Para guardar na lembrança!Foto: Jaqueline Morais Iwasaki |
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De tudo que vi e aprendi nestes 14 dias em que fiquei morando com dona Yasue na colônia japonesa de Ivoti – além de histórias super legais que estarão na reportagem especial que a versão impressa de Zero Hora está preparando –, uma das coisas que vou levar comigo é bem pessoal: uma avó para chamar de minha. Pois é assim que dona Yasue se refere a mim, como uma neta. E é assim que eu vou lembrar dela. No início, um encontro meio acanhado, desconfiado... depois, longos bate-papos sobre tudo, sobre o passado, sobre o presente, sobre boas lembranças. Minhas e dela. Dona Yasue se empenhou em me mostrar nestas duas semanas os costumes e a força da tradição japonesa. Da alimentação à religião. Posso adiantar que a colônia realmente é um pedaço do Japão em terras gaúchas. Lá se fala japonês, se vive da maneira nipônica e se preserva as raízes com a força de uma rocha. Aos olhos de uma forasteira da colônia como eu, que apesar de ter os mesmos laços com a terra do sol nascente, foi um encontro com as origens. Pessoalmente gratificante. Convivi com a comunidade, que me recebeu de braços e coração abertos. Participei das atividades e, aos poucos, me tornei um pouco parte da vida deles em razão da convivência. Minha presença já não era estranha a eles, e as atitudes passaram a ser espontâneas, soltas. A experiência me deu a oportunidade de observar (e bem de perto) os imigrantes e descendentes de japoneses e me fez ganhar novos amigos e uma avó, a oba-chan Yasue. E como não se apaixonar por uma avozinha doce, que mesmo sem me conhecer, me tratou de maneira tão gentil? E é assim que eu vou lembrar dela. Antes da despedida, ela me fez prometer voltar para uma visita. Com meu retorno, chega ao final o Diário de Ivoti, que tive o maior prazer em escrever. Mas as meninas, Anik e Denise, continuarão trazendo novidades e notícias relacionadas à cultura japonesa. Espero que tenham gostado de dividir comigo as experiências vividas na colônia e tenham se sentido um pouco netos da dona Yasue, como eu me senti. Quem quiser conversar um pouco mais sobre a colônia japonesa de Ivoti, pode me escrever! O e-mail é jaqueline.morais@zerohora.com.br Um abraço a todos!
Foto: Jaqueline Morais Iwasaki |
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Os preparativos para a apresentação das danças japonesas em Ivoti vocês já tinham acompanhado aqui no blog. Hoje foi o grande dia! Todas usaram quimonos e fizeram uma apresentação belíssima, cheia de tradição. Aos poucos, o público foi chegando e acabou lotando o local, formando uma platéia atenta e interessada naquela dança delicada, substituída em seguida por tambores e baquetas. Foi tudo perfeito, como não podia deixar de ser. Os japoneses, conhecidos pela busca da perfeição, foram bem representados pelas oba-chans da colônia. Impecável. Confira alguns momentos da apresentação:
Apesar de dona Yasue saber que minha estadia aqui na casa dela tinha data para acabar, ontem disse a ela que estava chegando a hora de ir embora. Brinquei dizendo que agora ela ia ter sossego, não ia ter uma repórter perguntando o tempo inteiro.
A oba-chan ficou quietinha por um tempo e começou a chorar.
Me apertou o coração.
Todos os dias, às 17h, a NHK (tv pública japonesa) transmite o campeonato mundial de sumô, uma verdadeira luta de gigantes. Dona Yasue não perde um dia. E torce para os japoneses da competiçao como se estivesse lá. Mas teve um dia que ela se decepcionou com os coterrâneos. A luta valia 200 mil ienes, o equivalente a US$ 20 mil. Era entre um japonês e um jogador de outro país, que não lembro qual. Ao dar início ao ataque, com uma dona Yasue ansiosa como espectadora, aconteceu o pior. A luta durou menos de cinco segundos. Cinco segundos! E ela pulou: - Mas que japonês fracote! E desligou a televisão. No outro dia, voltou a assistir o evento. Só escutei um grito dizendo hataki komi! Hataki komi é um golpes mais legais que pode ser aplicado, segundo ela. Agora, cada vez que eu vejo que ela diz alguma coisa sobre a luta, eu grito: - Hataki komi!!!!!!!!!!! Ela se diverte.
