Foto: Tatiana Klix |
Ok, contextualizar é legal, mas volto ao ritmo blog para apresentar o queijo típico galego Tetilla. Sim, de teta, como dá para ver na foto acima. As histórias sobre a origem e a tradição do queijo são várias, mas escolhi a mais divertida para contar aqui. Reza a lenda que o formato de peito não passa de uma retaliação. É que, entre as figuras representadas na catedral de Santiago de Compostela está a do profeta Daniel. Ele sorri e estaria olhando para os seios da rainha Ester, numa coluna próxima. Segundo a interpretação popular, diante da audácia do profeta, mandaram cortar os peitos da moça da estátua. Desde então, a população teria começado a fazer o queijo no formato de seios femininos.
Se isso é verdade, não sei, mas a história, contada pelo Juan Lago, representante no Brasil da Câmara de Comércio de Pontevedra, é muito boa, assim como é o queijo de casca dura, bem amarela, e consistência cremosa por dentro. Eu experimentei a especialidade feita de leite de vaca no Mercado de Santiago, onde é um dos produtos mais populares, com qualidade garantida por denominação de origem (órgão que regula a origem, procedência e forma de elaboração). Uma deliciosa retaliação.
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Como eu adoro mercados (já disse isso aqui), óbvio que não resisti em tirar umas fotinhos do de Santiago. Além do queijo Tetilla, a casa oferece muitas outras maravilhas. Olha só:
Minha viagem para a Galícia já apareceu por aqui em tempo real. Ainda quando estava na Espanha e na primeira semana depois da volta postei e troquei algumas experiências e impressões da província que me encantou. Hoje, mais ou menos dois meses depois, o caderno Viagem de Zero Hora publica em suas páginas centrais a reportagem que produzi a partir das informações que captei durante passeio.
Mais do mesmo? Espero que não. Como entusiasta do jornalismo na web (e das variantes de conteúdo que só a internet permite), sei bem reconhecer as qualidades do jornal impresso e procurei organizar e concatenar as informações para levar aos leitores um recorte mais contextualizado do que o que rolou no ida&volta. Ao ver as páginas impressas, me ocorreu que é mais ou menos isso que a gente faz quando vai contar uma viagem lá pela quinta vez, algumas semanas depois da volta para casa. É ou não é? Espero ter conseguido.
Em ZH: Encontre a Galícia em Pontevedra
No ida&volta: mais posts sobre a Galícia
Polvo servido no La Peneda, em A CoruñaFoto: Tatiana Klix |
Em madrugada de pouco sono, pelo menos eu me divirto escrevendo e lembrando de comida boa. Os polvos acima são os famosos polpos galegos, deliciosos. Os da foto foram servidos de entrada no restaurante La Peneda, em A Coruña, onde além de bolinhos de peixe, empanadas, foi servido “ternera” de prato principal (carne que aqui chamamos de vitela). O restaurante fica no número 12 da Praça Maria Pia, denominada assim em homenagem a uma grande heroína que liderou batalha contra ingleses e protegeu a cidade no século XVI. Na porta do restaurante, tinha uma placa de recomendação do Michelin.
Para quem não for até lá e quiser se arriscar, o polvo galego deve ser cozido com sal, pimentão e azeite e é servido sobre um prato de madeira. Pode ser acompanhado de batatas cozidas na mesma panela e páprica a gosto.
Galerias, galerias, galeiras e, no canto inferior à direita, a Avenida da Mariña com muitas galeriasFoto: Tatiana Klix |
Sabia muito pouco sobre A Coruña. A começar pelo nome. Conhecia por La Coruña, até que o internauta Galego me corrigiu (muito educadamente e carinhoso, ao contrário da Dulce Soledade, que me jogou 1000 pedras no último post sobre a Galícia sem que eu ainda tenha entendido seus motivos). La Coruña é em espanhol, A Coruña, em galego. Lembrava da cidade pelo time Real Club Deportivo La Coruña, onde alguns brasileiros já atuaram (Bebeto e Mauro Silva, seria?) e sabia que era uma cidade portuária. Mas desconhecia que lá ficava o maior porto da Galícia, o mais antigo farol em funcionamento do mundo – O Hércules -, construído no século II pelo imperador romano Trajano, uma cidade antiga lindíssima, também romana, praias propícias para o surfe e esportes náuticos e as famosas galerias galegas, marca da arquitetura da região e o que mais me chamou atenção.
