Em 1997, exércitos da ONU asseguravam paz no bairro Bascarsija em SarajevoFoto: Tatiana Klix |
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Batata. É tocar a música Pride (In the name of Love) e eu lembro de Sarajevo. Não apenas lembro, mas sinto um pouco do êxtase que foi estar no estádio Kosevo no dia 23 de setembro de 1997, quando o U2 era a primeira banda a apresentar um grande show, o Popmart, na Bósnia, depois da guerra que a tornou independente da Iugoslávia. No palco, posicionado em uma das goleiras, Edge, Adam Clayton, Larry Mullen Jr e Bono emocionadíssimos (o vocalista chegou a perder a voz no início do show) embalavam corações e mentes enquanto as arquibancadas de um lado estavam lotadas por soldados das forças de paz da ONU e de outro por civis de todas as etnias dos Bálcãs, que experimentavam depois de quatro anos de isolamento e violência como era se divertir e celebrar a vida sem brigas ou confusões. E euzinha, na pista, fazia alguma noção de que estava fazendo parte de algo que era bem mais que um show legal do U2, o que já seria bom demais.
Ontem, o que me fez lembrar desse momento épico e cantarolar "in the name of love..." foi a lista das sete maravilhas de Sarajevo, divulgada pelo Bureau Internacional de Capitais Culturais. Um filminho passou na minha cabeça (ai, tô ficando velha) e nele estavam não apenas o U2 (a maior maravilha de Sarajevo na minha experiência) mas tudo o que aconteceu nos quatro dias em que fiquei na cidade. Hospedada na casa de uma família sérvia e moradora de Sarajevo, o que mais me marcou não foi a beleza e os destaques culturais da cidade, mas as seqüelas da guerra. Na época, fazia um intercâmbio em Novi Sad, na então Iugoslávia (atual Sérvia), e tive esta oportunidade a convite de um amigo e colega de dormitório que iria visitar os pais e de quebra assistir ao show. No apartamento da família, tinha marcas de bala na parede e vidraças quebradas, assim como em toda a cidade havia crateras provocadas por bombas no chão, construções em ruínas e vários avisos de "Cuidado, minas, não pise na grama".
Militares - aqueles que também foram ver o U2 - ocupavam as ruas com metralhadoras na mão. Por receio de sermos parados pelas forças de paz ou provocar desavenças entre a população local e de maioria muçulmana - o meu amigo Dorje era sérvio - falávamos baixo e evitávamos chamar a atenção ou dizer que estávamos vindo de uma região sérvia. A cidade era dividia em duas áreas - sérvia e bósnia-croata - e para atravessar a linha de divisa, havia barreiras policiais.
As religiões muçulmana, ortodoxa e católica - mote de várias guerras nos Bálcãs antes e depois da que se passou na Bósnia na década de 90 - estão presentes na paisagem da cidade pela antiga igreja ortodoxa (uma das maravilhas), a catedral católica e as várias mesquitas que se avistam de qualquer lugar. Aliás, nos cinco horários diários para a oração, se ouvia o som do chamado para a culto (adhan).
Mais de 10 anos depois, fico feliz em saber que um lugar que sofreu tanto se mobilizou para escolher suas maravilhas. Elas já estavam lá em 1997, e mesmo com o impacto da destruição e da frágil paz então vigente, era possível perceber os atrativos da cidade. Na parte central e antiga (Bascarsija) a população não se mixava para a tensão (ou até aproveitava o fim de uma tensão muito maior) e lotava cafés e bares muito charmosos. À noite, muita gente circulava pelas ruas, que são cheias de prédios antigos e grandiosos, na época muito deteriorados, indícios representativos de uma história também glamurosa no império austro-húngaro ou otomano.
Deste povo de muita fé, mas dividido, Bono se despediu no fim do show com um “God bless you”. Que deus será? Motivada por minhas lembranças e para escrever este post, googlei hoje por informações de Sarajevo. Não tem muita pouca coisa na web (em português e inglês, pelo menos), mas por alguns testemunhos que li, as marcas da guerra, embora ainda existentes, são bem menos agressivas hoje e Sarajevo é cada vez mais um lugar fascinante para visitar, embora a convivência das diversas etnias de religiões distintas do país (bosnia, croata e sérvia) ainda não seja a de um povo unido. De longe, resta torcer para o espírito do show de 1997 realmente tomar conta da população.
Cidade é cercada por morros, de onde os sérvios atacavam durante a Guerra da Bósnia
Agora, enfim, as maravilhas:
1 - Bairro antigo de Sarajevo (Bascarsija)
Foto merkwuerdig, flickr
2 - Complexo da mesquita Begove
Foto steffen42, flickr
3 - Casa de Hadzi Sinan
4 - Complexo da mesquita Careve
5 - Biblioteca Nacional
6 - Mesquita Ali-Pasina
Foto steffen42, flickr
7 - Igreja Ortodoxa antiga
***
E por fim, um trecho do show de 1997 em Sarajevo:
Histórias, dicas, lembranças e planos de viagens para quem adora passear por aí (e depois voltar para casa). Por Tatiana Klix
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