Foto: Jaqueline Morais |
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Para garantir que tudo saio perfeito na apresentação de amanhã, as mulheres da colônia ensaiaram hoje pela última vez.
Passaram mais de duas horas treinando a percussão nos bambus.
Ao final do ensaio, pergunto para dona Yasue se ela tinha gostado e ela me responde:
- Foi bom, todas já sabem direitinho a coreografia.
E ressalta:
- Hoje estou cansada, bati forte demais.
E ela tem 72 anos... mas a disposição é de dar inveja a muitas jovens de 18 anos. Agora, por exemplo, mal chegou em casa e já está na cozinha preparando o jantar.
Vestindo camisas japonesas, elas apresentaram aquela dança da guarda nipônica, do tempo dos samurais, que já havia contado aqui no blog. Uma graça. Todos compenetradíssimos e sorrindo para as dezenas de câmeras que disparavam na direção deles. Muitos até entoavam junto a canção japonesa. Até a bandinha alemã que estava na festa parou para ver.
Foto: Jaqueline Iwasaki
Além da produção que contei no post abaixo, hoje foi dia das crianças se apresentarem na Festa do Mel, Rosca e Nata de Ivoti.
Foto: Arquivo pessoal |
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Hoje fizemos a última produção de fotos para o especial que a Zero Hora impressa está preparando para celebrar o Centenário da Imigração Japonesa no Brasil. Visitamos dois produtores de flores aqui da colônia, com estufas imensas cheias de flores lindas. Um deles me explicou que tivemos sorte, que com o calor, milhares de flores desabrocharam nesta manhã. Não resisti e tirei uma foto. Essa vai para um porta-retrato lá em casa.
Baquetas batendo em bambus produzem o som característicoFoto: Jaqueline Iwasaki |
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Além do gateball, hoje foi dia das mulheres ensaiarem percussão. O rufar de um tambor faz a marcação de uma batida ritmada de baquetas em bambus imensos, que produzem um som tipicamente japonês. O som segue uma música nipônica, que pouco se escuta, devido ao som produzido pelos bambus. É alto o suficiente para se escutar da quadra de gateball, a uns 200 metros dali. — Chegou o intervalo do ensaio — diz uma oba-chan do meu time ao não escutar mais as batidas. É muito bacana. A apresentação também ocorrerá no sábado, assim como as danças japonesas. Confiram um pouquinho do ensaio.
Foto: Arquivo pessoal |
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Tcharan!!! Surpresa!!! Viram só a evolução? Esta aí da foto sou eu, na minha primeira partida de gateball. Vestida a caráter, joguei dois tempos inteirinhos e olha, pela alegria das oba-chans em cada jogada que fazia certo, acho que fui aprovada. Imagino que não tenha ajudado muito, mas atrapalhar, acho que não atrapalhei. Meu time ganhou a primeira partida! Em seguida, chegou bem mais gente para jogar. Aí acabei desistindo. Parei antes de começar a fazer fiasco. Mas foi divertidíssimo! E elas, com toda a atenção que cabe às avós, me ensinaram tudo com toda a calma do mundo. E me convidaram para jogar de novo.
Os bastões usados para a dança têm guizos. Foto: Jaqueline Iwasaki Hoje foi dia de preparativos e mais treinamento. Os bastões utilizados durante a coreografia têm guizos nas pontas e marcam os movimentos. A melodia é suave, e os passos, delicados. E este foi só o ensaio. Quer ver mais? A apresentação delas — lindas de quimono —, é no sábado, às 14h, aqui em Ivoti.
Já faz alguns meses que dona Yasue e as amigas ensaiam uma dança japonesa para uma apresentação em Ivoti, na Festa do Mel, Nata e Rosca, que começa na quinta-feira.
