujo aroma paira no ar por aquelas bandas, de tantos limoeiros que há.
Os italianos costumam beber o lemoncello bem gelado, sempre depois das refeições. Tem um aroma marcante e gosto entre o ácido e o adocicado. Eu experimentei, mas confesso que não fiquei fã. De qualquer forma, trouxe a receita. Olha aí.
Em Capri, até as pedras foram privatizadasFoto: Tatiana Klix |
Essa coisa de pagar para entrar na praia realmente me intrigou. Ainda na Itália, em Capri, fiquei num hotelzinho cujo dono já tinha estado no Brasil. Ai rolou aquela conversa toda: "Gostou? Onde foi? Te divertiu? e blá, blá, blá".
Não me contive e comentei meu estranhamento e desconforto com as praias privadas italianas, e como no Brasil todas eram de graça e como eu achava isso mais simpático e democrático. O italiano, que não tinha nenhum problema em pagar para ir à praia, ainda lascou uma comparação:
– No Brasil é de graça para entrar, mas em compensação tem um monte de gente querendo vender de tudo para os turistas.
Tá, né, tive que ficar bem quietinha e concordar.
Praia linda e cara!Foto: Tatiana Klix |
Tá vendo esta praia linda na foto acima? É Sorrento, fica no sul da Itália, na Costa Amalfitana. Geograficamente, para ser mais exata, na costa sorrentina, mas turisticamente, já é na amalfitana. Para chegar nela é preciso descer vários degraus. Partindo de cima do morro, onde se localiza a cidade, percorre-se um caminho pela encosta e por dentro dele, em uma gruta. Com ajuda do santo, da vista e da brisa, a descida é bem agradável. Mas aí, ao chegar ao nível do mar, para entrar (como se este fosse um verbo apropriado para praia) é preciso pagar!
Assim mesmo: Paga-se 8 euros para entrar. Paga-se pra deitar, literalmente, porque as cadeiras que deitam custam mais 4 euros. E pelo guarda-sol, são mais três euros! Pode? Acostumada com os mais de 8 mil quilômetros de praia livre no Brasil, a prática me causou pelo menos estranhamento. Mas acabei pagando, é claro.
Em Sorrento, há mais de uma opção de praia paga, como clubes à disposição do banhista. Escolhi, quase que aleatoriamente, um deles e entrei, pronta para me instalar e tirar aquela foto clássica de vida boa em pleno abril. Uma vez sentada, avisto uma bandeira do Brasil (foto abaixo), entre várias da Itália. Mais um pouco, começa a tocar Zeca Pagodinho... Eis que o dono da praia (dono, vejam só!) adora o Brasil, costuma ir de tempos em tempos para Salvador e, segundo me contou, tenta tornar aquele lugar o mais parecido possível com uma praia brasileira. Ah tá, mesmo com música brasileira a tarde inteira, acho que ele tá no caminho errado.
Protestos à parte, a água é o que há de mais azul, e almoçei uma salada caprese com queijo muzzarela maravilhosa que não existe em praia brasileira alguma.
Free beach
Viajando mais uns dias pela costa amalfitana, me dei conta que as praias privadas são bem comuns na Itália. Em todos os balneários, há mais de uma com todo o aparato de conforto. Mas também, sempre há, ao lado delas, num canto, uma "free beach", bem pequena, que imagino, no verão, fique bem lotada.
Foto: Tatiana Klix |
Até bem pouco tempo atrás, a palavra Positano me remetia a coisa ruim, do mal. Sujeira, desconforto, desconfiança, insegurança, perrengue. É uma lembrança, das poucas não agradáveis, da minha primeira e maravilhosa viagem à Europa. Em 1995, sem saber quase nada da vida, mas achando que sabia um monte, viajei com amigos de mochila, como se diz, tentando gastar no máximo US$ 50 por dia. Ficávamos preferencialmente em albergues, mas em alguns lugares apelamos para pequenos hotéis ou pensões. Foi o que aconteceu em Roma.
Chegamos lá, no verão, sem nada reservado, e o albergue oficial (com o selo Albergue Internacional da Juventude) ficava longe da estação de trem. Num domingo quente à tarde, deu preguiça de pegar um metro e um ônibus e foi aí que veio a infeliz idéia de tentar um lugarzinho mais central. Na estação, à espera de desavisados como nós, havia vários daqueles "ambulantes de hotel" oferecendo hospedagem. Caímos na conversa de um deles e fomos parar na Pensione Positano.
Atenção, se um dia você for a Roma, nunca, never, jamais fique na Pensione Positano. É horrível, insalubre!
O esquema era parecido com o de albergue – baratinho, com quartos coletivos e banheiro no corredor – mas sem a qualidade básica dos albergues. Quarto apertado, roupa de cama com cheiro de mofo e móveis totalmente empoeirados eram os atributos da casa. Embaixo da cama, tinha de tudo: teia de areia é o que de melhor se podia encontrar. Mas quem precisa olhar para abaixo da cama? E o banheiro, ah o banheiro, sem comentários. Banho, só de chinelo e segurando a toalha na mão para não encostá-la em nada. Arghs. Para completar, o funcionário da recepção não inspirava confiança. Com um ar cínico, parecia que estava ali para enganar turistas mochileiros deslumbrados. Mesmo fazendo uma viagem simples, Positano era além da cota. Mas o pior sobre Roma ainda estava por vir. Foi enquanto estava hospedada neste hotel, que tive meus dois passaportes (o brasileiro e o alemão) roubados. É uma longa história, que vai ficar para outro post.
Por ora, ficamos com Positano. Foi assim que construí a imagem e foi assim que ficou dentro de mim. Passados 12 anos, conheci a verdadeira Positano, na Costa Amalfitana. Linda, com o aroma da brisa do mar mediterrâneo, e ainda por cima, chique.
A praia azul turquesa, acompanhada de uma vila charmosa, com ruelas estreitas, muitas lojinhas e restaurantes, fazem o encanto do lugar. E degraus, muitos degraus para percorrer tudo isso e chegar ao que é mais bacana em cima do penhasco: a vista deslumbrante.
Não foi difícil num lugar desses mudar minha referência. Positano agora é do bem, muito do bem.
Histórias, dicas, lembranças e planos de viagens para quem adora passear por aí (e depois voltar para casa). Por Tatiana Klix
e-mail
delicious
Facebook
LinkedIn
twitter
www.flickr.com |
Dúvidas Frequentes | Fale conosco | Anuncie - © 2009 RBS Internet e Inovação - Todos os direitos reservados.