Já as tinha visto em Pontevedra, onde o Juan, nosso guia espanhol quase brasileiro, havia me explicado que se tratava de uma construção típica da região. São sacadas fechadas por estruturas de vidro e madeira que tomam conta da fachada de prédios por um ou mais andares. Estes vidros colocados originalmente em residências de pescadores, encobrindo a vista para o mar - o que para eles era apenas o local de onde vinha seu sustento (assim como em Floripa as casas dos açorianos também eram construídas com os fundos voltados para a praia) – tinham o objetivo de manter a temperatura amena (contra o vento frio no inverno e o forte sol no verão) dentro de casa. Em A Coruña, elas estão por tudo, de vários tipos e maneiras, originais e estilizadas, encantadoras. Na Avenida da Mariña, tomam conta da orla, e por conta disso a cidade é também conhecida como Cidade de Cristal. O Rafael, guia galego que nos recebeu lá ainda acrescentou uma informação mais preciosa sobre elas: no início do século, eram construídas a partir das popas de navios que aportavam na cidade. Nunca teria imaginado, mas faz todo sentido, né?
Em Pontevedra, o primeiro exemplo de galeria que vi na Galícia
Com esforço e boa vontade dá para ver que sou eu ali na foto à esquerda na capa do jornal Faro de Vigo, né? Bem, se não der para ver, juro que não tô mentindo. Eu e o colega Silvio Giannini, colaborador da revista Gula e publisher da Time Out no Brasil, fomos clicados na abertura da Ferpalia, a feira de turismo da Galícia, e acabamos na capa do jornal. Quequeachô?
Hostal dos Reis Católicos é imponente na Praça do ObradoiroFoto: Tatiana Klix |
Ao longo dos caminhos que levam até Santiago de Compostela, os peregrinos são convidados a dormir em albergues públicos, que custam apenas 3 euros em sua maioria. Peregrino que é peregrino, com carteirinha, respeita a prática, uma das tradições milenares do caminho até o túmulo do apóstolo Santiago. Alguns dos locais, inclusive, ficam em antigos prédios reformados a partir da década de 90 dos chamados hospitais medievais, que recebiam e ofereciam tratamentos aos peregrinos nos séculos passados.
Nestas hospedarias, todo mundo é igual e deve respeitar uma série de regras: prioridade para quem está a pé, reservas proibidas, estada máxima de uma noite (salvo para quem estiver enfermo), luzes apagadas até as 23h etc (as normas na íntegra e a lista de albergues estão aqui, no site do Xacobeo).
Tudo muito simples até o ponto final, na deslumbrante Praça do Obradoiro, onde está a catedral, o Paço de Raxoi (sede da Câmara Municipal e da prefeitura) e o Hostal dos Reis Católicos, também um antigo hospital de peregrinos transformado em hotel de luxo. E que hotel. É ali que os mais afortunados (diárias custam a partir de 500 euros) e que se planejam bem (as reservas devem ser feitas com mais de seis meses de antecedência) descansam após a missão cumprida. Nada mal, não?
Edifício tem quatro pátios internos
Onde fica
Hostal dos Reis Católicos
Praça do Obradoiro, 1
Santiago de Compostela 15705
A imponente catedral, onde o apóstolo Santiago está enterradoFoto: Tatiana Klix |
Voltei, cheguei, já trabalhei hoje. Blogar em tempo real on the road dá trabalho, viu? Nos últimos dias na Galícia acabei optando por umas horas de sono a mais e posts a menos. Não é a mesma coisa, mas agora de casa vou me puxar para contar o fim da viagem, e mais do começo e do meio e do fim de novo, não necessariamente nesta ordem.
Recomeço por Santiago de Compostela, o destino mais famoso e procurado na região. Para chegar até ele, há muitos caminhos, que muitos percorrem a pé, outros de bicicleta. Entre os que peregrinam, há os que caminham um fim de semana, alguns, por 15 dias, enquanto os que fazem o trajeto mais tradicional, chamado de francês, andam cerca de um mês para vencer 800 quilômetros desde Roncesvalles.
No entanto, o turismo religioso (ou não) da cidade que atrai 4,5 milhões de pessoas por ano é também movimentado pelos que não encaram a peregrinação e chegam até lá de carro ou ônibus. Foi o meu caso. Sempre achei que ir até Santiago desta forma era uma fraude. Não que me imaginasse com um cajado na mão pelos pirineus, em nome de Santiago ou qualquer motivo místico e religioso. Mas, diria até semana passada, se me faltava este tipo de motivação, qual o sentido de ir até Santiago?
Bem feito, tive que me desfazer de mais uma pequena convicção nesta vida. Santiago, sua catedral, sua arquitetura medieval, seus prédios universitários são lindos, lindíssimos. E mais, é um lugar muito democrático. Pelas ruas, nas praças, em frente à catedral ou dentro dela, no comércio, nos cafés, convivem sem contradição - na minha percepção em algumas horas na cidade - os peregrinos cansados mas incrivelmente realizados, turistas por um dia maravilhados com a arquitetura, viajantes de segunda ou terceira visita tranqüilos aproveitando a atmosfera harmoniosa e a gastronomia da região, universitários galegos ou vindos de longe. Sem estranhamentos, pelo contrário, o que senti é um respeito incrível pela atitude de todos e uma cumplicidade entre pessoas com interesses diferentes convivendo e compartilhando de atmosfera tão interessante e mágica. Meu alto nível de ceticismo se redimiu. Deu até uma certa vontade de encarar a peregrinação!