A dança que será apresentada se chama Umiwo Watate Hakunen Sai, comemorativa aos Centenário da Imigração Japonesa no Brasil. Na semana passada, elas utilizaram um dvd com mulheres dançando. Nesta semana, só a música. Estão todas afiadíssimas.
Foto: Jaqueline Morais Iwasaki |
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Uma das artes mais conhecidas do Japão é o origami. Aquelas dobraduras de papel que podem formar pássaros, cachorros, pingüins, enfim... o que a imaginação (e o conhecimento da técnica) permitir. Nesta tarde, uma das atividades da escola de japonês das crianças foi fazer origami. Com a ajuda da professora Teruko Takada, que chegou ao Brasil em 1976 e hoje, além da ensinar a gurizada da colônia, dá aulas de Língua Japonesa na Universidade de Caxias do Sul, eles fizeram lindos pássaros. O meu não ficou tão bonito assim, mas praticando, segundo ela, fica cada vez melhor. Mas não são só coisas pequenas que se pode fazer com o origami. Dêem uma olhada na delicadeza de trabalhos feitos com a técnica. Uma maravilha. Eu, por hora, fiquei contente com o meu pássaro. Ele bate as asas.
Fotos: Adriana Franciosi
Se tem coisa que é indiscutível para a família Ozaki, é a questão do idioma. Aqui, português só se fala comigo. As crianças, Eli e Fumi, só falam japonês com a oba-chan. Se eles falam em português, ela responde em japonês. É sempre a mesma coisa, e com todas os pequenos da colônia. Só ela sabe o esforço de tentar falar comigo sem atropelar as palavras. Porque o japonês sai fácil, com desenvoltura. O que percebo é que já a entendo bem melhor que no primeiro dia. E, confesso, o idioma da terra do sol nascente já não me é estranho aos ouvidos, mas não arrisco muito. No máximo um ohayo gozaimasu, oba-chan! no início do dia.
Dona Yasue e sua amiga, Haru Amélia YanoFoto: Jaqueline Morais Iwasaki |
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Dona Yasue tem muitas amigas aqui na colônia. Hoje foi dia de visitar uma delas. A casa de Haru Amélia Yano, nissei vinda de São Paulo e moradora da colônia, fica a poucos metros da casa da oba-chan. Além de amiga, foram companheiras de viagem. Em uma ida ao Japão, passaram três dias na Flórida, nos Estados Unidos. A estadia na terra do Tio Sam rendeu a elas histórias engraçadas, como a que me contou dona Haru. Estavam elas passeando pelas ruas do lugar quando um artista de rua vestido como Charles Chaplin pegou uma dona Yasue distraída pelo braço. Ela nem percebeu, achando que era o marido. Andou assim por uns bons metros e tomou um susto quando olhou para quem a acompanhava. Teve também a história da água, em que elas passaram um trabalhão (e sede) para encontrar. Pela dificuldade da língua - a mesma que eu passo por estes pagos -, não encontraram o local, achado pela filha de dona Haru em menos de cinco minutos. Fora isso, o papo se estendeu para as minhas trapalhadas em terras nipônicas aqui em Ivoti. A oba-chan e a amiga se divertiram. Tudo em japonês.
Dona Yasue cumpre um ritual diário e respeitoso de orações. Além de agradecer, ela reza pelo marido, Tadahiko Ozaki, que morreu em 2007. Junto ao nome, escrito em japonês talhado em uma placa de madeira que fica em um oratório, ela acende uma vela e incenso.
Duas vezes por dia, de manhã e à noite, ela pára em frente ao local e reza em silêncio. Às vezes suspira. As memórias, me contou a oba-chan, são as melhores.
Me disse que o marido gostava muito de viajar e com ele conheceu diversos lugares do Brasil. Lembra das viagens a Gramado e a São Paulo, onde esteve mais de 20 vezes. Segundo ela, o marido gostava muito de dirigir e sempre levava seus convidados em passeios de carro pela colônia.
Pela foto dele, que fica junto ao oratório, e pelas histórias que me foram contadas, seu Tadahiko Ozaki era um senhor tão amável quanto ela. E feliz também.
Foto: Jaqueline Morais |
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Acabei de voltar de mais uma partida de gateball! Hoje, ao contrário da primeira vez, entendi um pouco de como funcionam as jogadas. Claro que tive ajuda e foi bem mais fácil. O jogo é estratégico, cheio de táticas. Não é só ir lá e fazer a bola passar pelos arcos presos ao chão. E elas se divertem. Elas e eles, porque hoje havia homens jogando também. A foto que ilustra este post foi tirada no intervalo do jogo, destinado ao chá e algumas comidinhas. No entanto, olhem quem surgiu na partida. Esse aí embaixo é o Mateus Itirô Sato, de cinco anos, filho do Fábio e da Iuri, que moram aqui na colônia. Assim como os outros, trouxe seu taco para jogar e me ensinou como se faz. Na próxima quarta-feira, dia de gateball novamente, vocês terão uma surpresa.
Foto: Adriana Franciosi |
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Fartura na mesa parece ser uma regra aqui na casa da dona Yasue. Todos os dias, me assusto com a quantidade e variedade de pratos servidos. Como eu já havia falado em outro post, o cardápio sempre inclui comidas japonesas. Sempre. Depois de uma semana, já experimentei coisas que antes nem chegava perto e me habituei com o chá verde. Mas este, só depois das refeições, não durante. E olha que comida japonesa às vezes dá trabalho de fazer... não é como aquelas massinhas que só se coloca água quente, mexe um pouquinho, e está pronta. Exige preparo, mistura, variedade e às vezes técnica, como o sushi que você vê aí na foto, que por sinal estava delicioso. E quanto à fartura, este prato era inicialmente só para nós duas. Claro que sobrou. Era comida para um Exército, como eu digo a ela todos os dias. Ela sempre dá risada e me diz que não sabe fazer pouca coisa, que é hábito. Eu já estava preocupada, pensando que ela fazia tudo aquilo para mim quando ontem, depois da maratona do karaokê, dona Yasue, um pouco cansada, me pergunta se eu gosto de lámen. Respondi que sim e fui atrás dela na cozinha. Lá estava ela, colocando água quente na massinha, mexendo um pouquinho e pronto. Um potinho para cada uma. Bem japonês também.
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Durante o Concurso de Canções Japonesas do Rio Grande dos Sul, em Ivoti, conversei com o Eduardo Hinohara, da Sociedade Nipo-Brasileira do Rio Grande do Sul (Nikkei), e ele me falou que os ingressos para o 22º Miss Nikkei RS já estão à venda.
Então, aí vai o serviço:
O que: 22º Miss Nikkei RS
Quando: dia 14 de junho, às 20h
Onde: no Clube Farrapos (Rua Professor Cristiano Fischer, 1331, em Porto Alegre)
Quanto: R$ 30 na hora e R$ 25 antecipado
São 16 candidatas concorrendo ao título.
Apresentações começaram pela manhãFoto: Adriana Franciosi |
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Desde ontem, a colônia japonesa de Ivoti se preparava para o 27ª Concurso de Canções Japonesas do Rio Grande do Sul, o famoso Karaokê.
Uma platéia observava atenta (assim como os jurados) as apresentações, e foram mais de 50. A sede da associação virou ponto de encontro de gerações. Havia imigrantes japoneses, nisseis, sanseis e visitantes de diversas cidades circulando por todos os lados atrás do melhor ângulo, da música, dos produtos japoneses que estavam à venda e, essencialmente, de cultura. Esta última, não só se via como se sentia. É notório o empenho deles em preservar as raízes japonesas. Sem falar do orgulho de pertencer à terra do sol nascente ou descender dela.
Paralelamente ao evento, alguns rapazes jogavam softball, um jogo bem parecido como baseball.
Foi como se estivesse no Japão, com uma infinidade de olhos puxados falando a lígua do Oriente com tal facilidade como se muitos, principalmente os mais velhos, nunca tivessem saído da terra natal. Uma verdadeira festa nipônica.