Na praça em frente à Catedral, turistas e peregrinos convivem numa boa
Apareço aqui mais para dar uma satisfação. Já são mais de quatro da manhã e acabo de chegar ao hotel, após uma caminhada noturna pelo centro velho de Pontevedra. A cidade antiga e iluminada à noite é ainda mais lida que de dia. Principalmente pela sensação impagável de poder andar sem sentir medo. Antes, o dia que começou bem cedo, teve um passeio por A Coruña, a maior cidade da Galícia, uma janta num belo restaurante por aqui e uma esticada em um barzinho. Chega por hoje, né? Fico devendo melhores relatos e fotos, mas agora vou dormir, porque amanhã tem Santiago de Compostela pela frente!
Eu, no Farol de Hercules, em A Coruna. Antes da foto, subi até lá no topo da torre!
Falando em comida, experimentei hoje as típicas empanadas galegas. Me apaixonei. Hummm. Com mais tempo, vou procurar a receita e postar por aqui. Por enquanto, fica só a foto para dar o gostinho.
A foto ali em cima é da entrada do meu almoço de hoje, um encontro formal (até salto eu vesti, enquanto os meninos usavam gravata) oferecido pela Câmara de Pontevedra, após a inauguração da Ferpalia, uma feira para promover o turismo da Galícia. E mirem só como ficou o meu prato e o de todo mundo depois?
Tudo descascado com a mão. Me atrapalhei um pouco para tirar a carne do carangueijo, confesso, e os galegos aqui disfarçaram, mas acharam no mínimo curioso a pouca prática dos brasileiros com las manos. Uma das nossas anfitriãs, que me ajudou a quebrar a casca do carangueijo, chegou até a lembrar do filho de dois anos, mui acostumado com os mexilhões e que rapidinho sabe o que fazer com um prato como o que nos serviram. Rá. Cada um com suas habilidades e costumes, né?
Ah, tava muito gostoso.
A cidade de cerca de 80 mil habitantes que simpaticamente me hospeda é uma cidade velha, medieval. Seu principal atrativo é justamente esse - o centro velho. Caminhar, sentar num café ou restaurante, olhar algumas vitrines e em alguns momentos imaginar como era a vida em Pontevedra quando a cidade era murada, no século XIV, é muito gostoso e passeio que pode ser repetido várias vezes. O cenário galego tão preservado em sua essência faz bem. Me fez bem, pelo menos, ontem, no fim da tarde, na nossa primeira incursão em Pontevedra, e hoje pela manhã cedinho. Tomara que dê tempo para repetir a dose amanhã.
No fim da caminhada de hoje, ainda tive um contato com algo que é muito importante para a região: peixes e mariscos, que mais tarde vão à mesa (e colaboram muito com o bem-estar também!). Onde? No Mercado Público (Adoro Mercados!!). Olhando o pavilhão com tanta variedade de frutos do mar - e com tão poucas bancas com fiambres - dá para ter a noção de como eles e a pesca deles são importantes para a região.
Para chegar a Santiago de Compostela, o principal ponto turístico da Galícia disparado, há sete caminhos. Aquele famoso, que milhares de peregrinhos percorrem, enquanto fazem muitas bolhas nos pés, é o oficial, francês. Mas tem outros, cheios de histórias também. Pontevedra, onde estou, é cortada por um deles, o português, que sai de Porto. Hoje, sem querer, caminhei um pouquinho nele. Para alertar desavisados como eu, umas luzinhas azuis, pequeninhas, mostram no chão por onde ele passa, ou por onde peregrinos deveriam passar. Viu ali na foto?
Foto: Tatiana Klix |
Das primeiras descobertas, do primeiro dia, entre jatlag, deslocamentos e etc, está o albariño. Ou melhor, o vinho de albariño, um tipo de uva branca que eu não conhecia e que até onde eu sei não existe no Brasil. Pelo que aprendi hoje, é um vinho bem popular aqui (95% da produção) e uma uva bastante cultivada em Portugal também.
Olha, não entendo quase nada de vinhos (o suficiente para comprar vinhos de R$ 15, R$ 20, no mínimo), mas posso dizer que adorei. Hoje, fomos no conselho regulador Rias Baixas, uma organização que trabalha para manter a qualidade do vinho de 205 adegas da região. Aprendi um bocado de coisa sobre o albariño, principalmente a beber o vinho e gostar dele. Amanhã vamos a umas adegas. Ou seja, voltarei a esse assunto, com certeza.
Histórias, dicas, lembranças e planos de viagens para quem adora passear por aí (e depois voltar para casa). Por Tatiana Klix
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