O cônsul do Japão em Porto Alegre, Haruyoshi Miura, também acompanhou o evento assistindo às apresentações, Junto com ele, estavam o presidente da Associação Japonesa de Ivoti, Padao Yoshioka, e o presidente do Enkyo (Associação de Assistência Nipo-brasileira do Sul), Sadao Suzuki.
Nota de rodapé: ao conversar com o senhor Ishikawa, enquanto fazia a cobertura do evento, descobri que ele veio ao Brasil no mesmo navio que meus avós. Falou da trajetória deles, dos lugares que passaram, e de dois dos meus tios, que nasceram no Japão. Já sabia que minha estadia aqui em Ivoti me aproximaria dos meus antepassados, mas não esperava que fosse tão perto assim. Foi emocionante.
Olha aí a Adriana com as crianças, curiosas com a câmera. Foto: Jaqueline Morais Iwasaki
Se dona Yasue tinha pensado que Zero Hora já havia desembarcado em sua casa, com a minha chegada na segunda-feira, hoje desceu a comitiva.
A fotógrafa Adriana Franciosi, minha colega de Redação, esteve aqui para fazer imagens da reportagem especial que estamos preparando para a edição impressa de ZH. Foi festa e correria ao mesmo tempo. Era um tal de vem pra cá, vai pra lá. Fala com um, conversa com outro...
- Temos de aproveitar a luz! Temos de aproveitar a luz! - dizia a Adriana se referindo ao sol que hoje nos presenteou com um belo dia.
Mas quem estava adorando a folia eram as crianças. E apesar do trabalho, deu tempo de sair um pouco da rotina e se divertir com os pequenos. A foto aí diz tudo. Olhem só a Adri mostrando para Eli e Fumi (netos de dona Yasue) a câmera fotográfica.
Melhor que isso, foi o Zulfe, nosso motorista, lendo historinhas para a Eri enquanto nos esperava acabar a produção. Integração total!
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Ontem, ao final da tarde, estava sentada na varanda da casa de dona Yasue escrevendo um dos post para o blog quando comecei a sentir um cheiro estranho. Era forte, de quase trancar a respiração certas vezes. Foi quando me dei conta do que era: gás de cozinha. Saí correndo e entrei assustada na casa para encontrar a oba-chan e avisá-la que um havia vazamento de gás de cozinha em algum lugar. E dos grandes. Foi quando ela teve um ataque de riso e me disse que o cheiro era da keda, uma espécie de árvore baixinha que se podar, parece um bonsai crescido. Quando as flores estão por desabrochar, ela exala este "perfume" característico. Pesquisei sobre esta árvore e não encontrei muitas informações. Dos males, o menor. Para mim, era um vazamento de gás de cozinha.
Na casa de Yasue, o canal mais visto é o NHK, da televisão japonesaFoto: Foto: Jaqueline Morais Iwasaki |
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Tenho assistido pouco da programação brasileira na televisão. Assim como a maioria das pessoas acompanham os noticiários e as novelas à noite, na casa da dona Yasue não é diferente.
A peculiaridade é que aqui o canal mais visto é o NHK, da televisão japonesa.
A Nippon Hoso Kyokai (NHK) é a tv pública no Japão e tem um pouco de tudo na grade de horários.
Agora há pouco, sentei ao lado da oba-chan para assistir a uma novela nipônica. Pela dificuldade da língua (que hoje lamento não ter aprendido na infância), não entendi absolutamente nada. Nem do enredo. Nem por gesto.
Mas observei que ficam aquém das super produções vistas em terras tupiniquins. Pelo menos neste quesito, os brasileiros ganham a disputa em tecnologia e investimento.
Foto: Reprodução |
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Lembranças e recordações do tempo em que morava no Japão fazem dona Yasue assumir um ar de nostalgia. Ela olha, lembra das colegas, e se diverte com as histórias que me contou só por cima, da farra e da alegria de viajar com os amigos.
Encontramos juntas a foto ao lado, da época em que estava no colégio e realizava viagens a cada final de ano. Esta, em especial, ficou marcada na memória dela como um das mais bacanas. E para mais longe de casa também.
A turma foi para Totigi-ken, ao norte de Tóquio, e visitou casas antigas, lindíssimas por dentro e por fora.
Aos 16 anos, dona Yasue não imaginava que o destino a levaria a outra casa lindíssima, mas no Brasil.
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Tem um quadro na parede da sala de dona Yasue que mostra um japonês imponente, vestindo roupas típicas. Perguntei quem era, e para minha surpresa (pensando que era alguém da família), era um samurai. A oba-chan me contou que no Japão, era costume ter um samurai que representava e protegia a região, e era tradicional também que as famílias tivessem uma foto dele em suas residências. Este aí da foto é Takamori Saigo, do lugar onde Yasue vivia, na ilha de Kagoshima, bem ao sul do Japão. Dizem que Katsumoto, o samurai líder do filme O Último Samurai (The Last Samurai, 2003), interpretado pelo ator Ken Watanabe, foi inspirado em Takamori. Depois de quase 50 anos em terras brasileiras, Saigo-san ainda figura na sala dela. Em lugar de destaque.
São hashis, os famosos palitinhos japonesesFoto: Foto: Jaqueline Morais Iwasaki |
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Fui surpreendida hoje pela dona Yasue... Conversávamos sobre o Japão, sobre a vinda dela para o Brasil e como foi toda a adaptação aqui. De repente ela salta da mesa da cozinha (que que se tornou nosso canto preferido para conversas e histórias) e volta com este presente lindo que aparece aí na foto. Ela me pegou de surpresa mesmo. São hashis, os famosos palitinhos japoneses, que aliás, ela usa para cozinhar tudo, até bife. É tudo com hashi. Mas estes que ganhei são decorados, que não dá nem para pensar em colocar na cozinha. De uma delicadeza só. ADOREI o presente. E como diria minha avó, dona Tomiko Iwasaki: - São lindos! E por favor, não usa isso no cabelo!
As mulheres usam camisetas e chapéus brancosFoto: Jaqueline Morais |
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DIÁRIO DE IVOTI Voltei agora há pouco da quadra de gateball aqui na colônia. Todas as quartas-feiras, dona Yasue se junta a outras senhoras para praticar. É como um jogo de taco, mas com regras bem mais rígidas. E sem correria. Hoje eram 10 pessoas. Elas se vestem quase sempre de branco, com chapéus da mesma cor. Os tacos são de alumínio, e as bolas parecem de bocha, mas menores. Me sentei na beira do campo e fiquei observando para tentar entender a didática do jogo. É bola pra cá, bola prá lá... tudo marcado por um contador digital afixado perto dali. Cada "tempo" tem 30 minutos. No início, tem de acertar um dos arcos afixados no chão. Todas tem de acertar. E são duas equipes: a branca e a vermelha. Lá pelas tantas, dona Yasue sentou ao meu lado e me perguntou se eu estava gostando. Eu disse que sim, que até já estava começando a entender o jogo. Foi quando eu disse: - O time branco está ganhando, não é? Ela me olha e diz: - Não. O vermelho está. Pronto, já não entendi mais nada. Na próxima quarta-feira tem mais. Até lá, vou pesquisar sobre o assunto e chegar mais "afiada" para a partida. Pelo menos para analisar as jogadas.
Foto: Jaqueline Morais |
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DIÁRIO DE IVOTI Além disso, o traço japonês também risca o cardápio diário. A matriarca não dispensa o missoshiro, uma espécie de sopa com tofu, um tipo de queijo de soja, que acompanha a mesa todo santo dia. Ontem o tofu acabou. Hoje de manhã, chegou mais queijo e moyashi (broto de feijão). A oba-chan me disse que fica muito bom na salada e durante o almoço de hoje me apresentou à iguaria. O almoço de hoje foi uma mistura da conexão Brasil-Japão. Teve moyashi, feijão, arroz e tempura (legumes e carne fritos com farinha de trigo). Assim, tudo misturado mesmo. Ainda sobre o supermercado, ao pegar uma garrafinha de Coca-cola de 600ml, ela olha pra mim e pergunta se eu gosto da bebida. Eu respondo que sim. Então, ela pega duas garrafas de dois litros para a semana e coloca no carrinho. Por mais que eu tente ficar quietinha e não interferir na rotina da dona Yasue, isso mostra que a minha presença afeta os costumes do lugar. Missoshiro para beber na primeira refeição. No segundo dia, um copo de Coca-cola geladinha. Hoje pela manhã, havia salame e queijo na mesa. Desconfio que seja somente para mim. Teve Um almoço da conexão Brasil-Japão: moyashi, feijão, arroz e tempura. Foto: Jaqueline Morais
Ontem fui com dona Yasue à cidade para fazer compras no supermercado. Ela compra de tudo, mas especialmente verduras e legumes.
Depois do colégio, as crianças vão para a escola de japonêsFoto: Foto: Jaqueline Morais Iwasaki |
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DIÁRIO DE IVOTI
Depois do colégio, os netos da dona Yasue vão pelo menos três vezes por semana para outra escola: a de japonês. E lá não freqüentam só os filhos de japoneses aqui da colônia. Crianças de outras etnias também circulam pela sala de aula.
Lá elas aprendem sobre a cultura e a escrita. Hoje, por exemplo, teve aula de dança e katakana (um dos três tipos de escrita japonesa). A dança que as crianças ensaiaram hoje é do tempo dos samurais. A professora Teruko Takada me explicou que quando os governantes saíam de um vilarejo ao outro, uma guarda ia à frente para sinalizar a chegada. Eles então iam realizando um tipo de dança, com passos marcados e um bastão, que era batido forte no chão, para mostrar poder.
As crianças fazem o mesmo, mas com cabos de vassoura.
Dona Yasue, com o filho Roberto e os netos Fumi e EriFoto: Foto: Jaqueline Morais Iwasaki |
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DIÁRIO DE IVOTI O dia de hoje foi muito especial para dona Yasue. No dia 13 de maio de 1960, ela desembarcava no porto de Rio Grande, no sul do Estado. Ela e dezenas de outros imigrantes que partiram do Japão em busca de uma vida mais tranqüila e, principalmente, com mais fartura. Dona Yasue criou uma família e vive na colônia japonesa de Ivoti, no Vale do Sinos. Na casa ao lado fica o filho Roberto, a mulher, Alitha, e os filhos Fumi e Eli Ozaka, que além dos nomes japoneses, têm nomes brasileiros" (Anderson e Leila), nunca escutados por aqui. _ Me chamam de Leila só na escola _ diz Eri, que pelo jeito prefere ser chamada assim. Ao se dar conta de que hoje fazia 47 anos da sua chegada ao Brasil, dona Yasue deu um sorriso e me disse: _ Barbaridade... E eu pensei: opa! Por mais que os costumes não tenham sido esquecidos, a gauchada teve influência também por estes pagos... Também pudera... já se foram 48 anos. Com filhos longe, filhos perto, netos longe, netos perto.
Depois da gafe, os sapatos ficaram na portaFoto: Jaqueline Morais |
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DIÁRIO DE IVOTI
Olá!
Como a Anik já havia falado, me junto às irmãs Suzuki para contar como é a rotina de uma família japonesa em terras gaúchas. Pelas próximas duas semanas, escrevo direto da colônia japonesa de Ivoti, no Vale do Sinos.
Já nas primeiras horas, a impressão que tenho é de reviver um pouco da história do meu passado por meio de costumes e peculiaridades. Logo na chegada, cometi uma gafe: entrei na casa da dona Yasue, a matriarca da família, sem tirar o sapato.
Não porque não sabia que devia fazer isso, mas porque realmente esqueci. Quando me dei conta e voltei à soleira da porta, a oba-chan (avó) sorriu como se tivesse visto a travessura engraçada de um neto e me serviu uma xícara de chá verde bem quentinho.
Essa é a dona Yasue, uma senhora simpática e paciente, bem como são os japoneses.
As irmãs Suzuki, jornalistas e netas de japoneses, apresentam aqui o que há de mais bacana, inusitado e relevante na cultura japonesa. Com muita informação e interatividade, mostram como os costumes nipônicos vieram se entremeando aos brasileiros em cem anos de imigração.
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